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Abilio e PVC debatem futebol brasileiro e culpam técnicos por má fase

Do UOL, em São Paulo

13/03/2015 06h00

O empresário Abilio Diniz e o jornalista Paulo Vinicius Coelho têm personalidades e histórias de vida que são notadamente distintas. Ainda assim, contudo, é fácil perceber pontos em que ambos se aproximam. A relação com o esporte, por exemplo: ambos são apaixonados e dedicam boa parte de seus dias ao tema. Foi esse o principal assunto de um bate-papo entre os dois nesta semana, em São Paulo.

Abilio e PVC, blogueiros do UOL Esporte, falaram sobre a relação que mantêm com o esporte e debateram temas como o atual momento do futebol brasileiro. Criticaram a formação de técnicos no país e falaram sobre a fase vivida pelo São Paulo, time do coração do empresário.

“O problema do futebol brasileiro não é o jogador. Independentemente das coisas que precisam mudar, uma coisa eu acho clara: jogadores nós temos, mas faltam os lados tático e técnico”, disse Abilio.

Veja abaixo a íntegra do bate-papo entre o bilionário brasileiro e o jornalista:

Paulo Vinicius Coelho: Olá! Eu sou o Paulo Vinicius Coelho, um dos mais recentes colunistas do UOL Esporte. Estou com o Abilio Diniz, outro dos mais jovens e mais recentes. O projeto hoje é: eu vou entrevistar o Abilio, e ele vai me entrevistar. Vou começar com uma lição de jornalismo: Carlos Maranhão costumava dizer que jornalista chama jornalista de você, e é por isso que eu vou tratar você assim, Abilio. Porque você está no exercício da profissão com seu blog – sem ser jornalista de formação, você está exercendo jornalismo. Queria saber: como o esporte faz parte da sua vida? Você chegou aqui muito mais em forma do que eu.
 
Abilio Diniz: Olha, Paulo… Vou te chamar de PVC, mas agora vou dizer Paulo: ainda bem que você está me chamando de você porque senão eu não sei onde ia parar. É uma alegria estar aqui com você. Eu procuro aprender muito com você e leio muito. O esporte sempre foi uma coisa colada com a minha vida. Não vou contar minha história aqui porque é longa, mas quando garoto, com uns dez anos ou 12 anos, eu era baixinho, gordinho e parecia um pudim. A única coisa em que eu me destacava um pouquinho era o futebol, apesar de ser gordinho. Depois eu fui fazer tudo quanto é esporte. Espero fazer até o fim da minha vida.
 
PVC: Qual é a sua rotina de esporte?
 
AD: Muda muito. Antes eu me exercitava três vezes por dia: aeróbio de manhã, musculação na hora do almoço e uma coisa lúdica, como squash, na parte da noite. Depois eu parei. Depois que nasceram meus filhos mais novos, cortei à noite, e depois cortei na hora do almoço. Hoje faço só de manhã. Tem duas coisas que eu sigo fazendo: jogar squash e lutar boxe. Luto boxe uma vez por semana e jogo squash regularmente pelo menos uma vez por semana – isso quando não aparece um amigo para bater-bola. Normalmente eu não faço um day off, mas você está bem também.
 
PVC: Eu faço corrida na esteira quatro vezes por semana. Mas eu tenho mais days off do que você.
 
AD: Eu também só corro na esteira. Esse negócio de correr no Parque do Ibirapuera com segurança atrás… só corro na esteira. Tem outra coisa: quando você não sentir aquela vontade, ande na esteira, incline um pouquinho e use uma fita para controlar o batimento. E quatro vezes por semana está bom.
 
PVC: E o São Paulo, Abilio?
 
AD: Sempre disse ao Juvenal, quando ele queria falar sobre estádio, que eu não entendo nada disso. Eu entendo é de escalar o time. O Juvenal me pediu uma mãozinha, mas eu sempre saía fora. Agora, disso eu gosto. Gosto de falar com o Muricy[Ramalho] e gosto de falar com o Milton [Cruz]. São duas pessoas sensacionais. O Muricy pode ser o que for, mas como pessoa é incrível. O Milton é fantástico, e os dois são boleiros antigos. Já jogaram e sabem como as coisas são. O que está acontecendo com o time atual? Não é só com o São Paulo, mas com todos: tenho observado o Palmeiras, que é um time da moda, e não sei se o Oswaldo de Oliveira vai conseguir arrumar o negócio lá dentro. Esse é o grande problema do Brasil: jogadores nós temos aos montes, mas eu não sei apontar… se você me pedir para apontar os cinco melhores técnicos do Brasil, não vou conseguir. Vou dar ou três nomes. A maioria não se reciclou, e aí eu vou dar um exemplo positivo: o Tite se reciclou. Até pelo ano em que ele ficou parado, está muito melhor. Ele tem o time na mão. Pega o jogo do domingo passado, contra o São Paulo: o Danilo saiu no intervalo, e a mídia toda estava elogiando. Ele disse que aquela jogada do gol tinha sido ensaiada. Estava na cara!
 
