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Fenômeno nos EUA, roller derby avança no Brasil com exposição fotográfica e campeonato

Nathalie Folco, jogadora da Ladies of HellTown, liga paulistana de roller derby - Lucas Lima/UOL
Nathalie Folco, jogadora da Ladies of HellTown, liga paulistana de roller derby Imagem: Lucas Lima/UOL

Adriana Terra

Do UOL, em São Paulo

22/03/2012 11h00

Você pode não saber exatamente como funciona, mas já deve ter ouvido falar do roller derby. Esporte amador em crescimento, surgido nos EUA na década de 1930 e retomado, com mudanças, há pouco mais de dez anos, a competição de meninas sobre patins tem hoje adeptas em diversas partes do mundo.

No Brasil, em apenas dois anos já foram criadas quinze ligas, ou times, e a partir desta quinta-feira (22) uma exposição fotográfica sobre o tema ocorre em São Paulo. Para outubro deste ano também já está marcado o 1º Brasileirão de Roller Derby, campeonato sediado no Rio de Janeiro no qual garotas de onze ligas vão realizar treinos e jogos amistosos.

Os números do roller derby: No Brasil há 15 ligas amadoras em 13 cidades. Nos EUA, mais de 500. No mundo todo há mais de 1200 ligas em 38 países.

Isso mesmo, amistosos. Apesar da movimentação em torno do esporte, ainda não há jogos oficiais por aqui. “Existem muitas ligas no Brasil que ainda estão no comecinho. Não queremos excluir ninguém e acreditamos que esse formato [do Brasileirão, com treino e amistoso] será o mais proveitoso e inclusivo para todos os níveis de ligas”, explica Patrícia Correia, da liga carioca Sugar Loathe Derby Girls.

Ela conta também que ainda faltam árbitros no Brasil -- cada jogo de roller derby precisa de cerca de sete -- e que a ideia do campeonato é treinar pessoas para a função com um árbitro norte-americano, o Sugar Daddy, certificado pela WFTDA (Women's Flat Track Derby Association), a associação internacional do esporte em pista plana, cujas regras são seguidas por grande parte das ligas pelo mundo.

O fato de o Brasil ainda não ter jogos não tira a motivação das patinadoras, já que curtir e treinar parece ser o mais importante. Para saber mais sobre o esporte, predominantemente de meninas (garotos também jogam, mas o mais comum são as ligas femininas), acompanhamos um treino da Ladies of HellTown, a primeira liga de roller derby formada no Brasil. Em um domingo à noite na Vila Mariana, em São Paulo, cerca de vinte meninas se reuniram para patinar, bater papo e fazer simulações de jogos.

Como funciona
O roller derby como é jogado atualmente surgiu por volta de 2001 em Austin, no Texas, e funciona da seguinte maneira: dois times que atuam cada um com cinco garotas sobre patins quad, aquele com rodinhas paralelas, dão voltas em uma pista oval, inclinada ou plana (no Brasil há apenas o jogo na plana), com o objetivo de impedir a atacante do time adversário de furar o bloqueio, o pack. Há apenas uma atacante em pista para cada equipe, as demais meninas ficam no bloqueio. A pontuação é marcada com base nas voltas que a jammer, a atacante, dá sobre cada jogadora do bloqueio inimigo (veja no vídeo ao lado). Cada jogo, ou bout, tem uma hora de duração, dividida em dois tempos de trinta minutos. O bout é composto por várias rodadas, os jams, de dois minutos cada (na pista plana; na inclinada, são apenas 60 segundos).

Pelas características acima, este não seria muito diferente de outros esportes. Mas no roller derby há pequenas coisas que fazem toda a diferença. Por exemplo, os derby names, nomes "de guerra" que as meninas adotam baseadas em características de seu estilo de jogo ou de sua personalidade. Há, por exemplo, a Napalm Dash, a Mojo’n Jet e a Helligator entre as Ladies. Estes derby names podem ser adotados a partir do momento em que as meninas aprendem a jogar em todas as posições, segundo julgamento da liga a qual ela pertence. O nome é cadastrado em um site internacional (www.twoevils.org), para não haver repetições de derby names pelo mundo.

Outro detalhe é o nome da liga. Em São Paulo, além da Ladies of HellTown ("garotas da cidade inferno") existe a Gray City Rebels ("rebeldes da cidade cinza"), enquanto em Santos, no litoral paulista, há as Jellyfish Girls (“garotas águas-vivas”). O nome costuma ser em inglês, assim como os derby names. Cada liga tem também um logo, sempre bem estilizado -- muitos com pin-ups e caveiras.

  • Montagem / Lucas Lima/UOL

    Short com mãozinha, capacete customizado e meias estampadas no visual das 'derby girls'

Já o visual das meninas pode incluir elementos retrô, influências punk e new wave, ou ser uma mistura disso tudo e parte da criação de cada garota, ou da liga a qual ela pertence. Meias-calças estampadas sob shorts vintage de corrida, legging com hot pants de lamê, saia no estilo bailarina, pintura facial e maquiagem forte nos olhos estão nas produções das jogadoras. “Embora muitas ligas tenham uniformes, as meninas dão uma incrementada sempre", conta Beki Band-Aid, derby name da produtora Juliana Bruzzi, 31, fundadora da Ladies of HellTown.

