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Pan 2019

Goleira do handebol perdeu 20 kg antes de virar heroína da final do Pan

Renata, goleira do Brasil, foi destaque da final do Pan-2019 - Wander Roberto/COB
Renata, goleira do Brasil, foi destaque da final do Pan-2019 Imagem: Wander Roberto/COB

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em Lima (Peru)

01/08/2019 04h00

"Renata, essa é uma lembrança para você, com todo o nosso carinho. Desejamos que um dia você possa se juntar a nós e vista esta camisa com o mesmo amor que sentimos. Continue trabalhando duro, não desista nunca e lute sempre pelos seus sonhos. Com carinho, Babi e Mayssa".

A champanhe da comemoração pelo título mundial de 2013 ainda estava gelada quando Babi e Mayssa pegaram uma camiseta utilizada por elas nos treinamentos e escreveram a dedicatória a uma menina de 14 anos que ainda dava seus primeiros passos no handebol.

A mensagem chegou pelo Facebook, no dia seguinte ao título. Babi, a melhor goleira do Mundial, escrevia à melhor goleira de sua categoria em Pernambuco. "Renata, a Rita nos contou a tua história e ficamos muito felizes com a tua dedicação e força de vontade. Isso é handebol e isso é amor ao que se faz. Estamos mandando um presentinho para você". O presente era a camisa.

Desde aquele dia a Terra deu 2.046 giros em volta do seu próprio eixo. E o mundo de Babi, Mayssa e Renata deu uma volta gigante.

Renata, goleira do handebol - Wander Roberto/COB - Wander Roberto/COB
Imagem: Wander Roberto/COB

Consagração

O Brasil perdia para Argentina na final dos Jogos Pan-Americanos de Lima, na terça-feira (30), quando Babi enviou a Renata outra mensagem. Só com os dedos. Primeiro, o número um. Depois, um sinal de troca. A linguagem dos sinais esportivos traduz: "Mais um e troca". Babi já havia sofrido seis gols em sete arremessos da Argentina. A vaga olímpica estava em risco e, mais uma bola que entrasse, era Babi quem deveria sair.

Cinco anos e meio depois daquela primeira mensagem surpreendente pelo Facebook, Renata entraria em quadra para o maior e mais importante jogo de sua carreira. Orientada do banco de reservas pela sua maior ídolo, a menina de 20 anos fechou o gol e comandou a virada brasileira sobre a Argentina, por 30 a 21. Botou no peito o ouro nos Jogos Pan-Americanos e carimbou o passaporte da seleção para a Olimpíada.

"Eu ficaria muito feliz de entrar no jogo e aconteceu, cara. Aconteceram uns erros bobos na defesa, e infelizmente Babi não conseguiu defender as bolas que estávamos precisando. Eu estava muito nervosa, para falar a verdade. Entrei em quadra e saiu todo o nervosismo. Consegui ajudar a equipe com minha atuação. Entrei, a defesa me ajudou, e começou a dar certo. Nunca sonhei com isso [ser heroína de uma final de Pan], mas a partir de hoje vou começar a sonhar", contou ao UOL Esporte.

Mensagem recebida por Renata, goleira da seleção brasileira de handebol - Reprodução - Reprodução
Mensagem recebida por Renata: "Ficamos muito felizes com a tua dedicação e força de vontade"
Imagem: Reprodução

Determinação

Pernambucana de Olinda, Renata é um dos frutos do acampamento nacional, projeto que a Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) tocava com sucesso antes de entrar em uma crise financeira sem precedentes. Identificada em uma espécie de peneira organizada pela entidade, foi lapidada pelas mãos talentosas de Cristiano Rocha, técnico do Clube Português do Recife.

Talentosa, Renata tinha um problema: era gordinha. Aos 12 anos, pesava 100 quilos. Era 2011 e Rita Orsi, supervisora da seleção, fez uma proposta: "se você perder cinco quilos, te dou uma camisa autografada pela Chana" - então titular da seleção. Mesmo incentivada, Renata não perdeu o peso.

Dois anos depois, Renata já tinha, em suas palavras, uma "paixão" por Babi. E não esperava a mensagem que chegou pelo Facebook. Era o incentivo definitivo para entrar em forma. Os cinco quilos foram perdidos em um mês. Logo a balança apontou 20 quilos a menos. Em 2014, ela já estava mais magra quando enfim teve o primeiro contato presencial com a ídolo.

Renata atuando como goleira na final de handebol do Pan contra a Argentina - Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br - Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br
Imagem: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

"Foi em Maceió, onde o Brasil estava disputando um torneio amistoso justamente contra a Argentina. Chorei pra cacete, tirei foto com ela e a camisa e tudo mais. Aquilo só me inspirou mais e mais. Perdi os quilos que queria perder, e as coisas só melhoraram", lembra.

Em forma, Renata logo se firmou nas seleções de base, disputando os Mundiais Juvenil e Júnior. Há duas temporadas, transferiu-se para a Espanha, onde foi observada de perto pelo técnico da seleção, Jorge Dueñas, que é espanhol. Ganhou a chance no Pan e a agarrou.

A partir do mês que vem, porém, ela passa a ter uma concorrente de peso. Mayssa já afirmou que vai voltar a se colocar à disposição da seleção pensando no Mundial de dezembro e na Olimpíada do ano que vem. Cinco anos e meio depois, Renata, Mayssa e Babi vão se reencontrar. A mais jovem vê a oportunidade, de novo, como um incentivo para continuar fazendo bem seu trabalho. Mas avisa: "Pouco a pouco eu vou chegando lá."

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do que foi informado na nota, a Terra deu 2.046 giros em volta do seu próprio eixo, e não em volta do sol.