Lima adota rodízio às vésperas do Pan, mas trânsito é desafio logístico
Conhecido por ser um dos piores do mundo, o trânsito de Lima é o grande desafio dos Jogos Pan-Americanos que começam hoje, de modo formal, na capital peruana, com a cerimônia de abertura. Os organizadores conseguiram que as autoridades tomassem providências para garantir algum conforto a atletas, imprensa e funcionários. Testado ao longo da semana, o sistema ampliou o caos para quem mora na cidade.
Os Jogos Pan-Americanos têm cerca de 6,8 mil atletas e 15 mil credenciados: pessoas que andam para cima e para baixo com uma credencial pendurada no peito, indicando onde elas podem ou não entrar. Todas elas têm direito de utilizar, com veículos oficiais, entre eles 120 ônibus, os mais de 100 quilômetros de faixas exclusivas.
Assim como aconteceu no Rio, no Pan e na Olimpíada, Lima montou grandes instalações em lugares afastados. A Vila Pan-Americana (onde também está o ginásio da ginástica) fica a 20 quilômetros de Videna, palco de competições como atletismo e natação. De Videna até a Costa Verde, instalação do vôlei de praia, são mais 20 quilômetros, na outra direção. O resto fica ainda mais longe.
Imagine fazer esse trajeto em uma cidade com o trânsito caótico, onde o som urbano é o das buzinas e as leis de tráfego parecem ter efeito nulo. Na quarta, de Uber, a reportagem do UOL Esporte levou 40 minutos do hotel (próximo a Videna) até o vôlei de praia, uma hora e 25 minutos do vôlei de praia até a Vila Pan-Americana e mais uma hora de volta ao vôlei de praia. Depois, mais 45 minutos até Videna. Quase quatro horas no trânsito.
Naquele dia, já estava funcionando uma polêmica lei aprovada na sexta-feira passada, a uma semana da abertura. Repentinamente, passou a vigorar um sistema de rodízio de carros, muito mais rígido que o de São Paulo. Em Lima, a partir desta semana, os carros com placas de final par não circulam às segundas e quartas das 6 às 10h e das 17 às 21h. Na terça e na quinta a regra vale para as placas de final ímpar. Para sexta, sábado e domingo, todas as placas são liberadas.
A reportagem do UOL Esporte só ficou sabendo da restrição, chamada de "Pico y Placa", pelos jornais e pelos motoristas de aplicativo queixosos. Há pouca sinalização nas ruas - em Lima desde segunda, uma única faixa foi vista. É como se não existisse a proibição, que até o fim da semana que vem vale apenas nas avenidas principais.
Os corredores exclusivos para os credenciados funcionaram mal até quinta-feira. Em um ônibus que estava a reportagem do UOL Esporte, três jornalistas estrangeiros pediram autorização do motorista, desceram na pista, abriram espaço entre os cones para o veículo entrar na faixa, e depois voltaram para fechar. Mais à frente, atletas da Argentina fizeram o mesmo.
A partir de sábado (27), quando o Pan de fato começa (algumas modalidades já estão em andamento, registre-se), a expectativa é que os corredores funcionem e atletas e jornalistas possam se deslocar com mais facilidade. Mas a competição não é feita só para os credenciados. O principal foco é o público.
Lima tem apenas uma linha de metrô - construída pela Odebrecht, empresa envolvida em casos de corrupção no país - os ônibus urbanos, em sua enorme maioria, são velhos e surrados. No entorno das instalações há pouquíssimas vagas de estacionamento, o que inibe a utilização de carros de passeio. Quem preferir utilizar aplicativos como o Uber precisa ter em mente o bloqueio em diversas vias e se o veículo solicitado tem permissão para circulação plena naquele dia.
Considerando isso tudo e aproveitando que o dia 28 de julho é feriado nacional, o equivalente ao 7 de setembro no Brasil, o governo decretou que o dia 30, terça, é ponto facultativo. A ideia é que muita gente saia para viajar e deixe a capital mais vazia. Além disso, até o dia 4 as crianças estão em férias escolares. Depois disso o problema deve se agravar.
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