Adiamento da Olimpíada puxa início de emergência no Japão por Coronavírus
Em meio à pandemia causada pelo Coronavírus, o Primeiro-Ministro do Japão Shinzo Abe entrou em contato com o presidente do COI Thomas Bach e, juntos, ambos decidiram pelo adiamento da Olimpíada da Tóquio. Um dos principais fatores que levou ao anúncio de terça-feira foi o crescimento estrondoso de casos de covid-19 na Europa e na América. Apesar disso, ao mesmo tempo, os japoneses se depararam com o aumento do número de infectados pelo vírus, o que fez as autoridades solicitarem o decreto de "estado de emergência".
Com aulas e eventos que gerassem aglomeração de pessoas suspensos, o Japão tinha a situação controlada em relação a outros países. Por esse motivo, o país adotou o isolamento vertical, ou seja, apenas pessoas infectadas ou que tiveram contato com contaminados deveriam permanecer em quarentena.
Tudo começou a mudar com o Hanami: a florada das cerejeiras na primavera. A tradição milenar convida os japoneses a apreciarem as paisagens recheadas das famosas árvores de flores rosadas ao lado de amigos e família. Foi justamente esse evento realizado no dia 22 de março que inspirou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a propor, no Brasil, o isolamento vertical.
Em suas redes sociais, Bolsonaro publicou, na quinta-feira (25), um vídeo gravado por um brasileiro durante as festividades do Hanami, em Tóquio. Nas imagens foi possível notar uma grande concentração de pessoas. De acordo com os jornalistas ouvidos pelo UOL Esporte, a ação da população no evento foi repreendida pelas autoridades japonesas.
"A florada das cerejeiras é muito importante para os japoneses. Mas isso começou a fazer aumentar o número de pessoas infectadas em Tóquio. Os japoneses estão aceitando o pedido do governo justamente com base nesse fato", explicou o jornalista japonês Takuro Osako, em contato com o UOL.
"Esse vídeo foi destaque na mídia japonesa justamente por causa da irresponsabilidade da fala desse homem. A situação real é que tem aumentado todos os dias e há um pedido do governo para que não tenham aglomerações. Todos os eventos foram cancelados e todos se conscientizaram", falou o jornalista brasileiro Silvio Mori, correspondente da TV Cultura no Japão.
Um dos fatores apontados como explicação para a demora do crescimento de casos no Japão é justamente o hábito cultural. "O japonês não tem costume de apertar a mão, abraçar, beijar. Essa é uma cultura milenar que é taxada como frieza, mas é algo da cultura deles. E japoneses sempre usaram máscaras, sempre tiveram esse costume para proteger o próximo quando estão resfriados. Álcool em gel aqui também é algo muito comum, higiene é extremamente grande. O hábito de lavar as mãos é fora de série", acrescentou Mori.
Apesar disso, nem mesmo as atitudes enraizadas conseguiram brecar o vírus, que pegou os japoneses justamente em um momento de celebração. No dia 24, as Olimpíadas de Tóquio foram adiadas e o mundo viu o quanto decisão foi correta não somente pela situação da América ou Europa. As cidades japonesas ligaram o sinal de alerta também ao notarem a possibilidade de descontrole em casos de aglomerações. Eventos foram cancelados e o retorno de competições também acabou postergado.
"O primeiro-ministro do Japão criou um gabinete especial para tratar a situação do Coronavírus. Ele fez um pedido para declarar estado de emergência para se usar fundos especificamente para o combate contra a covid-19. Os casos estão aumentando muito", explicou Silvio Mori.
Em 22 de março, data do evento da florada das cerejeiras, o número de casos de Coronavírus no Japão era de 1046. Já no dia 24, em que o adiamento da Olimpíada foi anunciado e Bolsonaro discursou, eram 1128 pessoas infectadas. Ontem (26), o país confirmou 1369 casos.
Previsto para retornar no dia 3 de abril, o Campeonato Japonês, por exemplo, voltou a ser adiado por conta do coronavírus e ainda terá mais de um mês de paralisação até que os jogos sejam retomados - ao menos a princípio. Agora, a nova data estipulada pela J-League é 9 de maio. A informação foi divulgada no dia 25 de março pelo presidente da Liga Japonesa, Mitsuru Murai.
Agora, o Japão encara a briga contra o vírus que causou a pandemia mundial em 2020 ao mesmo tempo em que lida com a reorganização de um evento tão grandioso como a Olimpíada.
"O governo japonês tentou e lutou para que as olimpíadas fossem realizadas esse ano. Mas eles mudaram de opinião e acharam melhor adiar os Jogos. Em relação a isso parece um assunto encerrado, está bem tranquilo", destacou Mori.
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