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Ex-oficial americano de Clinton e Bush troca estresse por jogo de nudistas

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

21/11/2013 06h01

Michael Zellner é o típico gringo casado com uma brasileira que, depois de se aposentar, largou tudo para viver em um país tropical. Apaixonado pelas belezas naturais do Brasil, decidiu viver bem à vontade e virou adepto do naturismo. Quem vê nem imagina que foi oficial de presidentes americanos como George Bush e Bill Clinton.

Se hoje Mike desfila tranquilo e completamente nu, até dez anos atrás tinha um ritmo de vida alucinante e com alto teor de estresse. Por 21 anos, foi militar das Forças Aéreas Americanas e sua missão era nada menos que cuidar da segurança do presidente dos Estados Unidos.

Ocupava um alto cargo como engenheiro responsável pela parte mecânica dos aviões presidenciais. Trabalhou diretamente e voava com Ronald Reagan, George Bush e Bill Clinton, além de outros secretários de estado e diplomatas importantes.

“Era extremamente estressante. Era a vida do presidente dos Estados Unidos que estava em jogo. Eu ficava no centro de comando e fazia a manutenção dos aviões. Nada podia dar errado”, disse.

Apesar de estar há mais de 15 anos no Brasil, bastam poucas palavras para perceber que é um americano nato. Ao falar português exibe um sotaque que chega a ser caricato e enche a boca para falar da história de seu país.

Mesmo receoso, Zellner revela curiosidades da relação com os homens mais poderosos do mundo. Ronald Reagan, governante dos Estados Unidos entre 1981 a 1989, o conquistou pela simpatia e estilo de governar.

“Reagan foi contra a corrupção, se preocupava com a vida do povo, derrubou a parede da Alemanha. Foi o terceiro melhor presidente dos Estados Unidos”, diz. “Era muito simpático. Chegava na base aérea e dizia: ‘como estão meus meninos?’. Às vezes ia ao cockpit e  perguntava sobre os aviões para o piloto”.

Já outros nomes ele prefere esquecer. “Tem gente que tem oito processos contra, não deu exemplo para o casamento e tem uma amiga chamada Monica”, brinca sobre Bill Clinton e o escândalo na Casa Branca.

A época em que vivia para o trabalho e sob doses fortes de emoção é lembrada com saudosismo. E a rigidez do militar ainda aparece ao apitar os jogos de vôlei nos Primeiros Jogos Naturistas Paulista, que aconteceram em Guaratinguetá-SP, no último fim de semana.

Bravo e rígido como a profissão exigia, ele não deu mole para os participantes. “Vocês vão ficar com um jogador a menos”, esbravejou, quando uma participante parou para beber água.  Pouco depois, deu mais uma bronca com a demora de um atleta para sacar. “Está esperando a CNN tirar foto de você? Bota a bola na quadra agora”.

Após as partidas, Zellner confessa que a preguiça dos brasileiros o deixa irritado. “Brasileiro não quer saber de competição, fica tudo sentado na cadeira. Eu falo, ‘tira a bunda daí, vai perder um pouco de peso”.

HÁBITOS DOS NATURISTAS

São contra qualquer atitude de cunho sexual. Não é permitido namorar em público e prezam por um ambiente familiar.

A alimentação é livre. Naturistas não são necessariamente vegetarianos. Durante os Jogos, se alimentaram de lasanha e feijoada.

Temem sofrer preconceito em suas redes de amigos e no ambiente profissional. Por isso, divulgam seus hábitos para poucas pessoas.

Acreditam que a falta de roupas também é uma forma de se desprender de valores materiais e de não julgar as pessoas pela aparência. Gostam do ‘olho no olho’.

Prezam um maior contato com a natureza e o respeito pelo meio-ambiente.

Usam roupas no frio. ‘Sou naturista, não masoquista’ é uma frase comum entre eles.

Têm a sensação de liberdade ao estarem nus, especialmente na água

Hoje, uma de suas principais ocupações é o shuffleboard, esporte em que os jogadores usam um taco para empurrar discos que deslizam sobre uma quadra e devem parar numa zona de pontuação. Foi Zellner quem trouxe a modalidade para o país na década de 90. As duas primeiras quadras do país foram construídas por ele próprio no clube Rincão.

Após se aposentar, ele decidiu se dedicar ao esporte que conheceu na adolescência e hoje é um dos melhores atletas do mundo no esporte ocupando a 32ª posição no ranking mundial. Seus pupilos brasileiros já se destacam e chegaram ao quarto lugar do mundo.

Agora, briga para que o esporte faça parte do currículo dos próximos Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro, em 2016. “É um esporte que qualquer um pode jogar junto. Homens, mulheres, velhos, cadeirantes. E muitas vezes os deficientes vencem”, conta.

Nos Jogos Naturista confirmou o favoritismo e foi medalhista de ouro no esporte, mas sua única preocupação mesmo era ter o contato com a natureza e praticar o naturismo, algo impensável quando era militar.

“Conheci o naturismo através de um meu que é médico e achei interessante. No início foi difícil tirar a roupa e eu só andava com uma bermuda fluorescente para cima e para baixo. Mas depois fiquei tranquilo. Aqui você nunca viu sexo, coisas erradas, não é um clube de swing como muitas pessoas imaginam. É família”, disse.