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Pan 2019

Um a cada quatro brasileiros luta por vaga olímpica no Pan de Lima

Equipe brasileira de badminton busca vaga na Olimpíada no Pan-2019 - Jonne Roriz/COB
Equipe brasileira de badminton busca vaga na Olimpíada no Pan-2019 Imagem: Jonne Roriz/COB

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em Lima (Peru)

26/07/2019 04h00

Competindo em casa, o Brasil ganhou convites para disputar a maioria das provas olímpicas da Rio-2016. Sabendo disso, o Pan-Americano de 2015, que foi disputado no Canadá, se transformou em treino para a maioria das modalidades. No Pan de Lima, que começa hoje, é diferente.

Não haverá Olimpíada de Tóquio para quem não conseguir a vaga dentro das piscinas, quadras, tatames. Por isso, um em cada quatro atletas brasileiros que vão competir no Peru compete por mais do que o simples título de melhor do continente. Para eles, o Pan-2019 é seletiva olímpica. A chance de carimbar o passaporte no Peru é, quase sempre, por um caminho mais curto e menos concorrido do que em Pré-Olímpicos Mundiais.

Com o Brasil consolidado como segunda (ou terceira) força do continente, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) já não olha o Pan como demonstração de poder. A campanha em Lima será bem sucedida se a delegação brasileira voltar para casa recheada de vagas olímpicas na bagagem.

Coletivos

No handebol e no polo aquático, o Pan é estratégico. Tanto que o time masculino de polo foi ao Mundial da Coreia do Sul com uma programação de treinos paralela aos jogos e voltada ao Pan. Nas duas modalidades, o campeão está garantido em Tóquio sem precisar passar por um Pré-Olímpico Mundial - onde os europeus são sempre favoritíssimos.

A tarefa, porém, é complicada. O Brasil até ganhou a Copa Uana, uma espécie de Campeonato Pan-Americano, em janeiro, em São Paulo. Mas será difícil repetir a dose no Pan, valendo vaga olímpica, até porque EUA e Canadá, as duas potências da modalidade nas Américas, estão no grupo oposto na primeira fase e, por isso, o Brasil deverá ter de bater ambos para ser campeão. Entre as mulheres, o time brasileiro é jovem e sequer se classificou ao Mundial (foi a primeira vez em 10 anos que isso aconteceu). Como os EUA ganharam a Liga Mundial, a vaga continental deve ficar com quem for vice no Pan.

No handebol, as vagas são prováveis. O time feminino é o atual pentacampeão do Pan e só deve ter algum trabalho em uma eventual final contra a Argentina, dia 5 de agosto. A goleira Mayssa, por exemplo, adiou sua volta à seleção para o Mundial (em novembro, no Japão) porque acha que o Brasil ganha o Pan com ou sem ela.

No masculino, a melhor geração do handebol brasileiro tem, em tese, ligeiro favoritismo contra a arquirrival Argentina. Neste século, os dois times fizeram 12 finais e uma semifinal em 13 Campeonatos Pan-Americanos ou Jogos Pan-Americanos. O Brasil está em desvantagem, por sete a seis.

O hóquei sobre a grama tem a mesma regra, mas o Brasil não se classificou para o Pan nem no masculino nem no feminino.

Hipismo

Mais de 80 vagas olímpicas já foram distribuídas a 18 países no hipismo, mas o Brasil ainda não tem nenhum lugar garantido em Tóquio. Depois de falhar nos Jogos Mundiais Equestres do ano passado, todo o foco do COB e da CBHb está no Pan, que dá duas vagas por equipes no adestramento e no CCE e três nos saltos.

A maior chance do Brasil é nos saltos, com a equipe que, pela primeira vez neste século, não contará nem com Rodrigo Pessoa nem com Doda. Mas a equipe é experiente e tem tudo para terminar entre as quatro primeiras, aproveitando o fato de que os EUA já têm vaga olímpica.

No CCE, prova em que o Brasil ganhou prata em Toronto-2015, as chances também são grandes. São duas vagas em jogo e os Estados Unidos, vice-campeões mundiais, já estão classificados. No Mundial do ano passado, Canadá e Brasil foram finalistas. No adestramento, a situação é mais difícil porque o Brasil tem menos tradição e os EUA ainda não têm vaga.

Se as vagas por equipes não vierem, nos saltos o Brasil ainda pode qualificar um cavaleiro individualmente, já que estarão em jogo vagas para quatro atletas das Américas do Sul e Central que não dos países classificados por equipes. Nas outras provas, os brasileiros passariam a depender do ranking mundial, para o qual o Pan não conta pontos.

Na água

Os Jogos Pan-Americanos distribuem quatro vagas olímpicas nos saltos ornamentais e 11 no nado artístico. Os brasileiros, porém, têm chance remota de sucesso. Nos saltos, diferentemente de outras modalidades, a vaga é exclusivamente do campeão das provas individuais. Se este já estiver classificado, a vaga é redistribuída no Pré-Olímpico Mundial, não ao medalhista de prata.

O Mundial de Esportes Aquáticos mostrou que o Brasil está muito atrás de Canadá, Estados Unidos e México e, atualmente, até da Colômbia. Chance, pequena, só com Ingrid Oliveira, que foi cortada do Mundial por lesão e ainda quer disputar o Pan.

