Alpinista brasileira: ganância superlota Everest e cria risco de catástrofe
A imagem do congestionamento de montanhistas no ataque final ao cume do Everest surpreendeu o mundo, mas a imagem é bastante perigosa e resultado da ganância, afirma Karina Oliani. A brasileira mais jovem a chegar ao topo da montanha explica que o limite de segurança naquela área é de 200 pessoas e as informações apontam que até 750 montanhistas dividiram aquele espaço - 275% além do limite.
"Parece um show, está todo mundo comentando. É um absurdo! [O Everest] Não comporta isso. Isto é um problema muito grande porque o governo do Nepal ganha US$ 11 mil (R$ 42,2 mil) por pessoa. Tinham prometido limitar para 200 montanhistas quando fui em 2013. Mas acho que o governo do Nepal não está nem aí".
Com a confirmação de mais duas mortes hoje, chegou a dez o número de alpinistas mortos tentado escalar o Everest.
Karina explica que o corpo humano não foi projetado para viver acima dos 5,5 mil metros de altitude e a partir deste ponto os tecidos começam a morrer. O local onde o Everest parece trânsito em véspera de feriadão ocorre acima dos 8 mil metros de altitude. Neste ponto da escalada, o oxigênio é tão escasso que a área é chamada de "zona da morte"
"Neste estágio da subida todo mundo está com um grau de edema cerebral, e um grau edema pulmonar importante. É quando precisa sair rápido. Com estas filas acontecendo acima do 8 mil é enorme o risco de catástrofe. Precisam mudar, não dá para continuar do jeito que está".
"Dinheiro fala mais alto"
A brasileira conta que em temperaturas tão extremas, que chegam aos 50 graus negativos, é preciso estar em movimento para evitar congelamento. Ocorre que foram relatados casos de pessoas que passaram até 12 horas paradas, comprometendo a segurança.
"Muitas pessoas estão descendo com congelamentos que não deveria sofrer".
A montanhista diz que a intenção de limitar o número de pessoas é algo que ouve desde sua primeira vez no Everest, em 2009. Mas ela é cética sobre mudança porque haverá impacto no bolso de empresários e do governo do Nepal.
" O mundo do montanhismo está falando disso há anos. Mas se restringe o número de escaladores todos ganham menos. Não interessante para os líderes de expedição e o governo. São os problemas que surgem quando o dinheiro fala mais alto".
Karina critica alarmismo
Mas Karina faz uma ressalva em relação às mortes. Ressalta que a cada ano é comum morrerem cerca de dez pessoas que tentam atingir o topo do Everest. Ela acrescenta que somente um dos óbitos pode ser atribuído ao congestionamento.
Nos demais, foram constatadas outras causas e há uma ocorrência que necessita de exames médicos porque a causa do óbito ainda é desconhecida, declarou Karina. Ela gostaria que medidas fossem tomadas, mas está descrente que isto vai acontecer.
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