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Filho de ex-Legião Urbana bate recorde e ganha mais de R$ 3 mi no pôquer

Filho de Dado Villa-Lobos, Nicolau Villa-Lobos é jogador profissional de pôquer desde 2007 - Poker Stars / divulgação
Filho de Dado Villa-Lobos, Nicolau Villa-Lobos é jogador profissional de pôquer desde 2007 Imagem: Poker Stars / divulgação

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

13/12/2013 06h00

A faculdade de cinema ficou para trás. Até o primeiro semestre deste ano, Nicolau Villa-Lobos dividia o tempo entre o curso na PUC-RJ e uma prolífica trajetória nas mesas de pôquer, iniciada em 2007. Filho de Dado Villa-Lobos, que foi guitarrista da banda Legião Urbana, o carioca de 25 anos decidiu se dedicar exclusivamente ao jogo de cartas. Conservador e supersticioso, ele deixou para trás os tempos em que o baralho era apenas uma diversão para dias chuvosos na praia. Ganhador da maior premiação da história do pôquer online no Brasil, o jogador já faturou mais de R$ 3 milhões.

“Até julho ainda estava tentando acabar minha faculdade de cinema e jogando ao mesmo tempo. Com os resultados, tive a tranquilidade pra tomar minha decisão”, relatou Nicolau em entrevista por e-mail ao UOL Esporte.

O carioca começou a jogar pôquer ainda na infância, em tardes chuvosas na casa que a família dele tem em Angra dos Reis. O estilo Texas Holdem, porém, ele só aprendeu muito depois: “Minha trajetória começou em 2007, depois de operar o coração e ficar de molho por um ano sem fazer os esportes que eu gostava. Comecei a brincar com amigos em casa, depois em clubes no Rio, e aí fui disputar os torneios estaduais”.

Em 2012, Nicolau foi o segundo colocado na etapa carioca do BSOP (Brazilian Series of Poker, o circuito nacional do jogo). Neste ano, os resultados foram ainda mais expressivos: título da etapa de Edimburgo (Escócia) do United Kingdom Poker Tour e do Scoop (Spring Championship of Online Poker). A segunda conquista deu US$ 427 mil (R$ 1 milhão) ao carioca, o que representou, segundo o site “Poker Stars”, a maior premiação de um brasileiro na história do pôquer online.

Outro feito de Nicolau foi registrado em outubro, no WSOPE (World Series of Poker Europe). O brasileiro perdeu apenas para o canadense Daniel Negreanu, líder do ranking anual do circuito, e amealhou 450 mil euros (R$ 1,44 milhão).

A soma das premiações de Nicolau no pôquer já ultrapassou a marca de R$ 3,5 milhões - terceiro brasileiro que mais faturou em competições ao vivo na história, segundo o "Poker Stars". No entanto, o carioca minimiza a parte financeira da carreira: “Ganhei o suficiente para estar com a cabeça tranquila e me concentrar mais no jogo. Não gosto muito de falar de valores porque na verdade esse nunca foi o objetivo principal. E também porque acredito que o pôquer ainda é novo no Brasil. Se queremos que seja considerado um esporte, temos que parar de pensar apenas nos valores, mas sim nas conquistas. Fui campeão do evento principal de uma das maiores séries de pôquer online, campeão de uma etapa do circuito britânico e vice-campeão de um dos torneios mais difíceis do mundo, o High Roller, que faz parte do WSOP Europe”.

Outro aspecto que Nicolau valoriza é o retrospecto em duelos diretos com o pai. E não apenas no pôquer. “Desde sempre eu fui um cara muito competitivo. Não gosto de perder nem par ou ímpar, e com certeza isso vem dele. Passamos a vida jogando bola, tênis, xadrez, gamão... e Hoje eu tenho orgulho de dizer que ele é meu freguês em quase tudo”.

Além da competitividade, Nicolau herdou de Dado os amores pela música e pelo Fluminense. O jogador de pôquer toca violão desde os sete anos de idade e sempre carrega o instrumento em viagens. Quando está no Rio de Janeiro, o Maracanã preenche o tempo livre.

“Amo futebol. Joguei bola minha vida inteira, sou tricolor de coração, e o Fluminense é uma das coisas mais importantes da minha vida. Hoje faço parte de um time que disputa a primeira divisão de futebol society do Rio de Janeiro. Por causa dos torneios e de um joelho machucado, estou um pouco afastado dos gramados, mas levo a camisa do Fluminense pra onde eu for. Ela é presença garantida nos torneios. Aliás, o manto está invicto”, contou Nicolau.

No circuito britânico, o carioca usou outra camisa relacionada ao futebol. Ele disputou a fase final usando um modelo da seleção brasileira que conquistou a Copa do Mundo de 1994: “Nós jogadores defendemos que o pôquer é um esporte de habilidade, mas por outro lado sabemos que existe o fator sorte”. A lista de superstições do brasileiro ainda inclui uma boneca japonesa que ele carrega na mochila.

Nicolau é atleta do 888poker, time que custeia viagens, hospedagens e participações em torneios. Ele também recebe um salário e tem um estafe à disposição para eventos.

“Sou um cara conservador, mas que já perdeu o medo de ir para cima na hora em que achar preciso. Eu não fujo mais na hora em que o bicho pega, mas ainda acho que sou um cara comedido, que pensa em sobreviver acima de tudo”, avaliou o jogador.

O perfil conservador também aparece quando Nicolau fala sobre metas para o pôquer e para a vida: “Pretendo continuar jogando, um dia após o outro, torneio a torneio. Gosto de muitas coisas, como música, cinema e comida. O pôquer será para sempre, mas talvez em algum momento da vida eu deixe de jogar profissionalmente e vá realizar outras coisas”.

A decisão de ser um jogador profissional de pôquer, porém, não teve nada de conservadora. Nicolau diz que teve apoio irrestrito da família quando comunicou isso. “Meus pais sempre foram nota mil. Na verdade, seria até um pouco de hipocrisia [agir de forma diferente], né? No caso do meu pai, ele passou por uma situação parecida. Quando tinha a minha idade, pegou a guitarra e falou para a mãe dele que ia ser músico”.