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Fãs abrem o bolso para jogar com Sampras e surfar com Slater; saiba como

Empresário desembolsou US$ 68 mil para jogar tênis com Pete Sampras - George Nikitin/AP Photo
Empresário desembolsou US$ 68 mil para jogar tênis com Pete Sampras Imagem: George Nikitin/AP Photo

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

24/07/2013 14h00

Qual é seu grande sonho? Se você respondeu qualquer coisa relacionada ao esporte, saiba que a concretização pode não estar tão distante. Inspiradas pelo aumento do contingente de endinheirados no Brasil, agências têm investido em projetos para promover experiências relacionadas ao esporte.

A lista de desejos realizados inclui exemplos como jogos de tênis contra Pete Sampras e Gustavo Kuerten, um jantar na casa do ex-jogador Pepe, uma viagem para surfar com Kelly Slater e a possibilidade de reunir amigos para bater uma bola na Bombonera, em Buenos Aires. Tudo isso por valores que chegam até a US$ 68 mil por pessoa, com pacotes cheios de brindes e mimos.

Todas essas agências têm em comum a preocupação com os detalhes. Como lidam com um público de alto poder aquisitivo, as empresas investem em projetos customizados e cheios de surpresas.

É o caso da Jazz Side. Criada em 2009, a agência está alicerçada na ideia de “realizar sonhos”. Um dos pedidos feitos à empresa, oriundo de um brasileiro, foi um jogo de tênis contra o norte-americano Pete Sampras.

O empresário brasileiro desembolsou US$ 68 mil para enfrentar o norte-americano, ex-número 1 do ranking da ATP. O duelo aconteceu na quadra central da instituição de ensino Ucla, em Los Angeles, e até o placar foi combinado. “Ele não ganhou porque seria impossível, mas precisávamos de algo que o cliente pudesse contar para os amigos e que funcionasse como uma história emocionante”, explicou Pedro Opice, sócio da Jazz Side.

Os “sonhos” que chegam à agência permeiam vários segmentos. Um cliente quis fechar a Torre Eiffel para fazer um pedido de casamento, por exemplo. Outro solicitou uma experiência completa de James Bond, com direito a missões, viagens e roupas no estilo do agente secreto. Para muitas pessoas, porém, nada é mais valioso do que uma experiência relacionada ao esporte.

“O perfil não é diferente do restante dos clientes da agência. São pessoas apaixonadas, mas esse grupo é apaixonado por esporte. São caras que querem coisas inacessíveis, que não são vendidas”, disse Opice.

Um dos pedidos mais recentes que a agência recebeu é uma viagem para a Indonésia. Fanático por surfe, um brasileiro quer reunir amigos e percorrer o país pegando onda, mas espera ter a supervisão de Kelly Slater, dono de 11 títulos mundiais da modalidade. Cada um dos integrantes da trupe deve desembolsar US$ 15 mil.

O pedido mais recorrente que a agência recebe sobre esporte, porém, é bem menos ativo. A empresa tem um índice maior de brasileiros interessados em acesso exclusivo a eventos. Há casos de pessoas que pagaram US$ 8 mil ou US$ 9 mil para ver a decisão do US Open de tênis neste ano.

“Nós vendemos um espaço num box ao lado da quadra, junto com as famílias dos jogadores. Em casos assim, sempre procuramos criar algo diferente para o pacote. Nós descobrimos que o cara que comprou é fã do Roger Federer, por exemplo. Pegamos uma bolinha autografada pelo Federer e deixamos em cima da cama do cliente. Ele viu o presente quando chegou ao hotel”, relatou o sócio da Jazz Side.

O contato com ídolos do esporte também está entre os itens mais buscados na agência Futebol Experience (FXP). A empresa levará um grupo para ver a decisão da Copa Libertadores deste ano, entre Atlético-MG e Olimpia, que será realizada no Mineirão. As pessoas serão recebidas no hotel pelo ex-jogador Reinaldo, um dos maiores ídolos da equipe brasileira. A van que os levará até o estádio terá telas que mostrarão imagens sobre os principais feitos do centroavante. Todos assistirão à partida em um camarote.

O grupo que será ciceroneado por Reinaldo terá 30 pessoas e foi formado por uma empresa. O pacote para o Mineirão, com um custo individual superior a R$ 4 mil, será parte de uma ação de relacionamento com executivos.

O pacote faz parte de uma mudança na própria FXP. A empresa foi criada em 2006, quando dois amigos perceberam uma carência no setor de turismo de alto padrão em São Paulo: a cidade atraía um contingente muito grande de executivos, mas não oferecia a eles um serviço vinculado ao esporte.

“Depois de um dia inteiro de trabalho, um estrangeiro não podia ver um jogo de futebol em São Paulo. Havia uma série de empecilhos, como a falta de transporte e serviço adequados. Nós oferecemos essa ideia para vários hotéis da cidade, mas quem se interessou mais foi o setor de alto luxo. O primeiro a fechar conosco foi o Fasano”, contou Pedro Pugliese, sócio da FXP.