PVC: Tinha acontecido uma jogada igual no treino do Corinthians de sábado, em Itaquera, mas foi o Emerson que finalizou…
 
AD: A jogada de linha de fundo é mortal. Se souber fazer, sai gol aos montes. Os técnicos brasileiros não treinam taticamente: o preparador físico fica fazendo exercícios, deixa a perna pesada e deixa os jogadores cansados. A Europa treina menos físico e treina a parte tática. Todo mundo olha para isso. No caso do São Paulo, o Muricy tem muita vontade e está tentando se reciclar. Está diferente, ouvindo, sabe que não temos jogadas pelas laterais e que não descemos à linha de fundo. Ele sabe que para sair jogada de linha de fundo é preciso um jogador encostar no outro. Está ouvindo e tentando fazer. Nossa defesa tem até bons jogadores, mas é um desastre. Eles têm o hábito de marcar a bola e não olham o jogador do lado. O Danilo estava sozinho no lance do gol do Corinthians. Todo mundo olhou para o Guerrero e para a bola, e não é assim que se joga na defesa. Tem que ter humildade de marcar. O São Paulo tem deficiências que podem ser corrigidas, e minha esperança é que o Muricy consiga corrigir. O time não tem uma jogada ensaiada! Pode até ser com o Toloi, que é grandão, mas ele não pode entrar dez vezes no jogo. Tem de ter uma jogada. Vamos pegar o San Lorenzo na Libertadores, no Morumbi. Você acha que eles virão com um time aberto?
 
PVC: Claro que não!
 
AD: O próprio Tite fica lá atrás e quando dá, vai. Outra coisa: 1 a 0 é goleada. Os caras vão vir jogar e vão ficar retrancados, sim. Lá em Buenos Aires é outro papo, é diferente. Mas o lado ruim é que o São Paulo não venceu grandes jogos e tem a Libertadores pela frente, que é mata-mata. O lado bom é que eu acho que o Muricy acordou e está tentando aproveitar o tempo.
 
PVC: O pessoal do UOL Esporte quer que eu corrija um vício. Eu sou jornalista e pergunto, e você é porta-voz e responde. Agora você vai perguntar.
 
AD: Queria saber o seguinte: o problema do futebol brasileiro não é o jogador. Independentemente das coisas que precisam mudar, uma coisa eu acho clara: jogadores nós temos, mas faltam os lados tático e técnico. O que você fala disso?
 
PVC: Acho que tem gente trabalhando. O Cristóvão [Borges] tem visto vídeos. Agora virou moda viajar para a Europa, e o Guardiola tirou foto até com o Charles Fabian, auxiliar do Bahia. O Cristóvão tem visto pela internet. Agora, falta aqui a parte acadêmica. Aqui sempre tivemos conhecimento do futebol de rua – quando você reduz espaços, mas não tem conhecimento formatado. O Jesualdo Ferreira, que foi técnico do Porto e do Panathinaikos, esteve no Brasil em dezembro e contou que criou um centro acadêmico em Portugal. A partir dali, gerações de técnicos portugueses estudaram e puderam entender. O Brasil não produz isso. É impressionante como o conhecimento é todo empírico e está no boca a boca do ex-jogador que tenta transmitir o que aprendeu com um técnico que é no mínimo 20 anos mais velho. É preciso criar conhecimento acadêmico. A única seleção campeã do mundo com mais jogadores de fora do seu campeonato foi a França de 1998. Mas os jogadores jogavam na Inglaterra, que é do lado. A Copa do Mundo… o Antonio Prata falava de um projeto de Copa do Mundo todo dia. A nossa Copa de todo dia é o Campeonato Brasileiro. Essa gente que vai para a Europa visitar Barcelona e Madri… ninguém inclui Sevilha no roteiro por causa do futebol, mas eles fazem isso com Barcelona e Madri. Imagina isso no Brasil, com Maracanã, Pelé, o Museu do Futebol… Potencial existe.
 
