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De fralda e "tanquinho": mais uma criança sarada ganha fama

Daniel Lisboa

Colaboração para o UOL Esporte

15/01/2016 06h00

Elas ressurgem de tempos em tempos: as crianças “saradas”. E, como sempre, alguns elogiam, e outros ficam indignados. O último a integrar esta lista é o australiano Dash Meagher, de apenas três anos, que já possui página no Instagram.

“Atleta” aos dois anos

O caso ganhou repercussão depois que o jornal britânico “Daily Mail” fez uma reportagem sobre o garoto. O pequeno Dash já tem músculos salientes pelo corpo e fascínio por atividades físicas. Esqueça o videogame e a TV: o que ele gosta mesmo é de correr, pular e até se exercitar em um trapézio especialmente montado para ele em sua casa.

As estripulias de Dash estão devidamente registradas em sua página na rede social, onde é conhecido como nada menos que “musclylittlemonster”, ou “monstrinho musculoso”. Ao “Daily Mail”, a mãe do garoto, Ursula, disse ter notado que o garoto possuía um “six pack”, ou seja, um abdômen definido, quando trocava suas fraldas. Ela contou também que levou Dash para correr pela primeira vez quando ele tinha dois anos e, ao invés de só uma caminhada tranquila, o garoto se mostrou capaz de “correr por quilômetros”.

Irmãos pegam pesado

Apesar da história de Dash chamar atenção, casos bem mais extremos já viraram notícia. Em 2014, quanto tinham apenas 7 e 9 anos, os romenos Claudio e Giuliano Stroe já eram conhecidos como “irmãos Hércules”.  Na época, a página de Giuliano no Facebook já tinha 1,2 milhão de curtidas. Hoje está perto de 4 milhões, e a rotina de Giuliano é, literalmente, coisa de gente grande se comparada a de Dash.

No canal do YouTube do garoto romeno, é possível acompanhar seus treinos pesados. Giuliano faz supino, levanta alteres, faz flexões, barra e “cara de mau”. O romeno já bateu recordes mundiais em flexões verticais e mais tempo na posição “bandeira” em um mastro.  Também ao “Daily Mail”, os pais dos garotos garantiram que não forçam os filhos a malhar e que eles não usam nenhum medicamento para ganhar músculos. O pai, Iulian Stroe, porém, admitiu “investir na carreira” dos filhos.

O ex-“garoto mais forte do mundo”

Outro caso que ficou famoso é o do ucraniano Richard Sandrack. Hoje com 23 anos, aos 11 ele foi considerado o “garoto mais forte do mundo”. As fotos da época não deixam dúvidas de que havia uma grande chance de isso ser verdade, e Richard ganhou notoriedade como se estivesse em uma espécie de “freak show” anatômico. Uma matéria de outro jornal britânico, o “The Guardian”, diz que há suspeitas de que Richard (que então vivia nos EUA com a família) encarava até sete horas de treinos diários e chegou a abandonar a escola para ter aulas em casa.

O histórico do pai de Richard, Pavel, reforça a ideia de que ele passou dos limites para fazer do filho um “mini-Schwarzenegger”. O treinador do garoto à época, Frank Giardina, se revoltou contra o que considerou um comportamento criminoso de Pavel em relação ao filho. Acabou ameaçado de morte e deixando Richard. Já Pavel, pouco tempo depois, foi preso por bater na mulher, que teve pulso e nariz quebrados na agressão.

Richard abandonou a malhação depois disso e aos doze anos já parecia uma criança “normal”.  Hoje seu físico está longe de o de um fisioculturista, e ele trabalha como dublê para a Universal Studios.

Só malefícios

Especialista em endocrinologia e metabologia, o médico Ricardo Barroso não tem dúvidas sobre o que diria aos pais de crianças como essas.

“Sou totalmente contra submeter crianças a exercícios extenuantes. Isso pode prejudicá-las tanto no aspecto emocional quanto no físico”, diz o médico.

Ele explica que, mesmo que uma criança consiga ganhar músculos, seus ossos e tendões não estão preparados para suportar tal desenvolvimento. “Além disso, é possível que essas crianças desenvolvam algum distúrbio hormonal com o passar dos anos”, completa o médico.

A posição de Barroso vai ao encontro do que pensa a médica Louise Cominatto. A endocrinologista orienta a prática de atividades físicas no Ambulatório de Obesidade do Instituto da Criança do HC (Hospital das Clínicas) de São Paulo. “Eu só consigo ver aspectos negativos nestes casos”, diz ela. “Uma criança não tem as cartilagens de crescimento fechadas ainda. Extrapolar nos exercícios pode prejudicar o crescimento delas”, diz a Dra. Louise.

Os médicos explicam que a idade certa para fazer musculação e esportes mais intensos vem mesmo na puberdade. O que não significa, claro, que crianças não possam se exercitar: se manter ativo, argumentam, é muito importante numa sociedade cada vez mais sedentária. O que está em discussão é o evidente exagero.

Neste sentido, atividades como o CrossFit  Kids – uma versão para crianças do famoso  e puxado treino com exercícios funcionais – pode até ser uma boa opção. “Desde, claro, que adaptado às possibilidades de uma criança”, diz Dr. Ricardo. “Neste caso, a parte lúdica do exercício é a mais importante. As crianças não estão ali para ficarem saradas”.