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Ganhar de gênio do xadrez parece impossível. Não para um brasileiro

O enxadrista brasileiro Gláucio Della Cort Cella derrotou o campeão mundial Magnun Carlsen - Divulgação
O enxadrista brasileiro Gláucio Della Cort Cella derrotou o campeão mundial Magnun Carlsen Imagem: Divulgação

Verônica Mambrini

Em São Paulo

25/03/2014 06h01

“Que outro esporte te permite jogar como amador contra um campeão mundial? Quem pode desafiar o Nadal, vencer os 50 metros contra o Cielo ou jogar contra o Messi?” É essa uma das motivações de Glaucio Dalla Cortt Cella para jogar xadrez. O paranaense de 25 anos venceu o melhor enxadrista do mundo, o norueguês Magnus Carlsen, 23, em uma partida simultânea, em que o campeão mundial jogou contra 37 desafiantes ao mesmo tempo. O 13º Torneio Aberto Internacional de Xadrez Festa da Uva aconteceu em 6 de março, em Caxias do Sul (RS), e reuniu centenas de jogadores do esporte.

O norueguês é uma espécie de superstar no seu esporte. Foi apelidado de “Mozart” pelo estilo fluido com que joga. Um fotógrafo da grife holandesa G Star, para a qual ele já posou como modelo, o apelidou de “Brad Pitt do xadrez”.  Aos 13 anos, se tornou grandmaster, categoria de elite do esporte. Aos 19, se tornou o mais jovem a chegar ao primeiro lugar no ranking da Federação Mundial de Xadrez. Em 2013, alcançou a pontuação mais alta já atingida, e ao vencer Viswanathan Anand no Campeonato Mundial de xadrez, se tornou campeão mundial. E não é só nos rankings de xadrez que ele marca presença: ano passado, a revista Time o incluiu entre as 100 personalidades mais influentes, e a Cosmopolitan, entre os 100 homens mais sexy.  Só em patrocínio, a renda do jogador de é US$ 1 milhão (cerca de R$ 2,4 milhões) por ano.

Campeão mundial de xadrez Magnus Carlsen (24/02/2014) - Gwladys Fouche/Reuters - Gwladys Fouche/Reuters
Enxadrista norueguês Magnus Carlsen, campeão mundial de xadrez em 2013
Imagem: Gwladys Fouche/Reuters
O carrasco inesperado de Carlsen é um advogado que mora no interior do Paraná, em Francisco Beltrão, e estuda para prestar concursos públicos. Costuma jogar xadrez por volta de 5 horas por semana, que sobem para 40 quando está treinando para algum torneio. Começou a jogar aos 11 anos, e não parou mais. Não imaginava que teria chance de desafiar o campeão Carlsen – muito menos bater o oponente.  “Eu não tinha pretensão alguma, eu sei que a gente está em outro mundo. O que aconteceu é fantástico.”

Nunca tivemos um evento assim no Brasil, com desafiante desse porte”, conta Gláucio. Nos torneios simultâneos, um enxadrista joga contra dezenas e até centenas de desafiantes ao mesmo tempo.  “Carlsen pode jogar contra até 200 jogadores de uma vez”, conta Gláucio. A estratégia do brasileiro foi buscar movimentos inesperados, para tentar surpreender Carlsen. “Eu sabia que tinha de tentar um lance que fosse novidade para ele. No oitavo movimento, lancei uma jogada bastante incomum.” A estratégia do paranaense deu certo. Vendo que não havia saída, o campeão estendeu a mão para cumprimentar a vitória de Gláucio.

Até onde o enxadrista brasileiro conseguiu apurar, foi a primeira partida de mais de duas horas que o gênio do xadrez disputou depois de se tornar campeão mundial. “Talvez ele nunca tenha sequer perdido para um amador.”

Para dar uma ideia, Gláucio tem 2018 pontos, contra 2882 de Carlsen, maior pontuação que um jogador de xadrez já teve na história. “Eu teria que ganhar umas 250 partidas contra jogadores mais fortes que eu para alcançá-lo”. Segundo o brasileiro, o que diferencia o nível dos jogadores é a capacidade de cálculo.  “Eu consigo prever cerca de 5 jogadas à frente, e ele consegue antecipar cerca de 15 movimentos”, exemplifica Gláucio.  Apesar de ter pago R$ 400 para desafiar o campeão, a vitória não valeu nem pontos no ranking nem prêmio em dinheiro. “Ganhei uma camiseta, tabuleiro, e canetas só. O prêmio maior é o reconhecimento”, diz o paranaense.