"Olha o gol olha o gol olha o gol". Não. Não era jogo do Brasil ou de algum time brasileiro. Pegando carona em uma de suas expressões icônicas, era Galvão Bueno em estado puro de emoção. Mas o que faria a maior estrela da narração esportiva brasileira gritar gol numa manhã de domingo sem futebol? A resposta foi dada na 42ª volta do Grande Prêmio da Itália de Fórmula 1.
Em segundo lugar na prova, Lewis Hamilton perseguia ferozmente Charles Leclerc quando o inglês passou direto na chicane no final da grande reta de Monza. A fanática torcida ferrarista foi à loucura. E Galvão foi no embalo, comparando a explosão dos tifosi da equipe com um gol da seleção italiana. "Vibraram em azul em branco", disso o locutor, numa referência as cores da "squadra azzurra", como os fanáticos tratam a equipe tetracampeã mundial.
Há muito tempo não se via o locutor tão empolgado com uma corrida de Fórmula-1. E essa euforia tem nome, sobrenome e nacionalidade: Charles Leclerc, o monegasco que hoje conquistou sua segunda vitória na categoria. Foi a primeira narrada por Galvão. A outra conquista do ferrarista, no GP da Bélgica, teve narração de Cleber Machado.
Desde que estreou na Ferrari no início deste ano, Leclerc se tornou xodó de Galvão. O narrador enxergou nele uma espécie de salvação da Globo na F-1, cada vez mais monótona e previsível com o domínio da Mercedes e Hamilton. O monegasco passou a ser a esperança do locutor e da emissora de salvar os índices de audiência nas manhãs de domingo, que vêm caindo ano a ano desde que os brasileiros deixaram de ser competitivos nas pistas. Essa semana a última vitória do país na F-1 completará dez anos. Em 13 de setembro de 2009, Rubens Barrichello, na extinta Brawn GP, foi o último piloto da terra a ouvir o tema da vitória, tradicional música que a Globo imortalizou nas vitórias do País na F-1. E desde 2017, com a saída de Felipe Massa da Williams, não há brasileiros no grid.
Choro por Leclerc
Sem compatriotas para torcer, Galvão acabou adotando o jovem monegasco de 21 anos como o piloto para chamar de seu na F-1. E finalmente chegou o dia de narrar uma vitória do novo queridinho. Durante a prova não economizou elogios para o garoto. "Esse monegasco anda muito. Temos uma nova promessa de gênio", bradava Galvão, quando Leclerc conseguia se defender dos ataques de Hamilton com asa aberta nas retas de Monza. "Esse menino é (pi)...um termo que não dá para usar aqui", dizia, com vontade de descrevê-lo com um palavrão impróprio para o meio e horário após Leclerc impedir a ultrapassagem do inglês, mesmo após ter errado na chicane no final da reta. O ápice da euforia foi quando Hamilton perdeu o ponto de freada e seguiu reto no mesmo trecho, como descrito no início do texto.
Sem a perseguição do pentacampeão do mundo, a preocupação do narrador passou a ser a aproximação do Valtteri Bottas. O finlandês da Mercedes tinha pneus mais novos e macios que o jovem piloto. Mas Bottas errou duas vezes e com isso permitiu que Galvão pudesse gritar "Na ponta dos dedos, vem ele, Leclerc, de Mônaco, da Ferrari, vence o Grande Prêmio da Itália em Monza. A Fórmula 1 tem um novo ídolo", numa explosão que lembrou o Galvão das vitórias de Piquet, Senna, Barrichello e Massa, os brasileiros que venceram desde que ele começou a acompanhar a categoria, no início da década de 1980.
E não parou por aí. Na transmissão pós-corrida feita pelo site globoesporte.com, Galvão perdeu o pouco de pudor e comedimento que ainda tinha na TV e foi ainda mais além. Depois de contar que estava com os olhos cheios de lágrimas, e afirmar que o companheiro Reginaldo Leme também chorava, o que parecia um tanto improvável, confessou que ao ver Leclerc subir no pódio de Monza viu Ayrton Senna nele. Mas se apressou em explicar que a semelhança não era física, mas "nos gestos, expressões e na cor vermelha do macacão", o mesmo do tom do de Senna durante seus anos de Mclaren. Só faltou mesmo tocar o tema da vitória.
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