Em Lima, esqueletos pré-incas disputam espaço com sedes do Pan
Em meio à modernidade que é a Videna (Villa Deportiva Nacional), a principal sede dos Jogos Pan-Americanos de Lima, montes do que parecem ser rochas e areia chamam a atenção. É como se de repente você estivesse sido transportado para os tempos mais antigos.
No enorme terreno acontecem as competições de atletismo, natação, badminton, ciclismo e outros do Pan. Há duas dessas áreas 'rochosas' de milhares de anos, onde não há muita movimentação de pessoas. Na maior parte do tempo, na verdade, a área é ignorada por quem passa apressadamente buscando informações sobre o portão de entrada da competição que vai acompanhar ou do local onde ingressos são vendidos.
Mas os dois locais têm mais histórias que todas as áreas modernas do esporte feitas para o Pan. Ali foram encontrados em 2.013 objetos e 23 esqueletos de povos pré-Incas, que habitaram o Peru de 200 a 700 d.c e de 1100 a 1400 d.c.
A área foi descoberta graças ao trabalho de arqueólogos que formaram o projeto de investigação e conservação conduzido pelo Ministério da Cultura peruano. O local ficou conhecido como Sítios Arqueológicos Tupac Amaru A e B.
"Foram cinco meses de trabalho. Ainda não foi aberto tudo. Na parte A encontramos muitas moedas antigas, porque as pessoas achavam que era um oráculo e jogavam as moedas para fazer desejos. Na B, encontramos um cemitério. A crença é que esses povos que habitavam o terreno todo da Videna não levavam seus mortos muito longe. Como não tinha nada por ali antes, foram mais de 20 enterros naquele pedacinho", explicou o arqueólogo Fernando Herrera, diretor do projeto.
Fernando Herrera contou que foram encontrados 23 esqueletos de duas diferentes culturas pré-Incas: Lima [de 200 a 600 d.c] e Ischma [1100 a 1400 d.c]. O primeiro esqueleto descoberto foi de uma mulher adulta, enterrado em posição fetal, do povo Ischma.
O lado A fica bem do lado do Velódromo do Parque Pan-Americano e é separado por uma grade de arame. O lado B está dentro da área ocupada pela Federação Peruana de Futebol. Esse achado tão precioso foi quase atrapalhado pelos treinos dos jogadores de futebol bem pertinho da descoberta dos pesquisadores.
"O gramado da Videna cortou o monumento e deixou uma parte. Em 2004, a huaca [como chamam o local da descoberta, que, nos tempos antigo, tinha lugares sagrados onde se cultivava para divindades] estava toda tomada pela seleção. Quando Lima foi apontada como sede dos Jogos, foi escolhido esse local muito próximo para sediar competições", comentou Fernando Herrera.
"Escavamos mais e aí apareceu um senhor com uma vasilha do lado", sorri Fernando ao explicar. "Mas estava com as pernas esticadas. Os enterros mais antigos eram feitos de barriga para cima ou para baixo e amarrados", contou. Eram de povos chamados de Mochica e Huari, da cultura chamada Lima.
O trabalho de cinco meses ainda não foi todo terminado. Segundo Fernando Herrera, os arqueólogos acreditam que no terreno poderá haver ainda mais descobertas e as pesquisas continuam. O arqueólogo também lamenta que a cultura peruana seja pouco lembrada.
"Temos maravilhas arqueológicas, mas tem um gravíssimo problema. A identificação do peruano está com a seleção de vôlei, a seleção de futebol. Eu gosto de esporte, mas eu acho que tem que incentivar a questão da cultura. Eu pergunto para as pessoas porque se sintem peruanas. Só uma vez uma menina me falou que era orgulhosa porque junto da casa dela havia uma huaca muito bonita", disse.
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