Itajaí, em Santa Catarina, desbanca capitais e confirma tendência da vela por cidades pequenas
Nos próximos dois anos, a cidade brasileira mais importante para a vela mundial está bem longe do circuito tradicional. Capitais como Rio de Janeiro ou Salvador foram preteridas por Itajaí. A cidade catarinense, dona do segundo maior porto brasileiro e com pouco mais de 180 mil habitantes, deve receber três das maiores regatas de oceano do planeta.
A primeira será a Jacques Vabre. A regata transatlântica sai da França no início de novembro e desembarca em Santa Catarina no fim do mesmo mês. A segunda é a Volvo Ocean Race, a mais importante regata de volta ao mundo. Nesta semana, a organização confirmou a passagem pela segunda edição seguida no local. A terceira ainda está em negociação e, segundo apurou a reportagem do UOL Esporte, é uma das mais importantes do mundo e chegaria ao Brasil entre 2013 e 2015.
Limpeza das praias de Itajaí durante a parada da Volvo Ocean Race em 2012: cidade ganhou prêmio internacional pela área de sustentabilidade, que envolveu reciclagem e limpeza de praias
A Clipper World Race é a que mais se aproxima desse cenário. É uma regata de volta ao mundo com paradas, nos mesmos moldes da Volvo Ocean Race, mas com velejadores amadores. A organização constrói 12 barcos, contrata 12 comandantes e treina amadores que se inscreveram pela internet para as tripulações. Os barcos são patrocinados por cidades ou países, detalhe que também aproxima a competição de Itajaí: o prefeito da cidade, Jandir Bellini, não esconde a vontade em montar uma equipe para dar a volta ao mundo.
A empolgação catarinense é fruto de um fenômeno mundial que atinge a vela: a modalidade está apostando cada vez mais em cidades menores, onde a acolhida é calorosa, deixando as cidades grandes de lado. "Isso começou na edição 2008/2009 da Volvo, com a cidade de Galway. A receptividade que os velejadores tiveram na cidade foi surpreendente. E em Itajaí, no ano passado, o fenômeno foi ainda maior. Os mecânicos e até os faxineiros das equipes davam autógrafos. Isso é sensacional", explicou Tom Touber, diretor de operação da Volvo Ocean Race. "A Volvo é uma competição global, mas em Itajaí teve, também, um toque local, graças a mobilização de toda a população. Por todo o mundo velejadores falaram sobre a parada brasileira", completou.
A recepção nas cidades pequenas é o maior exemplo, mas não o único que explica o novo modelo que a vela está adotando. E Itajaí é um modelo para isso. Se no Rio de Janeiro, nas paradas de 2004/2005 e 2008/2009, pouca coisa mudou, em Santa Catarina os avanços foram marcantes. A parada serviu de impulso para que a Prefeitura criasse uma nova área de eventos, reformou um pavilhão existente e criou uma sede para uma escola náutica. Para os próximos anos, um novo píer está sendo construído e a reforma do aeroporto de Navegantes, que fica do outro lado do rio Itajaí, pode ser antecipado por causa da parada da Volvo.
Além disso, no ano passado um grande programa ambiental foi feito para acontecer durante a estada dos velejadores na cidade. Mutirões de recolhimento de lixo em praias e no Rio foram feitos, um programa de reciclagem e compensação de emissão de poluentes foi adotado e a cidade acabou premiada pelos esforços.
AS REGATAS DE ITAJAÍ
Mais importante regata de volta ao mundo, a Volvo Ocean Race foi a primeira a descobrir Itajaí, em 2011. Para a edição 2014/2015, a competição volta para o litoral de Santa Cataina. A Volvo é uma regata de volta ao mundo com paradas, com tripulantes. Para 2014, os barcos terão 65 pés, menores do que nas edições anteriores, e contarão com sete tripulantes (ou dez, em tripulações exclusivamente femininas).
A outra regata, a Jacques Vabre, é em solitário, com diferentes categorias. A principal característica é o trajeto, que sai da França cruzando o Atlântico.
Economicamente, o impacto também foi enorme. Segundo a consultoria internacional Price Waterhouse e Cooper, a Volvo movimentou R$ 28 milhões diretamente e R$ 43 milhões indiretamente na região. Se esses números podem ser descartáveis em uma cidade como o Rio de Janeiro ou São Paulo, são indispensáveis para Itajaí, que conta com um orçamento anual de pouco mais de R$ 400 milhões, somando a verba da Prefeitura e do porto.
"Em 2010, quando aceitamos o desafio, não sabíamos o que viria pela frente. No entanto, tínhamos a certeza de que contaríamos com a garra e determinação de nossa população. E foi o que aconteceu. Itajaí se uniu em torno de um objetivo comum e realizamos uma das melhores paradas da regata. E em 2015 será ainda melhor", falou o prefeito Bellini.
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