AD: Quando terminou a Copa, terminei muito irritado. Não foi só o 7 a 1, mas a quantidade de vezes em que o Felipão podia ter agido de outras formas. Ele não agiu. Ao meu ver, a grande figura que perdeu a Copa foi o Felipão: não teve comando, não conseguiu botar a gente para cima. Olhei para isso e pensei no que eu podia fazer. Você sabia que Viçosa tem um curso de formação de treinadores? O Ney Franco fez. Acho que é o único conhecido que fez. Pelo que eu soube do curso, não é o que precisamos. Você acredita que daria para promover um curso intensivo por um mês ou algo do tipo para técnicos brasileiros conhecerem coisas novas? Acha que podia funcionar?
 
PVC: Acho que a Copa do Mundo tinha de ter terminado com um grande ciclo de debates. Que o Brasil trouxesse gente como [Pep] Guardiola e [José] Mourinho para falar de futebol. O Guardiola esteve na América do Sul duas vezes nos últimos anos, esteve em Buenos Aires e não passou por aqui. A CBF tinha de fazer, mas esperar da CBF é um pouco demais. Existem coisas, mas é muito tímido. O Brasil não pode perder a aura de país do futebol, mas está perdendo.
 
AD: Isso passa muito pelos nossos técnicos. Vou fazer um convite e um desafio: o que nós podemos fazer para melhorar a qualidade dos nossos técnicos? Garanto que não sou só eu que estou preocupado. Na iniciativa privada há mais gente que vem comigo. Tenho certeza que temos jogadores talentosos, e teríamos ainda mais se os campeonatos dessem chance. Pensa nisso porque eu estou aqui para ouvir e levar propostas a outras pessoas.
 
PVC: Vamos formatar isso. Queria contar um episódio que eu contei fora do ar. Foi um episódio terrível na sua vida, e eu era um jornalista iniciante. Naquela época, a Globo arregimentava jornalistas iniciantes para contar votos na eleição. Estava indo para a escola em que eu ia trabalhar quando vi helicópteros, policiais e grande estardalhaço. Era você saindo do cativeiro.
 
AD: Eu não tenho problema em falar nisso. Marcou para você e para mim, evidentemente. Foi um show televisivo, com emissoras que ficaram mais de 30 horas no ar enquanto eu estava preso. Foi um trauma na minha vida. Na minha cabeça, as pessoas crescem mais no sofrimento do que na alegria. Eu aprendi muito com isso.
 
PVC: A única vantagem de ter ficado no cativeiro é que no dia 16 de dezembro daquele ano [1989] o São Paulo perdeu para o Vasco a final do Campeonato Brasileiro. Você não pôde ver.
 
AD: Também não pude votar. Foi o dia da eleição.
 
PVC: Você falou dos seus times de criança e de times fantásticos, como os da década de 1940. Como é sua relação de torcedor?
 
AD: Eu nasci, e o negócio de bola eu não sei de onde veio. Sempre fui apaixonado. O negócio de ser são-paulino eu tinha cinco ou seis anos. Tinha uma empregada – e nós não éramos de muitas posses – que me introduziu esse negócio. Depois teve a coisa da figurinha: meu filho de cinco anos deu um salto de paixão durante a Copa por causa da figurinha. Quem me introduziu ao São Paulo foi uma empregada, e por bola eu sempre fui apaixonado.
 
PVC: Esses times que eu citei dos anos 1940, você viu?
 
AD: Eu vi. Minha origem é humilde. Naquele tempo, como não tinha televisão, você tinha de ir ao estádio. Eu não ia muito, mas escutava o rádio. Eu gostava de sair de perto do rádio quando o São Paulo batia um tiro de meta. Era uma certeza de que nos próximos segundos não aconteceria nada. Nunca fui muito de ir ao estádio. Adoro ver comodamente pela televisão, mas vejo tudo que eu posso. Jogos do São Paulo, de fora e até de outros times brasileiros.
 
PVC: Você é daqueles que têm times no exterior?
 
AD: Não. Tenho times que me são simpáticos. Na Inglaterra, o Chelsea é um time de que eu gosto. O Manchester City tem feito um bom trabalho. Na Espanha são os dois óbvios, que são Barcelona e Real Madrid, mas o Atlético de Madri também tem feito um bom trabalho e me é simpático. A Itália, no momento, está em segundo plano.
 