"Roller derby é um esporte nerd!", diz uma das Ladies. "Os outros já têm todos os outros esportes!", argumenta, meio em tom de brincadeira. "É diferente de vôlei, por exemplo". De fato, os derby names, os nomes da ligas, o visual mais livre e o clima de "encontrinho de amigas" dos treinos demonstram que o esporte tem mais a ver com um estilo de vida do que apenas com preparo físico, treino e competição -- não que isso também não exista.

Roller derby no Brasil
Beki descobriu o roller derby pela internet em 2007, quando tinha acabado de retornar dos EUA, onde morou. De lá até 2009, ela foi reunindo informações e se organizando para formar uma liga em São Paulo, contatando meninas com interesse e descobrindo locais para treinar -- a marquise do parque Ibirapuera foi um dos primeiros espaços usados pelas patinadoras.

CORRIDAS E ENCENAÇÕES

O roller derby clássico surgiu na década de 1930 a partir de corridas de resistência sobre patins e passou por mudanças ao longo dos anos, chegando a ter aspectos de luta livre, como as encenações. A partir da década de 1970, o esporte nesse formato foi deixando de ser popular e voltou, renovado, a partir de 2000.

Após pouco mais de dois anos de existência, a Ladies of HellTown segue no estilo "faça você mesmo" que domina o roller derby, mas com bastante organização, incluindo um site cheio de informações e jogadoras que se dividem em funções como relações públicas e tesoureira -- as garotas racham os aluguéis da quadra onde treinam. Segundo Beki, o que é exigido das meninas é o comprometimento em participar dos treinos, ser parte da liga. Frequentemente, ela costuma reunir a equipe em sua casa para assistir a transmissão de jogos gringos pela internet (nos EUA há um campeonato organizado pela WFTDA).

Os treinos das Ladies ocorrem duas vezes por semana e incluem patinação, manobras e simulação de jogo. Sobre a profissionalização do esporte, Beki diz ficar em dúvida, já que profissionalizar seria bom para quem atinge um nível mais avançado, mas pode significar a perda desse caráter de diversão que o esporte tem, aponta outra jogadora.

  • Reprodução

    Brazilian Nut, ou Nanda, brasileira que joga em Nova York

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Tipo exportação
Em dezembro do ano passado, as brasileiras puderam ter contato com um lado mais profissional do roller derby na 1ª Copa do Mundo do esporte, realizada em Toronto, no Canadá. Equipes de treze países, incluindo o Brasil, participaram. Apesar de terem ficado apenas na 12ª colocação, à frente só da Argentina, grande parte das meninas viveu a experiência de enfrentar, pela primeira vez, um jogo de verdade.

Para formar a seleção, jogadoras das ligas nacionais selecionadas pelos técnicos daqui se juntaram a brasileiras que treinam no exterior.

Fernanda Corrêa, a Brazilian Nut, é uma dessas brasileiras que joga roller derby fora do país. Desde 2009, a carioca mora em Nova York, onde faz parte de uma das melhores ligas do esporte, a Gotham Girls Roller Derby. Uma entrevista no site da liga norte-americana diz que Fernanda se tornou uma inspiração para a crescente cena do roller derby brasileiro.

NA CULTURA POP

"Garota Fantástica" (2009) é um filme com direção de Drew Barrymore e Ellen Page (“Juno”) no elenco. O longa deu visibilidade ao esporte, com uma trama sobre uma adolescente que deixa para trás um concurso de beleza e parte para o roller derby. Outras referências ao esporte aparecem em clipes de Luscious Jackson (“Here”, de 1995) e The Breeders (“Fate to Fatal”, de 2009). Já o filme “Rollerball” (1975) cria um esporte fictício com base em características do roller derby.

Quanto custa jogar?
Por conta do esporte ainda estar em fase inicial no país, os equipamentos costumam vir de fora. Beki, que sonha em abrir uma loja para roller derby, conta que com cerca de R$ 700 é possível montar um kit completo importado de lojas especializadas nos EUA -- o que, na opinião da jogadora, vale mais a pena do que comprar improvisado no Brasil, por serem acessórios próprios para o esporte, que duram mais.

O preço é salgado, mas o equipamento não é pouca coisa: além dos patins, inclui joelheira, munhequeira, cotoveleira, capacete e proteção bucal, tudo para evitar que as tantas quedas que ocorrem na partida prejudiquem as garotas. Os tombos, no entanto, são inevitáveis e a dica é saber cair para se machucar menos. No treino que o Uol acompanhou, três jogadoras estavam paradas por terem se machucado e ainda estarem em recuperação. Beki não concorda, porém, com a fama de violento que o roller derby tem. "Qualquer esporte pode ser violento. Até dançar balé pode ser violento, com meninas vomitando para não engordar", compara.

 


Exposição fotográfica “Roller Derby”
Quando: abertura dia 22/3 (quinta-feira), às 19h
Onde: Fnac da av. Paulista, 901. Tel.: 0/xx/11 2123-2000

1º Brasileirão de Roller Derby
O evento terá treinos, jogos amistosos entre as 11 ligas participantes, além de intensivos de arbitragem com o novaiorquino Sugar Daddy.
Quando: 12, 13 e 14/10
Onde: Rio de Janeiro (local a definir)