Pan-2019: com influência estrangeira, Brasil passa das 100 medalhas, em 2º
Nem só de natação vivem as pretensões do Time Brasil neste Pan de Lima. Nesta quarta-feira (7), é verdade que os nadadores também fizeram sua parte para a delegação nacional passar da marca de 100 medalhas no evento. A jovem geração da piscina deu a cara, garantindo uma dobradinha nos 200m livre e mais um bronze nos 100m borboleta.
Mas houve muito mais diversidade nas conquistas, com ouros distribuídos para atletismo, hipismo e tênis de mesa. O ciclismo também deu sua contribuição para mostrar novos caminhos rumo ao pódio. O resultado foi uma diferença maior para o terceiro colocado do quadro de medalhas, agora o México, que ultrapassou o Canadá. Os brasileiros têm 31 ouros, contra 26 dos mexicanos e 25 dos canadenses.
Nessa jornada plural de resultados, há uma coincidência que une os triunfos de Darlan Romani no arremesso de peso, da equipe de saltos no hipismo e de Hugo Calderano na chave individual do tênis de mesa. Por trás desses ouros há a influência de treinadores estrangeiros.
Darlan vem crescendo de produção, para se tornar um dos melhores do mundo em sua modalidade, sob instrução do cubano Justo Navarro. Ao comentar seu resultado em Lima, o atleta revelou que uma cobrança do treinador o empurrou em direção à quebra do recorde pan-americano. "Até tomei um puxão de orelha do 'profe'. Ele me disse: 'Você está aqui, cara, você já treinou, está em condições... Vamos bater'. E o resultado está aí", afirmou.
Outro nome emergente no cenário mundial, Calderano trabalha há nove anos com o francês Jean-René Mounier. "Tenho o feeling que há uma parte brasileira dentro de mim. Tenho orgulho de participar da evolução dele e do tênis de mesa brasileiro", disse. Já a equipe de saltos, com seus quatro cavaleiros vivendo fora do país, é orientada pelo suíço Philippe Guerdat, elogiado à exaustão, até, por seus ginetes. "Realmente o Guerdat só nos surpreende tecnicamente e no trabalho de união e moral da equipe", afirmou um dos medalhistas, Eduardo Menezes.
Um recorde febril
Dos seis arremessos de peso que Darlan Romani executou para ganhar o ouro, apenas em um deles ele não atingiu uma distância maior que a do anterior. Começou com 20,81m e terminou com 22,07, o recorde pan-americano. Impressionante, certo?
Agora, e se dissermos que o catarinense de Concórdia competiu sem estar em plena forma? Que, numa longa viagem para Lima, acabou contraindo uma infecção em sua garganta e teve febre? Sim, Romani teve de competir à base de antibióticos. Por isso é hoje um dos grandes nomes do nosso esporte.
Outro feito para celebrar foi a subida de dois velocistas ao pódio dos 100m rasos. Havia grande expectativa em torno do desempenho de Paulo André Camilo. Então há quem possa considerar sua medalha de prata algo frustrante. Mas aí lembramos que o último medalhista brasileiro na competição havia sido Claudinei Quirino em Winnipeg-1999. No feminino, Vitória Rosa ganhou o bronze.
Novas caras, novos saltos
Depois de 12 anos e pela primeira vez no século sem Doda ou Rodrigo Pessoa, o Brasil voltou a conquistar a medalha de ouro por equipes na disputa de saltos do hipismo. Ao mesmo tempo, garantiu classificação olímpica - é o terceiro conjunto brasileiro na modalidade a abrir vaga em Tóquio-2020, aliás.
O quarteto formado por Rodrigo Lambre (montando Chacciama), Marlon Zanotelli (Sirene de la Motte), Eduardo Menezes (H5 Chaganus) e Pedro Veniss (Quabri de L Isle) teve um desempenho dominante, com apenas 12,39 pontos em penalidades. O México foi prata com 22,97, para comparar.
Veniss foi o único remanescente da conquista de 2007, em time que ainda contava com Rodrigo Pessoa, César Almeida e Bernardo Alves. Ele também foi o único que permaneceu depois do último Mundial.
23 anos e quatro ouros
Hugo Calderano sofreu pela segunda noite seguida, mas saiu com mais uma medalha de ouro do Pan para sua volumosa e precoce coleção. O mesa-tenista agora tem quatro títulos pan-americanos em duas edições e ainda pode conquistar um quinto, na disputa por equipes. Jogando por conta dessa vez (isto é, no individual), o grande favorito ao título precisou ir ao sétimo e último set para derrotar o chinês naturalizado dominicano Jiaji Wu.
Na comemoração, arriscou logo um salto mortal para trás. Por quê? "Foi um desafio que eu me propus: dar um mortal para trás. Um desafio físico, mas um pouco mental também", disse. Então tudo bem: multicampeões precisam realmente buscar adversidades para superar.
Pedala, Magno
Os ciclistas brasileiros encontram todo o tipo de adversidade para competirem na elite. Na pista, documentamos aqui algumas das restrições enfrentadas, com bikes antigas, por exemplo. Na estrada, o doping virou um problema crônico. Alheio a esse cenário, Magno Nazaret, 33, ganhou a prata no contrarrelógio, o primeiro pódio nacional nas provas de estrada desde o Rio-2007.
Magno já compete numa modalidade que mexe com o batimento cardíaco. "É difícil manter a concentração com o coração batendo 200 batimentos por minuto", disse. Agora imagine quando você pedala em alta velocidade sabendo que uma medalha pan-americana está em jogo?
Uma pedra no sapato
Nathalie Moellhausen conseguiu há pouco menos de um mês o maior resultado da história da esgrima brasileira: venceu o Mundial na disputa de espada. De modo que, instantaneamente, se cacifou como candidata ao ouro em Lima. Mas havia uma pedreira em seu caminho: a norte-americana Katharine Holmes.
Essa é a adversária que uma campeã mundial não aprendeu como vencer. É o que diz a própria Nathalie: "Ainda não encontrei uma solução. Sabia que ia ser um combate duro. Claramente ainda tenho que trabalhar e entender como ganhar dela. É uma pedra. Todo mundo tem uma pedra no sapato (risos). Parece que essa é a minha."
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