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Rebeca Gusmão sai da depressão, assume lado sensual e revela mania por sexo

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

30/10/2014 15h40

Ela tem curvas femininas, cabelos loiros e longos e usa salto alto. Rebeca Gusmão se transformou em outra mulher. Em nada tem a ver com a nadadora cheia de músculos e masculinizada, símbolo de um dos casos de doping mais famosos do esporte brasileiro. Mas agora ela saiu da depressão para ser feliz. Recuperada, se permitiu assumir seu lado sensual e até revelar sua mania por sexo.

Depois de cair em uma depressão profunda, a ex-nadadora deu um basta no fim do ano passado. Queria que 2014 fosse diferente. E foi. Começou a seguir à risca o tratamento, voltou a trabalhar, a namorar e redescobriu sua beleza que andava escondida entre a engorda e o emagrecimento exagerados provocado pela doença. Pesou de104 kg ao 64 kg até chegar ao ideal de 73 kg.

Nos últimos tempos, ela tem estampado o corpo, bem diferente da época de nadadora, em trabalhos como modelos e em ensaios sensuais. Para ela, se expor é, mais que cultivar sua vaidade, uma maneira de mostrar para todos que é possível sair do buraco e dar a volta por cima.

"Quero mostrar o quanto estou bem, mostrar para as pessoas que elas podem superar o problema. Na crise você acha que nunca vai passar e que vai morrer daquilo. Mostro o corpo e como eu estou muito melhor para tentar passar isso para as pessoas. Se eu consegui, por que você não consegue? Estou aqui para te ajudar".

Os ombros largos e os bíceps hipertrofiados em nada têm a ver com o corpo atual com curvas mais generosas, tronco mais fino e o implante de silicone nos seios. Não à toa, ela fez ensaio para o site Paparazzo, para o jornal Extra e já foi convidada para posar nua, um de seus desejos, mas negou por ficar insatisfeita com a proposta.

Para fazer caras e bocas diante das câmeras, ela vem vencendo a timidez que sempre a acompanhou. Toma uma taça de champanhe para se soltar antes das fotos e já se sente muito mais à vontade em relação aos trabalhos iniciais. E ainda tem que lidar com uma situação bem nova: as cantadas dos homens.

"As pessoas se impressionam 'nossa, como você mudou. Está muito mais gata'. O assédio aumentou muito e é bom para o ego. Até em posto de gasolina falam. Em rede social recebo muitas mensagens, tem umas coisas fofas como pedido de casamento. Mas também tem umas pornografias absurdas. É engraçado. Tem um menino que me manda mensagem todos os dias dizendo 'enfartando em 3, 2, 1'. E procuro responder as pessoas que têm admiração por mim, mas se perder o respeito eu nem respondo e deleto".

Rebeca já se acostumou com os comentários mais maldosos e não se sente ofendida. Para ela, sexo é um assunto muito corriqueiro que ela fala com naturalidade. A ex-atleta revela até sua 'mania de sexo'.

"Sou muito dada pra falar, na hora do ensaio quando falam 'tira a blusa, bota o peito assim', sou mais tímida. Mas para falar estou tranquila, sou 'sexomaníaca'. Gosto muito de sexo, sexo é uma boa coisa muito boa, que todo mundo deve praticar. Acho que não preciso entrar em detalhe, falar o que eu faço, que calcinha estou vestindo, não precisa se expor".

Em sua fase sensual, Rebeca hoje vive uma situação bem diferente de quando era nadadora. Apesar de ter mudado muito o corpo, estilo de vestir e os cuidados com a beleza, ela não se arrepende de como era e afirma que não se importava com as críticas.

"Eu visto a armadura do momento, hoje eu não preciso ser forte para ser atleta, na época eu era porque eu precisava ser. Quando eu era atleta, meu objetivo era ganhar, ser melhor, ser bonita ou mais feia não interferia no meu trabalho. Cada um tem direito de pensar o que quiser, eu não ligava não, se eu tinha o corpo muito forte, muito masculino. Eu era a mais forte no Brasil, mas fora tinham várias como eu. Ninguém pagava minhas contas, meu patrocinador não criticava, não estava nem aí para o que os outros falavam".

Além do trabalho como modelo, Rebeca hoje é personal trainer e também dá palestras motivacionais em empresas, faculdades e escolas. Ela conta sua experiência como atleta de ponta na natação e sobre a depressão.

Ela luta para acabar com o preconceito que existe contra a depressão porque muita gente considera 'frescura' e defende que a doença seja tratada como outra qualquer a exemplo do diabetes.

Rebeca foi assolada pela doença depois que foi banida do esporte acusada pelo uso de doping, em 2008. Mas chegou ao fundo do poço no ano passado quando se separou do marido e perdeu a avô. Ela admite que estava tirando a própria vida.

"Era muita dor e tentei um suicídio inconsciente. Se você sente uma dor física, você toma um Tylenol e vai passar. Quando você está em depressão você toma muito medicamento. Eu queria apagar para não sentir dor, me entupia toda, doía tanto que tomava três, quatro. Você fica anestesiado, aí vem a fase da euforia, depois a realidade volta e eu bebia para esquecer o que estava vivendo".

Hoje, Rebeca não se considera curada, mas diz que a doença está sob controle. "Curada não, existem altos e baixos na vida, estou cuidada. Hoje, não deixo meu tratamento de lado, antes se eu me sentia bem parava de tomar remédio. Hoje, prefiro evitar ter crise, a depressão infelizmente é uma doença que não tem cara, tem que ficar atento".

Apesar da evolução no tratamento, ela ainda se sente injustiçada pelo caso de doping que se tornou um dos mais emblemáticos do esporte nacional. Ela foi banida da natação pelo TAS (Tribunal Arbitral do Esporte) depois de um longo julgamento e de ser suspensa por dois anos por excesso de testosterona em exames realizados nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro de 2007. Ela jura ser inocente e alega que a sua urina foi trocada por questões políticas.

"É uma injustiça enorme", diz ao relembrar o caso. "Depois que entrei para o mundo da política você entende o que é política, com o esporte não é diferente. Como em tudo quem tem mais dinheiro é quem vence. São vários fatores, como você apontar o erro de alguém ou quando você mostra que uma coisa está errada. Falei muita coisa que eu não deveria ter falado, pela minha idade, juventude, imaturidade. Se eu tivesse maturidade, estaria nadando até hoje. A minha urina foi trocada no laboratório sem a minha presença, a decisão foi política e eu não posso interferir", conta.

"Mas hoje eu procuro sempre olhar por outro lado. Se isso não tivesse acontecido comigo, eu não teria a historia que eu tenho, eu não queria nunca passar por isso, mas foi dessa forma que Deus traçou, é a história da minha vida e eu só tenho a agradecer".