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Pan 2019

De costas, Cristo da Odebrecht vira cenário para medalhistas no Pan

Cristo doado pela empreiteira brasileira Odebrecht à Lima aparece de costas na pista de mountain bike do Pan de Lima-2019 - Guillermo Arias / Lima 2019
Cristo doado pela empreiteira brasileira Odebrecht à Lima aparece de costas na pista de mountain bike do Pan de Lima-2019 Imagem: Guillermo Arias / Lima 2019

Demétrio Vecchioli e Karla Torralba

Do UOL, em Lima (Peru)

29/07/2019 04h00

O Morro Solar é um ponto visível a todos que estão em Lima, no Peru. De toda a costa litorânea e outros pontos, lá está o morro acinzentado sob a névoa do inverno peruano. O Cristo dado ao país pela construtora Odebrecht também fica em destaque, por estar em ponto alto. Na disputa do mountain bike dos Jogos Pan-Americanos de Lima, com percurso projetado sobre esse mesmo morro, a estátua compôs cenário para os ciclistas. Ainda que sempre de costas.

O UOL Esporte mostrou a história da estátua, nomeada oficialmente de Cristo do Pacífico, mas conhecida hoje em dia como o Cristo do Roubo, por ter sido presente da construtora Odebrecht no segundo governo do ex-presidente do Peru Alan García, em 2011. O monumento ficou em evidência por causa da Lava Jato peruana, depois de acordo de delegação premiada de empresários da construtora com a Justiça do país.

Na manhã de ontem (28), no entanto, o Cristo que divide peruanos entre a religião e a vergonha por causa de sua origem, saiu em várias fotos do Pan. O percurso do mountain bike foi todo projetado no Morro Solar. Sua silhueta era marcante até mesmo quando os ciclistas passavam a linha de chegada.

Jaqueline Mourão conquistou o bronze do Brasil entre as mulheres; Henrique da Silva foi prata no masculino.

O Morro Solar foi escolhido não pelo Cristo, mas por ser um lugar onde as pessoas vão praticar mountain bike e de valor histórico. "O Morro Solar tem muita história para o Peru, porque foi onde aconteceu a batalha de Chorrillos (Guerra do Pacífico, em 1881) durante a guerra com o Chile. Tomamos precauções para realizar a prova por isso, para não danificar um patrimônio", explicou o responsável pelo local na disputa do Pan Bustamante Calderon.

A cerca de dois quilômetros em linha reta para o Oceano Pacifico, o Cristo fica de costas para o mar e, consequentemente, para a prova. A estátua foi erguida a uma altitude de 250 metros. O momento da prova em que os atletas mais se aproximaram do monumento foi na rota 4.

Os torcedores que foram acompanhar as corridas ficaram mais próximos ainda do Cristo. Cercado por uma zona arqueológica, o circuito foi montado para dar visibilidade à área litorânea, driblando regiões proibidas pelo relevo.

Em um dia de pouco trânsito em Lima, por ser domingo e feriado pátrio, a organização montou um bloqueio para carros no começo da estrada à beira-mar que leva ao Cristo.

Torcedores precisaram andar quase meia hora para chegar à base onde fica a linha de chegada, passando a menos de 200 metros do pé do cristo. Os últimos cinco minutos de subida podem parecer poucos, mas são de tirar o fôlego mesmo de quem tem preparo físico. Mesmo assim, dezenas de pessoas encararam a empreitada. Mas não para ver a estátua de perto.