Topo

Vídeo proibido e pancadas no lixo: entenda a trapaça que estremece a MLB

Divulgação
Imagem: Divulgação

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

29/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Houston Astros e Boston Red Sox foram campeões com métodos fraudulentos
  • Times filmavam comunicação dos rivais para ter vantagem, o que é proibido
  • Parte do esquema era avisar atletas em campo com assobios e até batidas na lata de lixo
  • Treinador que "comandou" trapaça foi demitido e deve ser suspenso pela MLB
  • Astros foram multados em US$ 5 milhões; Red Sox ainda estão sob investigação

E se duas edições seguidas de um dos campeonatos mais importantes dos Estados Unidos tivessem sido vencidas com base em trapaças? Aconteceu na Major League Baseball (MLB), que investiga um esquema de filmagens proibidas montado durante os jogos para dar vantagens ilegais aos campeões de 2017 e 2018.

A ideia era simples, mas a execução foi digna de cinema. Tanto o Houston Astros quanto o Boston Red Sox posicionavam câmeras escondidas para filmar a comunicação entre o catcher (apanhador) e o pitcher (arremessador) adversários durante toda a temporada. O vídeo era transmitido no vestiário do time trapaceiro, que então poderia antecipar as jogadas rivais.

O método é proibido pela liga, justamente porque dá vantagem indevida. No beisebol, catcher e pitcher se comunicam por sinais: um sugere estilos de arremesso para o outro até que eles concordam sobre qual é o melhor lançamento naquela jogada. Se o rebatedor adversário aprende a traduzir estes sinais, seja por mérito próprio ou meios censuráveis, ganha vantagem na hora de rebater.

No geral, tanto os Astros quanto os Red Sox usavam a sala de vídeo para decodificar o sinal dos adversários e passar a tradução ao banco de reservas. Mas daí em diante os esquemas se diferenciavam: para avisar o rebatedor sobre um lançamento específico, os Astros batiam palmas, assobiavam e por fim passaram a dar pancadas em uma lata de lixo. Já o método dos Red Sox dependia de alguém chegar na segunda base, ver os sinais adversários com os próprios olhos e aí avisar o companheiro que estivesse no bastão.

Alex Cora - Sean M. Haffey/Getty Images/AFP - Sean M. Haffey/Getty Images/AFP
Treinador Alex Cora esteve envolvido em esquemas nas duas franquias investigadas
Imagem: Sean M. Haffey/Getty Images/AFP
O escândalo já resultou nas demissões de dois técnicos e um diretor geral das equipes envolvidas. A mente principal por trás da falcatrua, segundo a própria MLB, era Alex Cora. Ele foi assistente dos Astros na campanha do título de 2017, no ano seguinte foi contratado pelos Red Sox, onde também foi campeão como treinador principal. De um emprego para outro levou sua experiência com as filmagens proibidas.

Em reação ao caso, na semana passada o Conselho da cidade de Los Angeles —equivalente a uma Câmara de Vereadores— aprovou uma resolução para pedir à MLB que retire os títulos de Astros e Red Sox e os passem ao L.A. Dodgers, que foi derrotado em ambas as finais.

A MLB evita falar em cancelar os títulos, muito menos cogita transferi-los aos Dodgers. "Nós não sabemos ainda qual será o resultado disso", afirma o comissário da liga, Rob Manfred. "Além disso, fosse qual fosse o impacto do roubo de sinais, ele poderia inclusive mudar quem estaria na World Series. Não dá para saber se os Dodgers teriam sido campeões."

A primeira investigação concluída foi a dos Astros, que recebeu multa de US$ 5 milhões (quase R$ 21 milhões), perdeu escolhas de Draft e teve o técnico AJ Hinch e o diretor geral Jeff Lunhow suspensos por uma temporada —ambos foram também demitidos pela franquia. O pronunciamento oficial feito pelo proprietário do clube, Jim Crane, fala em "dar a volta por cima" e promete não repetir o erro.

A MLB ainda examina o esquema do Boston Red Sox, que personificou o problema em Alex Cora e anunciou sua demissão usando elogios por "profissionalismo" e "enorme talento". A expectativa é que a franquia sofra sanções semelhantes às dos Astros quando a investigação terminar.

Astros campeão da World Series 2017 - Divulgação - Divulgação
Segundo investigação da MLB, os Astros só pararam de filmar sinais adversários em 2018, quando jogadores passaram a acreditar que o método "não era mais efetivo"
Imagem: Divulgação