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De Serena Williams a Ronda Rousey. Elas já rebateram declarações machistas

Do UOL, em São Paulo

07/03/2015 17h41

Uma cena ocorrida no tênis no começo deste ano causou incômodo e reacendeu a polêmica em relação às atitudes machistas no esporte. Após uma partida do Aberto da Austrália, um dos entrevistadores do torneio pediu que a tenista Eugenie Bouchard desse uma "voltinha" em quadra depois de uma vitória. Envergonhada, a canadense encarou a situação com bom humor. Ícones do esporte, entretanto, mostraram-se contrários à atitude.

"Vamos nos concentrar nas realizações de ambos os sexos e não em seu vestuário", bradou a ex-jogadora Billie Jean King, vencedora de 20 Grand Slams. O discurso da multicampeã Serena Williams seguiu a mesma linha crítica. "Eu não pediria a Rafa Nadal ou Roger Federer para dar uma voltinha. Se é sexista ou não, eu não sei. Eu não posso responder isso. Não gostaria de dar uma voltinha porque não preciso de toda a atenção extra", disse a norte-americana.

Segundo a brasileira Teliana Pereira, o esporte no Brasil também é machista. No ano passado, a tenista chegou a ficar no Top 100 do ranking mundial. Antes de alcançar a marca, ela cobrou uma repercussão igual à dos atletas do circuito masculino. "Tudo que é de melhor vai para o masculino. Não temos Top 100 há muito tempo, mas quando você olha na internet as notícias são sempre para eles. O importante é que as meninas estão treinando, estão se dedicando", disse ainda em 2007.

O exemplo do tênis se encaixa também em outros esportes. Neste cenário, algumas atletas declararam apoio à luta por direitos iguais. Ronda Rousey, Susie Wolf, Danica Patrick, além das brasileiras Adriana Araújo, Bia Figueiredo e Sissi já falaram publicamente sobre o assunto.

A campeã do UFC mostrou-se incomodada ao ser questionada sobre um possível confronto com um lutador. A resposta foi como um soco de direita: "Não há nenhum cenário que podemos perdoar um homem bater em uma mulher. Realmente não acredito que alguma Comissão Atlética da Terra perdoaria algo desse tipo. Você vai para ver duas pessoas se atacando. E não acho que devemos celebrar um homem batendo em uma mulher em qualquer tipo de ambiente", afirmou Ronda, à "CBS Sports", nesta semana.

A lutadora Adriana Araújo, por sua vez, já ressaltou que o preconceito no boxe sempre existiu. O fato, entretanto, ajudou a medalhista de bronze na Olimpíada 2012. "Eu ouvia que lugar de mulher é em casa, pilotando fogão, e coisas assim, mas isso só me servia de estímulo, ficava motivada para quebrar esse tipo de pensamento", disse.

"Existe preconceito na CBF"

No futebol feminino brasileiro, a desigualdade foi deflagrada pela ex-jogadora Sissi, que mantém planos de um dia treinar uma equipe. "Sinto falta de mulheres trabalhando. Existe um preconceito na CBF. Eles são uma panela que não deixa as pessoas se aproximarem", afirmou.

No ano passado, após a derrota da seleção brasileira para a Alemanha por 5 a 1 no Mundial Sub-20, as jogadoras pediram mais apoio aos dirigentes. "Em um país machista e preconceituoso que nunca acreditou, aceitou ou investiu de verdade no futebol feminino, é muito difícil para nós sonharmos", afirmou.

No automobilismo, mais protestos deram força à causa. Bia Figueiredo, por exemplo, citou casos de machismo antes mesmo de chegar à Fórmula Indy. Segundo ela, o período em que mais enfrentou preconceito foi no início da carreira, ainda no kart. Na época, um pai de um piloto adversário ligou para o filho e disse que, se ele perdesse, "não precisaria voltar para casa".

Já Danica Patrick bateu de frente com o Bernie Ecclestone, chefe da Fórmula 1. O fato deu-se em 2005, quando o dirigente ligou para parabenizá-la pelo desempenho nas 500 Milhas de Indianápolis. Na ocasião, ele disse que "as mulheres deveriam se vestir de branco como os utensílios domésticos". A piloto norte-americana rebateu a declaração ao dizer que a opinião não fazia diferença, pois ela corria na Indy Racing e não na Fórmula 1.

O piloto mexicano Sergio Pérez voltou a criar polêmica na temporada 2014. Ao comentar a presença de Susie Wolff na categoria mais importante do automobilismo, o mexicano afirmou que apenas na cozinha uma vitória da escocesa seria boa. A piloto de testes da Williams respondeu à altura e disse que era melhor na pista, como a própria família dela havia comprovado.

Luz no fim do túnel

Na luta por direitos iguais, os Jogos Olímpicos tornaram-se uma referência. Na primeira Olimpíada moderna, em 1896, em Atenas, atletas do sexo feminino foram proibidas de competir. Quatro anos mais tarde, em Paris, apenas 16 mulheres deram início à trajetória nos Jogos, contra 1.076 homens.

Em 2012, todas as 39 modalidades tiveram a presença de mulheres. A Arábia Saudita, pela primeira vez, mandou duas representantes para as competições - no atletismo e no judô. A delegação norte-americana, por sua vez, competiu com mais mulheres no grupo (268 a 261). Já o Brasil foi representado por 259 atletas (136 homens e 123 mulheres) em Londres.

Apesar dos avanços, o cenário ainda é alvo de críticas. "Ainda existe discriminação de sexo nas Olimpíadas. Os Jogos têm um papel decisivo na formação de um mundo melhor, é muito mais do que uma competição esportiva. É um dos únicos eventos do mundo em que não existem barreiras e que uma só lei vale para todos. É uma oportunidade de para mudar a sociedade”, disse Annie Surgier, porta-voz da Liga Internacional dos Direitos das Mulheres.

O órgão fez algumas reivindicações em 2012. Entre elas, o número igual de eventos para os dois gêneros e a reserva de 50% dos postos de comando das entidades esportivas reservados para mulheres. O reforço do caráter de neutralidade do esporte também foi citado, com destaque para o banimento de símbolos políticos ou religiosos nas competições.