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Pivô de escândalo no caso Nuzman diz ser vítima de racismo e nega propina

Papa Massata Diack (ao centro) chega a delegacia no Senegal em 2016 para depor - Vincent Tremeau/AP
Papa Massata Diack (ao centro) chega a delegacia no Senegal em 2016 para depor Imagem: Vincent Tremeau/AP

Do UOL, em São Paulo

16/10/2017 11h46

Acusado de ser protagonista do esquema de compra de votos para o Rio de Janeiro ser eleito sede da Olimpíada de 2016 e que colocou Carlos Arthur Nuzman na cadeia, Papa Massata Diack se diz vítima de racismo. Filho de Lamine Diack, preso desde novembro de 2015 após ser acusado de encobrir doping de atletas russos, o dirigente nega que tenha cometido crime e diz acreditar que entrou na mira da lei por ser negro.

"Essa é a maior mentira no mundo dos esportes. Posso aceitar ser acusado, mas nunca provaram que eu sou o marco zero. Dizem que Lamine Diack e seu filho estão atacando atletas, e depois de 22 meses de investigação onde estão as provas? Apenas artigos na imprensa. Se tivessem provas, teriam ido para o tribunal. É um problema para um homem negro, uma pessoa africana, ter tanto sucesso depois de 16 anos de administração na Federação Internacional de Atletismo (Iaaf)", disse Diack, referindo-se ao cargo ocupado por seu pai, em entrevista ao jornal americano "New York Times".

Autoridades francesas encontraram pagamento de dois milhões de dólares para contas bancárias controladas por Diack perto do dia em que o Rio de Janeiro foi escolhido como sede das Olimpíadas de 2016. No mesmo dia, o filho do ex-presidente da Iaaf transferiu 300 mil dólares para Frankie Fredericks, que tinha direito a voto.

De acordo com Diack, as transferências são uma “infeliz coincidência”, já que na época os brasileiros patrocinavam um novo evento criado pela Iaaf. Na época, o acusado trabalhava como consultor da organização.

Além disso, Diack se defende dizendo que Fredericks e seu pai não votaram no Rio de Janeiro.

"Papa Diack disse, gravou, declarou: Lamine Diack e Frankie Fredericks votaram em Tóquio. Quem diz o contrário está mentindo, e estou pronto para ser intimado pelo meu pai", afirmou.

Entenda a prisão de Nuzman

A operação que prendeu Carlos Arthur Nuzman, batizada de Unfair Play, é um desdobramento da Lava Jato e investiga compra de voto e pagamento de propina na escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016. Ela foi deflagrada há exatamente um mês com mandados de busca e apreensão contra o então presidente do Comitê Olímpico Brasileiro.

Nuzman é apontado como suspeito de intermediar a compra do voto do representante do Senegal no Comitê Olímpico Internacional para a escolha da cidade do Rio de Janeiro. Para os procuradores, ele é "figura central nas tratativas".

Na denúncia apresentada pelo Núcleo de Combate à Corrupção do Ministério Federal do Rio, Nuzman é tratado como uma peça que, sem ele, a "engenhosa e complexa relação corrupta" não teria ocorrido. Não há, no documento de 129 páginas divulgado pelo MPF, qualquer menção de que o presidente do COB tenha enriquecido ilicitamente ou tenha ele recebido propinas.

O MPF ainda promete investigar "movimentações suspeitas" nas contas do COB. Uma análise de um relatório de inteligência financeira do COAF mostra que, entre janeiro de 2014 e abril de 2015, foram sacados R$ 1,4 milhão em espécie das contas do COB.

A investigação contou com a colaboração do MP francês. Inicialmente, os procuradores franceses apuravam caso de doping no atletismo. A partir da denúncia de um antigo opositor de Nuzman no COB, o MP da França descobriu existência de um esquema de compra de votos, acionando a Polícia Federal brasileira para cooperação na investigação.