PVC: A vantagem de ter mais de um time é que você não precisa ter compromisso só com um…
 
AD: Eu procuro explicar ao meu filhinho de cinco anos que ele pode torcer para o São Paulo, para o Chelsea e para o Real Madrid. Ele não pode torcer para o São Paulo e para o Corinthians. Ele gosta de ouvir hinos de clubes no iPad. O esporte é uma coisa fascinante.
 
PVC: Isso também era assim com seus filhos mais velhos?
 
AD: O Pedro, a relação dele com a bola é quase nula. O João acompanha e até tem conversado muito com o pessoal do Bom Senso FC. Ele se interessa e procura fazer alguma coisa, mas paixão, mesmo, aí é comigo.
 
PVC: O João Paulo participa do seu núcleo de alto rendimento (NAR). Fala um pouco sobre o projeto: é sua menina dos olhos?
 
AD: Não sei se é a menina dos olhos. A menina dos olhos, em matéria de esportes, é o São Paulo. Queria que o Muricy fizesse coisas táticas diferentes para ganhar mais jogos. Sobre o NAR, há muito tempo estudamos o esporte no sentido de procurar entender o que ele pode trazer de melhor para a saúde, o bem estar e a cabeça. Em que o esporte ajuda para ter mais equilíbrio na vida e estar bem, trabalhando. Sempre olhei para o esporte – estou nisso há muito tempo, e tem um cara que trabalha comigo há anos, que eu contratei quando estava com o João Paulo. Esse cara, que eu contratei para estudar, é o Irineu Loturco. Ele terminou um mestrado na universidade de Sevilha, que é uma das mais renomadas do mundo, e terminou no ano passado um doutorado em esporte de alto rendimento. Sobre o NAR, 55% dos atletas olímpicos brasileiros de 2012 passaram por ali para fazer alguma coisa, um upgrade. Não sei o percentual agora, mas digo que é muito alto – uns 80 ou 90%, mais ou menos. Hoje nós tivemos 40 ou 50 judocas treinando lá. Só trabalhamos com atletas de alto rendimento: pegamos o que é bom e tentamos torná-los melhores usando as melhores técnicas existentes no mundo. Não disputamos campeonatos nacionais há muito tempo, mas mundiais. Tem de ser referência: é para isso que temos o equipamento mais moderno do mundo para medir a performance do atleta, ver onde está a deficiência e através de algo específico fazer um diagnóstico com o treinador para ele continuar depois. Essa é a nossa contribuição para o esporte brasileiro e para a Olimpíada. Acabamos de inaugurar a sede nova , e ela está muito legal. Espero que tenhamos um desempenho melhor em 2016.
 
PVC: Você foi responsável pelo desenvolvimento do futebol do Audax, que era Pão de Açúcar e mudou de nome porque ninguém ia torcer…
 
AD: Não era bem assim. Tinha gente que torcia, mas era uma questão de vocês da mídia. Tinha gente que não falava ou falava Paec, mas não era um nome confortável. Fizemos uma pesquisa de mercado e trocamos para Audax. Esse é um projeto sensacional porque começou com o social. Fizemos uma peneira em São Paulo e tivemos 70 mil garotos. No final reunimos 150, dos quais a metade passou a residir conosco num centro de treinamentos na Marginal Pinheiros. Seguimos fazendo peneiras por quatro anos, e depois passamos a desenvolver os que já tínhamos e iniciar um time de futebol. Fomos indo desde a base e acabamos chegando no profissional. Tenho convicção no que estava sendo feito, até porque o Audax não tinha dinheiro. A verba era votada anualmente e não podia sair daquilo. Não era muito, e a renda praticamente não existia – só quando jogava algo muito importante. Dentro daquela verba, a gente se mantinha e conseguiu chegar à primeira divisão do Campeonato Paulista.
 
PVC: Quando ficou mais claro que você estava saindo, ficou mais ou menos claro que ia terminar o projeto. E a primeira vez que eu vi a marca do Casino foi em uma camisa de futebol…
 
AD: Do Saint-Étienne, que é onde fica a sede do grupo.
 
PVC: Isso, o Saint-Étienne tinha a marca do grupo. Mas quando houve a transição do Pão de Açúcar para eles, ficou claro que você ia sair. Você se frustrou com o projeto?
 