No nado sincronizado, se classificam a equipe campeã (para se apresentar em equipe e no dueto na Olimpíada) e o melhor dueto que não o campeão por equipes. O Brasil, que até 2013 foi a terceira força do continente, perdeu espaço para o México em 2015 e está cada vez mais longe dos três países da América do Norte. Vaga olímpica, só se o dueto não decepcionar no democrático Pré-Olímpico Mundial.

Tiro certeiro

No tiro esportivo, a corrida olímpica está quase acabando. Depois de passarem longe do pódio nas etapas de Copa do Mundo e falharem no Campeonato das Américas, os brasileiros só têm mais três chances: o Pan, uma etapa de Copa (a de carabina e pistola será no Rio) e o ranking mundial.

A não ser que a zebra corra solta em Deodoro, no Rio de Janeiro, onde será disputada a etapa brasileira da Copa do Mundo, a última chance real de classificação é o Pan, que classifica dois atletas por prova. Em quatro das 12 provas, os EUA já têm dois atletas, o limite por país. Em outras sete, tem um. México, Cuba, Chile, Guatemala e Peru também já têm classificados.

Com isso, há a possibilidade de vaga olímpica até para o quinto colocado, o que seria exceção. As melhores chances do Brasil parecem ser com Emerson Duarte (pistola de tiro rápido 25m), Júlio Almeida e Philipe Severo (ambos na pistola de ar 10m), Leonardo Moreira e Cassio Rippel (carabina 3 posições), todas provas de carabina e pistola masculinas. No tiro ao prato e nas provas femininas, o Brasil não foi ao pódio no Campeonato das Américas.

Vela

Na vela, o Brasil vai com uma delegação de 17 atletas, mas só três deles brigam por vaga olímpica. O Pan é classificatório das Américas nas classes Laser e na Laser Radial e da América do Sul nas classes 49er, 49erFX e Nacra 17. Na Laser, de Robert Scheidt, na 49erFX, de Martine Grael e Kahena Kunze, e na Nacra 17, de Samuel Albrecht e Gabriela Sá, o país já está classificado.

Na Laser Radial, as duas primeiras colocadas do Pan vão a Tóquio, mas EUA, Argentina, Uruguai e Canadá estão fora do páreo porque já têm vaga. Gabriella Kid é a representante verde-amarela. Depois, uma vaga ainda será disputada na Copa Brasil 2019, seletiva sul-americana. Já Gabriel Borges e Marco Grael, da 49er, devem ter parada dura contra os argentinos pela única vaga em jogo. Se falharem, a única alternativa é um bom resultado no Mundial da classe.

Outras vagas

No tiro com arco, o Pan distribui vagas aos campeões das chaves individuais masculina e feminina e à dupla vencedora da competição mista. O Brasil tem boas chances com Marcus Vinicius D'Almeida, principalmente. Se a vaga não vier, os brasileiros ainda terão chance em um Pré-Olímpico das Américas e em uma repescagem mundial.

No tênis, o Pan classifica campeão e vice da chave de simples. O Brasil, porém, vai com atletas mal ranqueados entre os homens. No feminino, Bia Haddad Maia chegou a ser convocada, mas pediu dispensa.

Já o pentatlo moderno distribui cinco vagas no masculino e cinco no feminino, de forma escalonada: duas para América do Norte e Central, duas para a América do Sul, e uma para o colocado subsequente. Com Yane Marques aposentada, o Brasil vem mal na modalidade. Mesmo assim, Felipe Nascimento e Isabela Abreu são ambos os terceiros melhores sul-americanos do ranking mundial, pouco atrás dos argentinos, e têm boas chances.

O karatê também classifica diretamente, mas por um critério bastante confuso, cheio de asteriscos. O Pan tem cinco categorias por gênero (quatro de peso, mais o kata). Entre os campeões, o homem e a mulher com melhor posição no ranking de abril de 2020 da respectiva categoria, desde que fora da zona de classificação pelo ranking, vai a Tóquio. Uma terceira vaga, pelo mesmo critério, é independente de gênero. Na Olimpíada, o karatê estreia com apenas 10 atletas em cada chave, sendo quatro apontados pelo ranking mundial e três pelo Pré-Olímpico.

Vale, mas nem tanto

Em diversas modalidades, o Pan vale pontos no ranking mundial, mas sem ser decisivo. É o caso do badminton, em que o Brasil tem o sonho distante de ocupar as vagas continentais nas duplas mistas e masculina. Hoje, ambas as vagas estão com o Canadá, por cota, e os brasileiros precisam de diversos bons resultados para se aproximarem. Em Lima, o confronto é direto.

Já no taekwondo e em outras modalidades, o Pan é um entre muitos eventos da temporada que contam pontos para um ranking universal e, dependendo como for, o caminho fica mais curto para Tóquio com uma derrota. A mexicana Maria Espinoza, por exemplo, hoje é sexta do mundo na categoria +67kg. Para o Brasil, é mais interessante que ela seja campeã do Pan e fique com uma vaga olímpica como uma das quatro melhores do ranking. Isso tornaria menos complicado o Pré-Olímpico das Américas, ano que vem.

No atletismo, qualquer evento oficial vale como tomada de tempo. O alto nível técnico dos rivais e da competição facilita a obtenção de boas marcas. Até agora, porém, a CBAt não decidiu qual o período de obtenção de índices e, por isso, ninguém sabe se o Pan vai contar como classificatório. Já na natação, a CBDA definiu que a única competição aceita nas provas individuais é o Troféu Brasil do ano que vem. Nos revezamentos femininos e no 4x100m medley misto, é a chance de fazer boas marcas para o ranking que definirá quatro vagas olímpicas.