Medalhista olímpica lembra que verba de campanha da Rio-2016 impressionava
Em 2008, a velejadora Isabel Swan ganhou a medalha de bronze na classe 470 nos Jogos de Pequim. Na volta da China, ela lembra de um luxo inédito: pela primeira vez, voou na classe executiva. O upgrade veio por acaso, quando ela, medalha no peito, pediu um upgrade no balcão de embarque.
No ano seguinte, Isabel voou de classe executiva (que pode chegar a 7,5 vezes o valor da econômica) mais algumas vezes. Nomeada atleta-embaixadora da candidatura do Rio de Janeiro para os Jogos de 2016, representou o Brasil na Nova Zelândia, na Suíça, na Dinamarca. Entrou no meio de uma engrenagem já em funcionamento de uma candidatura brasileira que impressionava pelo alto investimento.
“Eu não recebi nada para participar, mas todas as viagens que fiz foram de classe executiva. A primeira vez em que viajei de executiva foi em 2008. Era a volta da Olimpíada de Pequim, eu tinha ganhado uma medalha e pedi o upgrade. Em nenhuma outra competição tinha tido algo assim. Mas para todos esses lugares eu viajei de executiva. Fiquei em hotéis caros, na Suíça, na Dinamarca. Tinha quarto só para mim. Eu não esperava tanto. Era muito recurso investido”, lembra a atleta.
O último ato da campanha aconteceu na Dinamarca, onde foi realizada a eleição para a sede dos Jogos de 2016. “Eu me lembro que muitos empresários e os principais políticos estavam presentes”. Entre eles, nomes que estão presos atualmente por corrupção, como o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e o empresário Eike Batista.
Em Copenhagen, Isabel foi a representante dos atletas e, em seu discurso, falou do lado humano da Olimpíada: “Para mim, defender o Rio em 2009 foi um sonho. Eu sempre acreditei no impacto que o esporte tem para mudar socialmente uma vida. Para inspirar e dar condição de uma criança crescer e ter uma boa base, uma boa formação. Acreditei muito que a vinda de uma Olimpíada para o Brasil pudesse plantar essa semente”, conta.
“Eu fiz um discurso emocional, falei sobre acreditar que a mudança social pudesse ocorrer por causa da Olimpíada. Hoje, vendo o histórico dos envolvidos, se confirmadas as suspeitas a respeito do Nuzman, realmente é decepcionante”, completa, A velejadora disputou a Rio-2016 e hoje faz parte de um programa de transição de carreira para atletas da consultoria Ernst & Young, trabalhando com governança, transparência e ética, principalmente em entidades esportivas, e responsabilidade social. É, também, embaixadora do Instituto Trata Brasil, que fala de saneamento básico.
O esporte olímpico na Lava Jato
As suspeitas a que Isabel se refere são as ações da operação da Polícia Federal envolvendo o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e seu presidente, Carlos Arthur Nuzman. Batizada de Unfair Play, é um desdobramento da Lava Jato e investiga compra de votos e pagamento de propinas na escolha do Rio de Janeiro como sede olímpica.
Nesta terça-feira, policiais foram à casa de Nuzman e à sede do COB em busca de provas para a investigação. O presidente da entidade teve seu passaporte retido e não poderá, por exemplo, ir à Lima, no Peru, para reunião do Comitê Olímpico Internacional (COI) que irá confirmar a sede dos Jogos de 2024 (Paris) e 2028 (Los Angeles).
Atletas se manifestam
Após a divulgação da ação, vários atletas comentaram as investigações. A organização Atletas pelo Brasil, uma rede de esportistas que defende ações de governança no esporte nacional, defendeu apuração maior. Outros atletas também comentaram:
Posicionamento Atletas pelo Brasil
Em relação às denúncias sobre a nova etapa da operação Lava-Jato, a Unfair Play, que investiga a fraude nas Olimpíadas, a Atletas pelo Brasil vem a público defender a ampla investigação dos fatos divulgados com profundidade e transparência, para que a população possa acompanhar o processo.
A notícia é gravíssima e chega pouco mais de um ano depois dos jogos olímpicos, em meio às discussões sobre o insuficiente legado deixado pelo evento. Situações como essa prejudicam todo o setor esportivo, os atletas e a nação brasileira.
A Atletas pelo Brasil trabalha pela melhoria do esporte e tem como um de seus objetivos a promoção da transparência e da governança profissional no esporte de alto rendimento. Estes são pontos principais de uma das maiores conquistas da organização: a criação do artigo 18A da Lei Pelé. O artigo motivou a formação do Pacto pelo Esporte, acordo entre patrocinadores privados do esporte e a criação do Rating das Entidades Esportivas.
São iniciativas que buscam a transformação do setor esportivo, com melhores mecanismos de transparência, gestão profissional e uma governança bem estruturada nas entidades esportivas. Tais mudanças são fundamentais para que o esporte no Brasil deixe de ser vitrine de escândalos e passe a ser a fonte de bons exemplos que pode e merece ser.
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