Dois anos depois da fundação, a agência começou a direcionar os negócios para iniciativas voltadas a empresas. A partir disso, a FXP se concentrou na criação de experiências sobre futebol para executivos de alto padrão.

A empresa já fez projetos similares ao de quarta-feira, com a presença de ídolos ao lado de um grupo de torcedores em um jogo. Mas também já criou ações como clínicas de faltas com ex-atletas.

Nesse caso, a experiência inclui dicas sobre cobranças de faltas, demonstrações e até uma palestra do ex-jogador. Os clientes recebem brindes personalizados e autógrafos, e o custo individual fica perto de R$ 4 mil.

Outros clientes da agência pediram para viajar no mesmo avião de um time, trabalhar como comentarista por um dia em uma rádio ou colocar o filho entre as crianças que entram em campo ao lado dos jogadores. Houve um cliente que quis fazer um jantar na casa de Pepe, ex-jogador do Santos. O encontro com o ídolo alvinegro deve ser um presente de Dia dos Pais.

“Esse tipo de projeto depende muito do perfil do cliente. Nós procuramos fazer algo bem exclusivo, bem personalizado. Se é um cliente mais saudosista, por exemplo, ele pode preferir uma visita ao Museu do Futebol com o Carlos Alberto Torres. Se for um cara um pouco mais novo, pode querer bater faltas com o Zico ou fazer algo com um jogador que esteve na Copa de 1994”, disse Pugliese.

É esse tipo de cliente que a agência DFS Gol pretende atingir a partir do segundo semestre deste ano. A empresa alinha detalhes para lançar em parceria com o Boca Juniors um pacote para que brasileiros endinheirados disputem partidas amadoras na Bombonera, estádio da equipe argentina.

“Estamos resolvendo coisas para valorizar a experiência, como a possibilidade de ficar em um hotel cinco estrelas ou na própria concentração do Boca Juniors. A ideia é levar um grupo para passear, conhecer a Bombonera, ver um jogo do time principal do Boca, fazer uma partida e finalizar com um churrasco”, afirmou Carlos Júlio Pierin, diretor de negócios da agência.

O pacote para jogar na Bombonera deve custar R$ 2,4 mil em viagens de três dias. A ideia da DFS Gol é montar grupos de 25 pessoas, com venda prioritária para empresas. O Boca Juniors cobra US$ 15 mil para alugar o estádio por duas horas.

Quando iniciou negociações com o Boca, a agência chegou a receber uma proposta mais inusitada do clube argentino. A diretoria sugeriu a realização de partidas de dez minutos no intervalo de jogos oficiais.

“É uma experiência que eles já tiveram lá na Argentina e que nos passaram, mas havia uma dificuldade logística. Nós teríamos dez minutos para entrar em campo, jogar e sair sem prejudicar o intervalo do jogo do Boca Juniors. É algo que demandaria uma série de estratégias e que nunca mais aconteceu”, disse Pierin.

As experiências relacionadas ao esporte podem ter até um viés social. Foi isso que tentou mostrar o movimento Livewright, ONG que une atletas e empresários para fomentar o esporte de alto rendimento. A instituição organizou um leilão de lançamento em 2011, e o esporte esteve entre os itens mais assíduos na pauta.

“Nós chamamos de ‘leilão dos sonhos’. Havia itens como treinos com a [triatleta] Fernanda Keller, o [ciclista] Mauro Ribeiro ou o [tenista] Gustavo Kuerten. Também leiloamos itens como um capacete do [piloto] Rubinho Barrichello, uma camisa do [jogador de futebol] Ronaldinho Gaúcho e uma prancha do [surfista] Rodrigo Rezende”, enumerou Fernanda Camargo, que integra o conselho-executivo do Livewright.

O público do leilão era formado por convidados dos empresários e dos atletas. Portanto, um perfil de altíssimo poder aquisitivo. Os itens relacionados ao esporte foram arrematados por valores entre R$ 25 mil e R$ 70 mil.

Todos os atletas que estiveram no leilão fizeram isso gratuitamente. Os valores amealhados foram destinados ao sustento do Livewright. E em alguns casos, também serviram para provocar surpresa nos atletas.

“O Rodrigo Rezende é muito meu amigo. Quando eu falei para ele o valor que alguém pagou pela prancha, ele ficou tão emocionado que até chorou. Acho que ele não sabia que valia tanto”, contou Fernanda.

A maioria dos itens relacionados ao esporte foi arrematada por empresários. “São pessoas que comandam companhias, mas que sempre foram esportistas. O esporte oferece coisas como disciplina, que pode ajudar demais”, completou a integrante do conselho do Livewright.

O que o esporte também oferece aos endinheirados é uma emoção diferente do que eles vivem no cotidiano. “O cara que comprou o direito de velejar com o Lars Grael pôde levar a família toda. Eles foram para a Bahia e tiveram um dia incrível. Foi um sonho, e isso não tem preço”, ponderou Fernanda. Cada vez mais, porém, as experiências vividas por brasileiros contradizem a empresária. A emoção do esporte tem preço, sim.