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Ela venceu o preconceito e virou uma das melhores do turfe brasileiro

Joqueta Jeane Alves afaga um de seus cavalos após treinamento no Jóquei Clube de São Paulo - UOL - UOL
Imagem: UOL

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

26/05/2017 04h00

A história de sucesso de Jeane Alves reforça uma impressão dos tempos em que vivemos: restam poucas fronteiras para as mulheres ultrapassarem. A cearense de 28 anos é hoje um dos principais destaques do turfe nacional, usando competência e trabalho para deixar para trás o pacote de desconfiança de um universo tipicamente masculino. Competindo contra homens (e ocasionalmente vencendo eles), a joqueta dá sua contribuição ao debate atual sobre igualdade de gêneros.

Jeane disputa atualmente o título do ano hípico do Jóquei Clube de São Paulo, brigando páreo a páreo por um das mais prestigiosas façanhas do turfe brasileiro. A temporada acaba em 30 de junho e, com 44 vitórias, a joqueta ocupa neste momento a segunda colocação entre cinquenta competidores.

Alguns anos foram precisos até que Jeane atingisse tal patamar de excelência. Basta acompanhar um treino para constatar que a joqueta conta com o respeito de funcionários, proprietários de animais e demais atletas do turfe no Jóquei Clube de São Paulo. No entanto, o caminho até este status foi marcado por alguns episódios de desrespeito, principalmente por parte de apostadores.


Jeane Alves venceu desconfiança masculina para ser uma das melhores do turfe brasileiro - UOL - UOL
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"Já escutei piadinhas: 'ah, se fosse um homem tinha ganho. Perdeu porque é mulher'. Isso a gente escuta bastante. No começo eu ficava meio abatida. Hoje em dia, não. Entra aqui, e sai pelo outro lado. Faço de conta que sou surda, e bola para frente", declarou Jeane Alves em entrevista ao UOL.

"Eu acho que tenho que trabalhar mais do que os homens para poder competir junto com eles. Os homens podem ter mais força do que eu. Mas às vezes eu ganho na delicadeza com o cavalo. Às vezes tem um cavalo que não gosta tanto de paulada. Às vezes no preparo físico, às vezes minha cabeça pode estar melhor. Eu tento juntar isso tudo para competir de igual para igual com eles", acrescentou a joqueta.

A vida como profissional já levou Jeane a competir em páreos em diversos países, como Inglaterra, Bélgica, Peru, Argentina e China. Na experiência no exterior, a brasileira disse identificar que o papel da mulher parece mais desenvolvido.

"Quando vou competir lá fora, tem mais mulher montando, mais mulher cuidando do cavalo, sendo treinadora, tem mulher que limpa eles, escova, dá comida e tudo. Tem galopadora, que galopa com os cavalos de manhã. O pessoal até fala que gosta mais das mulheres do que dos homens, por serem mais delicadas com o cavalo", afirmou. 

Uma vida devotada aos cavalos (e até namoro dentro do turfe)

Há nove anos em São Paulo, Jeane mantém uma rotina comum a muitos atletas, com disciplina de treinos e privações sociais. A cearense chega diariamente à sede do Jóquei Clube antes das 6 horas da manhã e encara sessões rigorosas de treinamento. Algumas vezes por semana, durante a tarde, a joqueta ainda complementa a preparação com atividade em academia. 

Contratada como joqueta do Haras Moema, Jeane costuma competir aos sábados e geralmente só tem o domingo para descansar. Mas mesmo nesses dias o mundo do turfe está presente, já que a atleta namora um criador de cavalos, filho de um proprietário.

A joqueta cearense projeta a carreira pelo menos até os 40 anos. Até lá, pretende agregar ao currículo vitórias nas provas mais badaladas do país: o Grande Prêmio São Paulo e o Grande Prêmio Brasil, realizado no Rio de Janeiro. Neste ano, Jeane Alves terminou em 7º lugar no evento paulistano.