Topo

OPINIÃO

Fox fica no muro e faz transmissão "quase rubro-negra" na Libertadores

O narrador João Guilherme e o ex-atacante Nunes durante transmissão da Fox da semifinal da Libertadores entre Grêmio e Flamengo - Reprodução
O narrador João Guilherme e o ex-atacante Nunes durante transmissão da Fox da semifinal da Libertadores entre Grêmio e Flamengo Imagem: Reprodução

Chico Silva

Colaboração para o UOL, de São Paulo

03/10/2019 11h41

Resumo da notícia

  • No Fox 2, João Guilherme narrou para flamenguistas, com comentários de Zinho, Nadine Bastos e do ex-atacante Nunes
  • Chico Silva conta que a transmissão acabou não sendo tão flamenguista quanto se esperava
  • Zinho foi anunciado como ídolo dos dois times e foi equilibrado e imparcial
  • Nunes foi o comentarista-torcedor, mas exerceu o papel com parcimônia
  • João Guilherme só deixou, de leve, o equilíbrio de lado uma vez, na espera pela decisão do VAR no lance do gol anulado de Gabigol
  • Se a ideia era fazer algo equilibrado, deveriam ter convidado alguém do Grêmio para dividir comentários passionais com Nunes

Na véspera do primeiro duelo decisivo entre Grêmio e Flamengo, o narrador João Guilherme anunciou com orgulho no "Expediente Futebol" que a Fox faria uma transmissão "revolucionária" da semifinal brasileira da Libertadores. Ele se referia ao fato de a emissora usar seus dois canais para exibir o clássico brasileiro do principal torneio de clubes da América do Sul. O Fox 1 teria a equipe da emissora despachada para a Arena do Grêmio, formada por Nivaldo Prieto na narração, Paulo Vinícius Coelho e Edmundo nos comentários e Carlos Eugênio Simon acompanhando a arbitragem do argentino Néstor Pitana. A tal revolução ficaria para o Fox 2.

A segunda janela da casa teria o comando do próprio João Guilherme, comentários de Zinho, Nadine Bastos de olho no apito e o convidado especial da noite, o ex-atacante Nunes. A presença do ídolo flamenguista campeão do mundo pelo clube em 1981 indicava que a jornada teria cores rubro-negras, impressão que seria reforçada pela escalação do niteroiense Guilherme na narração e de Zinho, ex-jogador formado na base do Flamengo, nos comentários. Mas a transmissão acabou não sendo tão flamenguista quanto se esperava.

Logo na abertura dos trabalhos, o locutor fez questão de apresentar Zinho como alguém que havia feito história pelos dois clubes. O que é uma meia verdade. Ele até foi campeão da Copa do Brasil de 2001 pelo Grêmio. Mas sua imagem é muito mais associada ao clube carioca, em que foi revelado e conquistou títulos importantes como a Copa União de 1987 e o Brasileiro de 1992. Como é um dos comentaristas do elenco fixo do canal, Zinho procurou analisar o jogo com equilíbrio e imparcialidade.

Coube a Nunes então o papel de comentarista-torcedor da noite. E ele o exerceu com certa parcimônia. Durante a partida lamentou alguns lances de gol perdidos pelos atacantes rubro-negros. "Infelizmente o Arrascaeta não teve sorte na finalização", disse numa chance desperdiçada pelo uruguaio aos nove minutos do primeiro tempo. Pouco tempo depois, repetiu a frase numa oportunidade clara desperdiçada por Gabigol. Apesar de discreta, a torcida de Nunes era indisfarçável. O que era previsível.

Um "Ai Jesus"

João Guilherme, por sua vez, transpirava equilíbrio e isenção. Só deixou uma leve dúvida no ar durante a espera pela decisão do VAR no lance do gol anulado de Gabigol, o segundo do Flamengo cancelado pelo árbitro de vídeo. "Ai, Jesus. É uma agonia", bradou, enquanto o argentino Pitana não sabia se confirmava ou não o gol. Seria uma referência ao famoso trecho do hino do clube, aquele de "nos Fla-Flus é um Ai Jesus" ou uma brincadeira com o técnico do time, o português Jorge Jesus? Foi o único "rompante" rubro-negro do narrador na transmissão. Os dois gols que valeram para cada lado foram narrados com a mesma intensidade e entusiasmo por Guilherme. No final da transmissão Nunes admitiu que tinha apostado no 2 x 0 no Flamengo e que acredita na vitória que levaria o time à segunda final de Libertadores de sua história. Na primeira, ele estava em campo.

Assim terminou a transmissão quase "rubro-negra" da Fox. Se a ideia era fazer algo mais equilibrado, o canal deveria ter convidado alguém do Grêmio para dividir os comentários passionais com Nunes. Mas ao se esforçar para demonstrar isenção perdeu a chance de fazer algo corajoso e inovador. Claro que, com isso, iria comprar briga com metade do Rio Grande do Sul. Do jeito que estava, ficou no meio do caminho.