A lesão de Jade Barbosa após queda feia no treino de quarta-feira à noite não passou de um susto. Clinicamente, nada a impede de competir já no primeiro dia oficial dos Jogos Pan-Americanos, amanhã (27). A decisão sobre escalar ou poupar a ginasta mais experiente do time brasileiro vai muito além do estiramento no joelho esquerdo.

A estratégia tem a ver com as prioridades brasileiras no calendário de 2019. O discurso oficial é o de que os Jogos Pan-Americanos são apenas um estágio para os Jogos Olímpicos. O foco da ginástica brasileira está no Mundial de Stuttgart (Alemanha), em outubro, última chance de classificar equipe completa para os Jogos Olímpicos - se classificam os nove primeiros do Mundial, além de China, EUA e Rússia, que já têm vaga.

Ou seja, se o ano do Brasil acabasse em Lima, Jade Barbosa estaria amanhã na competição com a equipe brasileira sem dúvidas.
O risco no Pan é o Brasil, pressionado e sem a atleta que atua como capitã de equipe, se apresentar mal diante de uma banca de juízes internacionais que possivelmente estará no Mundial. Com Jade e competindo bem, o Brasil poderia conquistar os jurados antes do principal evento da temporada.

"É uma modalidade subjetiva onde a apresentação do Brasil sempre é avaliada nas competições prévias ao Mundial. As competições previas são um fator de avaliação que impactam na arbitragem no Mundial. Então tem toda uma estratégia por trás do que apresentar agora, do que mostrar, o que não mostrar, dos elementos. Cada país tem a sua estratégia. Tem a ver com a estratégia do Brasil para o Mundial mais do que a participação no Pan", explicou o diretor de esporte do Comitê Olímpico Brasileiro Jorge Bichara.

A equipe está mais afastada dos jornalistas e entrevistas foram vetadas. O fator psicológico também é trabalhado pelo episódio de Jade. "Toda lesão traz um impacto dentro do grupo, ela é uma líder. É um esporte que convive com risco de lesão e estão acostumadas com a realidade do esporte e está sendo trabalhado para que a equipe não sofra tanto impacto para a competição. É um processo de superação que todas são capazes de atingir", ressaltou.

Tirar Jade do Pan, porém, também é uma decisão difícil comercialmente. A ginástica artística é a cereja do bolo da cobertura da Record TV e será transmitida para todo o país. Competir no Pan é a visibilidade que a modalidade esperou durante os últimos três anos. É o momento em que se justifica o patrocínio da Caixa Econômica Federal e quando as ginastas - Jade incluída - podem aparecer diante de futuros patrocinadores.

O Brasil nunca esteve tão forte na ginástica artística feminina, mas a falta de peças de reposição é a mesma de sempre. Principal ginasta do país, Rebeca Andrade rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho e está fora do Pan e do Mundial. Com ela, o Brasil brigaria por uma inédita medalha por equipes no Mundial. Sem ela, nas contas da comissão técnica, briga pelo oitavo lugar.

Não há margem de erro. Se Jade também se machucar, o Brasil fica sem chances de classificação direta à Olimpíada.

Pensando no Pan como uma prévia do Mundial, a comissão técnica optou por trazer Lorrane Oliveira a Lima mesmo machucada. Com lesão no pé, ela competirá apenas nas paralelas. Por isso, se o Brasil não tiver Jade, as outras componentes do time (Flávia Saraiva, Thais Fidelis e Carolyne Pedro) têm que se apresentar nos quatro aparelhos sem descarte - nas eliminatórias, quatro se apresentam por aparelho, com a pior nota descartada.