AD: Não. Vamos falar de esporte e não de business, mas foi um processo. O Casino quis terminar com tudo que tinha ligação comigo. O Audax foi vendido ao Mario Teixeira, um ex-diretor do Bradesco, e ele está tocando. Não está muito bem neste ano, mas eu fiquei feliz de ver que está tendo continuidade. O NAR estava no mesmo terreno na Marginal, mas veio comigo quando eu deixei o GPA. Aliás, foi a única coisa que eu trouxe – do Audax eu já tinha saído. O que eu acho importante falar é que nessa experiência ficou claríssimo que o futebol profissional, se for bem administrado, dá para viver. Pode não ser um grande negócio, mas dá para tocar.
 
PVC: Sua percepção é que não é um grande negócio? A gente tem uma percepção de que o Manchester United tem uma marca extraordinária, mas uma dívida também.
 
AD: A dívida não significa nada; o que significa é a capacidade de pagar a dívida. Isso que os bancos querem: eles querem que você tenha capacidade de pagar. O que distorce um pouco às vezes é que você tem principalmente árabes com massa de dinheiro. Agora, com o petróleo do jeito que está, ficou um pouco mais complicado. Se você colocar sua marca e um mundo de dinheiro tão grande, o outro que está administrando um financiamento vai ter mais dificuldade. Mas não há dúvida de que são todos viáveis os que são bem administrados, e aqui no Brasil dá para fazer isso. Dá para ser melhor? Claro que podia, mas isso passa pela estrutura: tem de repensar o Campeonato Brasileiro e os regionais, por exemplo. Algumas modificações melhorariam muito a viabilidade. Acho que isso vai acabar sendo feito.
 
PVC: Eu tenho um pensamento de que repensar o campeonato não é a fórmula de disputa, mas organizar o campeonato como um produto que faça as pessoas se sentirem com necessidade de participar do projeto. Você não pode deixar de ver o jogo do São Paulo no fim de semana porque esse vai ser o assunto da segunda-feira. Mas no nosso caso, o assunto de domingo que vem vai ser Barcelona contra o Real Madrid.
 
AD: Você tem toda razão, mas quando eu digo repensar o futebol brasileiro é que você tem milhares de atletas no Brasil. Desses atletas, só uma minoria trabalha o ano todo. A maioria trabalha durante os estaduais, que duram três meses. Depois, passam nove meses desempregados. Aí o cara vai trabalhar com outra coisa, vai ser repositor de supermercado ou vai trabalhar conosco na BRF. Isso interrompe o ciclo de desenvolvimento. Temos de repensar o futebol brasileiro. Qual é a defesa dos que não querem? Que o Brasil é um país continental, com norte, nordeste, centro, sul e sudeste, mas dá para fazer. Existem formas de fazer como a Premier League e a segunda divisão. Dá para fazer futebol no Brasil inteiro. Veja o principal campeonato dos Estados Unidos, que é a Major League Soccer: não sei o que você pensa sobre isso, mas eles têm uma fórmula com dois blocos, que são leste e oeste. É uma maneira de encarar. Você não sai direto com um mata-mata, o que seria um problema. Você não pode fazer um campeonato que tenha uma primeira parte de cinco meses para todo mundo, e depois tenha cinco meses com 50% do pessoal desempregado. Temos de ver uma fórmula em que os times joguem o maior número possível de partidas durante o ano. Sou adepto dos pontos corridos, e sei que você também é. É o mais correto porque mostra a performance do ano inteiro. Quando vai para o mata-mata, você passa a medir a performance do fim do ano.
 
PVC: Sou adepto dos pontos corridos, mas a gente tratou o tema muitas vezes como se fosse a varinha de condão. Não é assim. Como mudar o formato para adicionar quatro datas no fim do ano, não muda nada. No fundo, é um empate por 0 a 0.
 
AD: Acho que a gente pensa. Eu leio muito – não ponho muita coisa no blog para você ler, mas leio. Acho pontos corridos melhor, mais correto, que representa melhor quem teve performance. Dá para fazer alguma coisa no fim? Até pode. A experiência americana está aí para ser observada. Na minha vida inteira, fui mais um copiador do que um inventor. Eu gosto de saber quem está fazendo melhor. Quem está ganhando o jogo? Quem são os bons? Se olharmos a experiência americana, é muito importante. Meu lado empresarial diz agora: os Estados Unidos são uma força muito grande. Eles já saíram da crise e têm uma capacidade muito grande. Ter futebol é muito importante – se eles se desenvolverem, o mundo todo vai se beneficiar. Temos de olhar a experiência deles e tentar uma fórmula aqui em que a maior parte dos atletas jogue sete ou oito meses por ano – e não três, como eles têm jogado.