Medalhistas brasileiros pedalam com bikes antigas e fora da rota mundial
O Brasil foi ao pódio pela segunda vez seguida no ciclismo de pista dos Jogos Pan-Americanos, repetindo o bronze conquistado em Toronto na prova de velocidade por equipes. Chega a ser uma façanha: nos quatro anos que separam as duas conquistas, porém, pouca coisa mudou. Até as bicicletas, que evoluíram no mundo todo, continuam sendo as mesmas. Falta dinheiro para compra novos equipamentos e para competir internacionalmente.
"Potencial já deu para ver que nós temos. A geste está conseguindo se manter entre os três primeiros da América já faz tempo. Mas como equipe a gente tem ido pouco para fora. Para piorar, na América ainda tem poucas competições. O ciclismo está na Europa. E uma passagem custa pelo menos R$ 8 mil, fora os custos com alimentação, transporte, hospedagem", lamenta Kacio Freitas, que estava presente também na conquista de 2015.
O ciclismo de pista tem regras que se distinguem de outras modalidades individuais. Só quem está bem posicionado no ranking mundial pode participar de Copas do Mundo e só quem disputa as Copas pode ir ao Mundial. Uma equipe que compete pouco não chega às principais provas e não tem chance de evoluir.
Hoje o Brasil é o 22º do ranking mundial por equipes, graças unicamente aos pontos distribuídos no Campeonato Pan-Americano do ano passado e no Brasileiro deste ano. Kacio, Flávio Cipriano e João Vitor da Silva só disputaram essas duas provas oficiais nos últimos 12 meses.
"Não há recursos sobrando, dada a situação em que o país se encontra, então é preciso ter bastante planejamento junto com técnico, COB, confederação, para tentar se classificar para Copa do Mundo, aí Mundial e aí, quem sabe, começar a sonhar com Olimpíada", completa Kacio.
Ele é um dos poucos brasileiros que tem a oportunidade de treinar diariamente no velódromo construído para a Olimpíada, no Rio, morando em um alojamento do clube. Cipriano tem o apoio da equipe de Taubaté, do interior de São Paulo, para treinar em Maringá (PR), onde existe um velódromo a céu aberto. Não é o ideal, mas é o que é possível.
O mesmo vale para os equipamentos. Flávio ainda trouxe para Lima uma bicicleta própria, de melhor qualidade, mas já defasada. Kacio, por sua vez, treina e compete com uma bike emprestada pela Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), o que é recorrente na modalidade. O problema é que ela está ainda mais ultrapassada: foi comprada há cinco anos.
"A minha não é de última geração. Até que é um equipamento bom, mas, se quebra alguma coisa, não tem peça de reposição. Trouxe por minha conta porque quero usar", explica Flávio. "Custa de 40 a 50 mil montar uma bicicleta inteira, com duas rodas de corrida e tal. Mas nem tem como comprar no Brasil, só trazer de fora", complementa o colega.
A confederação diz que, para comprar novos equipamentos para toda a seleção brasileira, teria de fazer um investimento de cerca de R$ 1 milhão. Sem patrocinador desde a saída da Caixa Econômica Federal no fim de 2016 e vivendo quase que exclusivamente da Lei Agnelo/Piva, a CBC diz que a relação entre custo e benefício não compensa.
"O material é de excelente qualidade e da mesma marca que os principais países usam. Nosso material realmente não é o mais moderno, mas não é isso o que limita um melhor desempenho. O investimento para atualização seria muito alto e muito provavelmente não proporcionaria resultados muito superiores", avalia Fernando Firmino, gestor de alto rendimento da confederação.
Kacio, Flávio e João Vitor ganharam o bronze na prova de velocidade por equipes no Pan, em duelo no qual eram favoritos absolutos contra o México e viram os rivais serem desclassificados por queimarem largada. Kacio ainda compete no Keirin, com chances de medalha.
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