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Adolescentes peitam pais e médicos por sonho de serem mais fortes do Brasil

  • Vitor Fortunato e Rodolfo Paduan iniciaram no Strongman aos 16 anos

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

31/10/2013 06h02

Rodolfo Paduan corre uma distância de 15 m com um cilindro de 100 kg em cada mão e faz o caminho de volta abraçado a um saco de areia que pesa 90 kg. Mal dá tempo de descansar e ele parte para outra tarefa: tombar seis vezes um pneu de 250 kg. Não acabou. É preciso carregar pedras de 100 kg, um saco e um tonel de 90 kg.

Ele ainda guarda forças para erguer bolas de concreto que chegam a 140 kg. Rodolfo falha na tentativa. O cansaço é visível e as expressões faciais comprovam que o corpo chegou ao limite.

Limite. A palavra que melhor define o Strongman, um esporte em que os competidores são levados a um esforço físico intenso, exigindo o máximo de sua musculatura.

Aos 16 anos, Rodolfo faz parte dos adolescentes que começaram a praticar o esporte e precisaram enfrentar os pais e até médicos na busca pelo sonho de se tornar o homem mais forte do país.

Rodolfo é atleta há cerca de três meses e enfrenta uma rotina de treinos diários de musculação aliados a 3 h de atividades específicas nos fins de semana. No último sábado, ele participou de sua primeira competição na categoria 90 kg do 7º Campeonato Brasileiro de Strongman, em Peruíbe-SP.

Rodolfo admite que seus pais foram contrários à ideia inicialmente e tentaram convencê-lo a não seguir em frente.  Não adiantou. “Não faço para ninguém, faço para eu conseguir. É difícil, mas é muito gratificante se superar a cada treino. No começo, minha mãe não gostava”, disse ele que prefere não levar sua mãe aos treinos.“Lá só tem homem. A gente grita, fala palavrão, soltamos nossos instintos mais primitivos. E mãe dá uma intimidada, né?”.

Seu colega Vitor Alves Fortunato, de 16 anos, também enfrentou a resistência da mãe e até dos médicos para praticar o esporte. A preocupação nesse caso é maior porque o jovem nasceu com uma deficiência corporal. Sua perna esquerda é cerca de 4 cm menor que a direita.

“O médico não quis deixar. Falou que sou muito jovem e que pode dar problema na articulação. Pediu para eu esperar completar 18 anos. No começo minha mãe também não gostava muito porque eu chegava com o braço machucado de pegar o peso das bolas”, disse.

De acordo com a ficha de inscrição do Campeonato Brasileiro da modalidade, todos os atletas são submetidos a avaliações médicas e assinam um termo em que garantem estar aptos à prática esportiva.

No entanto, o casamento entre Strongman e adolescência ainda é questionado pelos médicos. Membro da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, o endocrinologista Jean Carlos Barros ressalta os riscos de uma atividade física exagerada para adolescentes que ainda não têm a estrutura corporal plenamente formada.

“O adolescente não tem a formação óssea e corporal completa. Fisiologicamente, do ponto de vista de hormônios, mecânico, muscular, tendões e articulações, ele não está preparado. Caso venha a ter uma lesão, pode ocasionar uma interferência no crescimento porque eles não têm uma estrutura bem definida para suportar esses esportes radicais”, diz.

Segundo ele, isso pode prejudicar o crescimento. “Um trabalho intenso com a musculatura pode gerar o comprometimento da articulação. Na articulação existe a epífise, uma região do osso que está relacionada ao crescimento linear da pessoa. Se essa parte for lesionada, pode atrapalhar o crescimento”, disse.

Atividade também tem benefícios

Apesar dos riscos, o Strongman, assim como qualquer prática esportiva, também garante benefícios aos praticantes. Vitor, por exemplo, sofre de obesidade e conseguiu mudar seus hábitos graças ao esporte. Parou de comer frituras e gorduras, emagreceu quase 20 kg e se sente mais disposto para atividades do dia a dia como caminhar e ajudar em tarefas domésticas.

Rodolfo melhorou os problemas respiratórios da infância e mudou os hábitos, como passar as noites em claro. “Eu não dormia direito, deitava 2h, 3h da manhã. Saía todo fim de semana. Agora não saio mais, dá para se divertir de outras formas como ir à praia. Minha mãe viu as mudanças e agora já fala ‘se você quer, agarra’”, conta.