Pan-2019: Torcida dos Chapolins investe R$ 24 mil em 600 bonecos de pelúcia
Por volta das 16 horas de quinta-feira, uma criança peruana chegou ao estádio de Videna com um chapolin de pelúcia azul na mão. Na noite anterior, também no coração do Pan de Lima, um nadador argentino mostrava a mascote a uma mulher que provavelmente era sua mulher. No levantamento de peso, a medalha de ouro ficou no peito de Fernando Saraiva e a pelúcia entre os braços do pai dele.
Quem assiste ao Pan pela televisão tem apenas uma impressão parcial do que é a invasão dos Chapolins em Lima. Eles estão presentes nas grandes competições desde 2011, mas nunca em número tão grande, seja em pessoas de carne e osso ou em mascotes de fibra sintética. Os 13 membros do grupo que estão no Peru trouxeram na mala 600 bonecos, que são distribuídos não só aos atletas brasileiros (que são menos de 500), mas também a rivais, torcedores, voluntários...
O médico Rubens Tofolo Jr, líder do grupo, diz que nunca sequer pensou na possibilidade de vender os bonecos, que são mais populares que o Milco, mascote oficial dos Jogos, e que tornaram o Ginga, mascote oficial do COB, um completo desconhecido. "Nós somos uma entidade sem fins lucrativos, nosso objetivo não é ganhar dinheiro", explica ele, que foi ao Pan de Guadalajara, em 2011, com um grupo familiar de quatro pessoas, apenas.
A turma aos poucos foi crescendo e se organizando. Foi criada uma associação - a Associação Chapolins Rorcedores Brasileiros, que tem Rubens como presidente. A mascote ganhou nome em um concurso organizado pela internet e que deu à vencedora uma viagem internacional - para um Campeonato Pan-Americano de Handebol. O nome mais votado foi "Medalhito", uma marca registrada em nome da associação.
Em Lima, os associados têm não só os uniformes (que desta vez são majoritariamente azuis, mas já foram amarelos e verdes) como também contam com agasalhos, pins e mochilas. Estas estão cheias quando eles chegam à primeira competição do dia, sempre levados por uma van especialmente alugada por eles. Dos 30 membros do grupo, 13 estão em Lima, dividindo uma mesma casa, onde a responsabilidade por fazer comida e cuidar da limpeza é compartilhada. Também os bonecos são divididos: cada um leva cinco nas costas.
Em média são distribuídos entre 50 e 60 mascotes por dia, até que toda a leva de 600 bonecos esteja nas mãos de outras pessoas. Só para produzir esses mascotes o grupo gastou R$ 24 mi - cada um saiu por R$ 40. Outros R$ 20 mil foram reservados para moradia e hospedagem, de um total de cerca de R$ 144 mil juntados desde que acabou o Pan de Toronto, há quatro anos. De lá para cá, cada integrante do grupo que planejava ir a Lima depositou R$ 200 todo mês na conta da associação.
As passagens são uma cortesia de Rubens, que é médico, e roda o mundo dando palestras e participando de congressos, sempre tendo ao seu lado o companheiro José Aviz Toutonge. Os dois estão, juntos, com 1,6 milhão de milhas em um programa de fidelidade. Vão torrar o estoque em setembro, quando comprarem as passagens para a Olimpíada de Tóquio.
Para os Jogos Olímpicos do ano que vem a brincadeira fica ainda mais séria. Com o dinheiro que comprou o ingresso mais caro em Londres-2012, não será possível adquirir sequer uma entrada regular das competições de atletismo em Tóquio. Por isso, o grupo está economizando.
"Fomos atrás dos ingressos mais baratos, em provas em que o Brasil tem boas oportunidades. Vamos ver o surfe, por exemplo. Só não sabemos se vai ter onda nesse dia, pode ser que não tenha competição", explica Rubens. Eles já estavam em Lima quando, na segunda-feira, fizeram um mutirão à frente do computador para comprar ingressos.
Só naquele dia foram gastos R$ 100 mil em tíquetes para 16 pessoas. Ainda serão comprados, porém, outros R$ 170 mil em ingressos, o que dá quase R$ 10 mil por pessoa. Eles também reservaram outros R$ 60 mil para alugar uma casa e R$ 70 mil para comida, transporte e, claro, a produção de mais uma leva de Medalhitos.
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