Pódio no skate gera polêmica: por que homem ganhou 3 vezes mais que mulher?
A foto dos dois vencedores de um torneio de skate, esporte que estreia nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, viralizou no domingo (28) acompanhada de críticas em relação à diferença de R$ 12 mil nas premiações para a campeã feminina e o masculino.
No pódio do Oi Park Jam, transmitido pela TV Globo e realizado em Itajaí (SC), Yndiara Asp aparece com um cheque de R$ 5 mil, enquanto Pedro Barros, o vencedor do torneio masculino, exibe um de R$ 17 mil. A disparidade revoltou muitas pessoas nas redes sociais, que viram nela uma demonstração explícita de machismo. "Machismo, a gente vê por aqui", "Um belo incentivo com prêmio machista", "Igualitária nas regras, nas performances, na vida. Menos no cheque destes grandes patrocinadores. NADA JUSTIFICA MAN!". Estes foram alguns dos comentários de internautas na foto em questão.
Em entrevista ao UOL Esporte, Yndiara Asp, de 20 anos, disse que recebeu inúmeras mensagens em relação ao episódio e, embora ainda não tenha uma opinião “extremamente formada” sobre o assunto, agradeceu a mobilização feita pelo direito das mulheres.
“Acho que mulheres têm o direito de receber os mesmos valores dos homens, a gente está fazendo a mesma coisa ali. Vemos que em muitas profissões existe desigualdade de salário, o mundo é machista, e no esporte também tem”, disse a skatista de Florianópolis, que compete desde os 15 anos.
“Mas eu acho que não precisa dar tanta ênfase ao lado negativo. O torneio foi ótimo, é uma grande conquista ter atletas femininas nesse campeonato, ter a transmissão ao vivo, com certeza mais meninas vão querer participar”.
Ela disse que foi o primeiro campeonato no Brasil da modalidade Park com premiação em dinheiro pra categoria feminina. “O skate feminino começou mais tarde que o masculino, eles já estão na luta há mais tempo, a gente já está chegando agora. Estamos crescendo, chegando junto, as coisas vão acontecendo naturalmente”.
Organização diz que nível masculino é maior
O empresário André Barros, organizador do Oi Park Jam e pai do campeão Pedro Barros, justifica a diferença na premiação pelo nível de competitividade diferente entre as categorias masculina e feminina.
“Os 24 atletas masculinos são os 24 melhores skatistas do mundo. Entre as dez meninas que participaram, só três são profissionais. Não dá para comparar o nível de performance entre os dois grupos, assim não tem como a premiação ser a mesma”, disse ele.
Outra justificativa para a premiação maior para os homens é o gasto ao longo do ano que eles têm para se manter em alto nível, competindo fora do país.
“Um Pedro Barros para chegar aonde chegou, pra estar disputando esse campeonato, tem que ter um recurso gigantesco, tem que ser um top 20 do mundo, tem que fazer umas dez viagens internacionais, disputar entre uns 30 milhões de skatistas homens no mundo”, afirma o empresário. “Já as meninas têm um grau de dificuldade muito menor. Disputaram só entre brasileiras, e foi uma quantidade muito pequena de atletas em alto nível ali”.
Para participar do campeonato em Itajaí, um atleta masculino precisou estar no topo do ranking mundial do skate. Já as meninas foram selecionadas a partir de um ranking brasileiro amador. Algumas profissionais, como Yndiara, foram convidadas.
A organização do torneio diz que a premiação para as meninas é alta se comparada com o que se paga para mulheres tradicionalmente. O Oi Park Jam teme que a repercussão negativa da premiação possa prejudicar os esforços para a renovação de patrocínio para as próximas edições do evento. Ele diz que a maioria das marcas envolvidas no torneio (Vans, G-Shock, Evoke, Drop Dead) são consumidas majoritariamente por homens.
Mimimi?
Carla Mata, da Federação Piauiense de Skate, entrou na polêmica com um texto nas redes sociais que também ganhou repercussão. Com o título “Parece mimimi, e é”, ela pede um esclarecimento sobre a diferença das premiações antes do julgamento na internet.
“O que a gente vê na foto é equidade. Proporcionalmente é o que entendemos. Não adianta eu premiar igual se tem 150 homens e 50 mulheres participando. De fora ela vai reforçar a história de diferença, do machismo. Eu sou uma ferrenha combatente do tratamento entre homens e mulheres, mas quando falamos disso, temos que olhar nas situações iguais. Nesse caso a situação não é igual. O skate masculino tem mais apoio até com a espectadora feminina”, ressalta Carla.
A repercussão do texto de Carla fez amigos próximo pedirem explicações. “Para meus companheiros de ideologia socialista parece que eu estou virando a casaca e equivocada no meu pensamento, mas eu estou contextualizando para a minha realidade e a realidade do esporte. Eu não posso fugir e forjar a realidade. Não dá pra entender que tudo é machismo. Não posso omitir. Com a questão do skate olímpico tem que dar esse tipo de resposta pra acabar com essa cultura”.
Confira a nota oficial do torneio:
Temos recebido alguns questionamentos sobre a diferença de premiação do Oi Park Jam, realizado no último domingo, e entendemos que este é um debate importante para o desenvolvimento do skate no universo feminino.
O número de praticantes de skate ainda é diferente entre os gêneros e o Oi Park Jam reflete essa realidade, com 24 homens (todos profissionais e entre os mais bem colocados no ranking mundial) e apenas 10 mulheres (em sua maioria amadoras) competindo. As premiações levaram em conta, portanto, a participação qualitativa e quantitativa de skatistas profissionais, que por consequência leva a um maior grau de dificuldade para se chegar às primeiras colocações.
Para mudar esse quadro, nos esforçamos para garantir que as mulheres tivessem a oportunidade, inédita, de competirem num evento de skate com visibilidade nacional e relevância internacional.
O Oi Park Jam tem como premissa estimular a popularização do skate e o aumento da participação das mulheres nessa cena, historicamente masculina. Temos ainda a intenção de, através do estímulo ao skate feminino, quebrar mais barreiras e preconceitos para, em um futuro próximo, conquistar o objetivo de ter o mesmo número de homens e mulheres praticantes, profissionais e amadores, o que levará, naturalmente, à equivalência nas premiações. Estamos comprometidos com o debate sobre igualdade de gênero e vamos continuar nos esforçando para a inserção da mulher no skate em igualdade de gênero.
Premiação diferente é polêmica antiga em outras modalidades
Nos últimos anos, mulheres de diferentes esportes, como tênis e vôlei, vêm reclamando de receberem premiações menores do que homens. Um estudo encomendado pela rede britânica BBC no ano passado constatou que dos 44 esportes pesquisados que pagavam prêmios em dinheiro, 35 davam igualmente a mesma quantidade para homens e mulheres (83%).
A pesquisa havia sido feita pela primeira vez em 2014 e na ocasião a BBC constatou que 30% dos esportes pagavam premiação maior para homens do que para mulheres.
O tênis foi o primeiro esporte a pagar premiação igual para homens e mulheres, quando em 1973 o US Open igualou a bonificação dos torneios masculino e feminino graças a um movimento promovido pela tenista Billie Jean King e outras oito tenistas mulheres. Wimbledon faria o mesmo, mas apenas em 2007.
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