Pela terceira vez consecutiva a Record tem a exclusividade de transmissão dos Jogos Pan-americanos para a TV aberta. O grupo comandado pelo bispo Edir Macedo ataca em duas frentes em Lima, no Peru: Record e Record News.
Porém o interesse do público não tem sido dos maiores. A audiência média consolidada dos nove primeiros dias de evento nas telas foi de 4,5 pontos. Ainda há uma semana pela frente. Mas os números até aqui são inferiores aos registrados em Guadalajara-2011, que fechou com 8 pontos de média, e Toronto-2015, que ficou na casa dos 6 pontos. O pico até agora foi em 29 de julho, uma segunda-feira, durante as finais da ginástica artística feminina e masculina individual, em que a pequena notável Flávia Saraiva levou bronze e Caio Souza ficou com a prata.
Naquela tarde, a emissora paulista chegou a cravar a máxima 11 pontos na faixa entre as 15h e 17h. Os resultados não muito animadores fizeram a Record mexer pouco em sua grade de programação na semana passada. Fez apenas duas alterações. Passou o "Dancing Brasil", reality musical comandado por Xuxa Meneghel de quarta para terça-feira para acompanhar a estreia do Brasil contra o México no vôlei masculino, e no sábado empurrou para mais tarde os melhores momentos da novela bíblica Jezabel para exibir a derrota por 3x0 para Cuba que acabou com o sonho do penta no Pan para os meninos do vôlei.
A emissora não transmitiu ao vivo a cerimônia de abertura desta edição dos Jogos, assim como fez em Toronto-2015, exibindo os melhores momentos em replay durante a madrugada do sábado, dia 28. Essa decisão gerou críticas à emissora nas redes sociais.
Nos dois primeiros domingos de Pan, o canal também manteve sua programação normal, com "Domingo Show" de Geraldo Luís e a "Hora do Faro", atração comandada pelo Rodrigo Faro. No total, a emissora irá dedicar cerca de 50 horas de sua grade para a principal competição poliesportiva das Américas, número semelhante ao de Toronto. O número, no entanto, é bastante inferior às 90 horas do primeiro Pan transmitido pela emissora, Guadalajara-2011.
Até domingo passado, a Record transmitiu cerca 40 horas de evento e atingiu a marca de 76 milhões de espectadores.
Cadê a Carol?
O fato de dar menos espaço para o evento não justifica certas escolhas discutíveis feitas pela direção de esportes da casa. Num Pan em que o Brasil não classificou as seleções de futebol masculino e feminino, levou um time alternativo no vôlei masculino e não conseguiu vaga no basquete masculino, a grande história da primeira semana de provas foi a participação de Carolina Meligeni no torneio de tênis. A atleta é sobrinha de Fernando Meligeni, tenista argentino naturalizado brasileiro que encerrou a carreira com a suada e emocionante conquista da medalha de ouro no Pan de Santo Domingo, em 2003.
Ao lado da mãe, a argentina Concepción, e da irmã Paula, mãe de Carol, Fininho esteve in loco acompanhando a jornada da garota nas quadras do complexo de tênis de Lima. A Record chegou a produzir uma bela reportagem com o clã, na qual ouviu a avó da garota, que insistia em ressaltar o sangue portenho da neta. Mas a emissora ignorou os jogos dela, incluindo a semifinal, quando foi derrotada pela americana Caroline Dolehide, e a disputa do bronze contra a paraguaia Veronica Cepede. No momento da partida, preferiu mostrar as competições de ginástica rítmica com fita. A Record News, que tem em média 10 horas diárias dedicadas ao Pan em sua programação, dividiu-se entre competições e edições do boletim "Melhor do Pan 2019", e só mostrou Carol na derrota sofrida para Cepede.
Se a sobrinha de Meligeni não recebeu grande atenção, seu compatriota João Menezes teve sua partida contra o argentino Facundo Bagnis transmitida pela Record News no sábado à tarde. Inexplicavelmente a final, contra o chileno Tomás Barrios, só teve o último game exibido com narração de Fernando Camargo e comentários de Daniel Bortoletto.
Versátil, o time de transmissão do Grupo Record tem atuado em diversas modalidades e disciplinas durante os Jogos. Parte da mesma equipe faz simultaneamente os jogos da Internacional Champions Cup, torneio de pré-temporada de grandes times europeus que termina no próximo sábado.
Com elenco reduzido, a emissora contratou vários jornalistas como "freelancers" por conta do serviço extra do mês. Nessa turma vale menção para o narrador Fernando Camargo. Mais um expoente da geração do grito, o timbre rouco e agudo de Camargo foi a "trilha sonora" de muitos ouros do Brasil no Peru, como o do conjunto feminino da ginástica rítmica, o de João Menezes no tênis e a inédita medalha dourada de Ygor Coelho, o carioca da favela da Chacrinha, no badminton.
Na Record estão as estrelas da cobertura. Virna (vôlei), Luísa Parente (ginástica) e Fabíola Molina (provas aquáticas) comentam os respectivos esportes em que fizeram fama e carreira. A ex-jogadora de vôlei e a ex-ginasta trabalharam também na cerimônia de abertura ao lado do narrador Lucas Pereira.
Hablando portuñol
Em Lima, o Grupo Record conta com uma equipe formada por cerca de 50 profissionais. Entre eles estão estrelas da casa, como Mylena Ciribelli, Adriana Araújo, Rodrigo Vianna e Carla Cecato. Esta última inclusive protagonizou uma situação um tanto embaraçosa antes do início dos Jogos.
Em uma reportagem sobre uma pirâmide erguida no período pré-colombiano no centro da capital peruana, Cecato pediu desculpas ao guia do local por não falar espanhol. Nenhum problema de enviar em coberturas para o exterior alguém que não domine a língua do país, desde que o profissional se limite a entradas do estúdio ou faça a cobertura de seleções ou atletas brasileiros. Agora não pegou bem ver a jornalista exposta em cadeia nacional demonstrando essa limitação de forma explícita. Mas ao menos Cecato revelou jogo de cintura para lidar com a incômoda situação.
Agora, irritante mesmo está sendo a experiência de acompanhar o Pan pelo PlayPlus, aplicativo de transmissão por streaming da emissora. É impressionante o número de vezes que o app trava, sai do ar ou sobrepõe vozes sem a imagem do evento sendo transmitida. Não importa o horário, ou a competição em questão.
O recurso tem se mostrado inferior a similares como o Premiere FC, Dazn ou Globo e Globosat Play. Até o problemático Now da Claro se mostra mais confiável e estável que a plataforma de vídeos da Record. Lançado há quase um ano, o Play Plus parece não estar suportando a demanda extra gerada pelo evento.
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