Por que Fórmula 1 corre risco inédito de deixar a Globo após 40 anos
No ano em que completa 70 anos de realização, a Fórmula 1 vê um risco iminente e inédito de deixar de ser transmitida pela Globo no Brasil. O contrato vai até o fim desse ano, e as negociações com a Liberty Media, dona da competição, estão paradas desde o fim de 2019. E a Rio Motorsports, empresa que quer organizar o GP do Brasil no Rio de Janeiro, decidiu entrar nessa disputa com um modelo de negócio mais alinhado com o que os proprietários da categoria desejam.
A reportagem do UOL Esporte apurou que a Globo tentou renovar os direitos de transmissão da F1 no ano passado, mas com um valor máximo de US$ 20 milhões, abaixo do mínimo pretendido pela Liberty Media para vender os direitos para todas as mídias. O desejado pela empresa era uma cifra na casa dos US$ 22 milhões. A Globo rejeitou subir mais dois milhões por causa do planejamento interno financeiro. Diretores acreditam que a categoria não vale tanto mais no Brasil.
Mesmo assim, é muito complicado para a Globo abrir mão definitivamente da principal categoria de automobilismo no Brasil. Atualmente, vivendo um momento mais focado em investimentos nacionais, principalmente em competições de futebol, a emissora leva em conta a história que tem com a categoria, que popularizou nos anos 80 e 90, e até o certo faturamento que ela ainda garante.
Só para este ano, a Globo fechou R$ 494 milhões em cotas de patrocínios, um dos maiores faturamentos da TV. Mas esse rendimento é muito atrelado a promessa de exposição das marcas em chamadas nos programas de maior audiência da emissora carioca e no intervalo do "Jornal Nacional", que tem o "break comercial" mais caro da TV brasileira. Ou seja, o dinheiro farto pode ser relativo.
A audiência na casa dos 10 pontos de Ibope na Grande SP é boa, mas a falta de um piloto brasileiro sempre foi discutida internamente com preocupação. Um defensor incondicional da categoria é Galvão Bueno. Narrador da Fórmula 1 desde que ela retornou para a Globo em 1981, o veterano argumenta que a F1 é uma tradição dominical no Brasil e que ainda traz bons retornos para a emissora carioca.
Globo x Liberty Media: relação desagastada
Empresa que comprou a Fórmula 1 em 2016, a Liberty Media não tem uma boa relação com a Globo. Mesmo com a emissora oferecendo o maior alcance da categoria no mundo - 115 milhões de telespectadores, catapultado pela exibição na TV aberta -, a empresa queria receber mais dinheiro pelos direitos de transmissão.
Além disso, a nova dona entende que a Globo não trata o produto da Fórmula 1 de uma maneira condizente com o modelo de negócio atual. A FOM (Fórmula One Management), empresa de Bernie Ecclestone, que gerenciava os direitos de transmissão até o último fim de contrato, em 2015, tinha uma relação bem mais próxima com a empresa brasileira e aceitou alguns desejos da emissora para renovar o vínculo no ciclo anterior por cinco temporadas, como a não transmissão na integra dos treinos de classificação para as corridas.
Assim como em outros países, a Liberty Media quer colocar em prática um modelo em que ela não fature apenas com direitos de transmissão, e sim com exposição de marca nessas exibições para todo mundo, além de vendagens de publicidade em corridas e de ingressos para o Paddock, que costumam ser vendidos para grandes empresas em pacotes.
A entrada da Rio Motorsports
É nesse ponto que entra a Rio Motorsports, empresa comandada pelo empresário JR Pereira. Fã de automobilismo, desde o ano passado ele tenta levar o GP do Brasil de Fórmula 1 para ser realizada no Rio de Janeiro. Para tanto, Pereira tem se aproximado da Liberty Media cada dia mais. Nessas conversas, a Rio Motorspots soube da dificuldade da Liberty para negociar a renovação dos direitos de transmissão da F1 com a Globo a partir de 2021.
Foi nesse momento que a empresa percebeu que poderia ter uma oportunidade de negócio para concretizar de vez o seu desejo. O UOL Esporte apurou que a Rio Motorsports fez uma proposta para adquirir, além do direito de realizar o GP do Brasil entre 2021 e 2030 na capital fluminense, os direitos de comercialização totais da exibição da Fórmula 1 a partir do ano que vem.
A ideia da empresa seria licenciar a exibição para canais de TV por assinatura e aberta, e fechar uma parceria onde se dividam custos e lucros com as emissoras. A comercialização do espaço publicitário nos intervalos e na cota de patrocínio também seriam divididas. Além disso, parte deste dinheiro também iria para a Liberty Media. A dona da F1 garantiria de 5% a 10% do valor fechado.
Globo pode ser parceira em um modelo novo, se quiser
Nessa proposta nova da Rio Motorsports, a Globo pode ser parceira. O UOL Esporte apurou que a holding de JR Pereira detalhou na proposta para a Liberty Media que toparia negociar com qualquer grupo de mídia no Brasil, inclusive o Grupo Globo. Mas esse acordo dependeria de muitos fatores. O modelo que a Rio Motorsports quer adotar para a Fórmula 1 é o mesmo que a mesma empresa concebeu para a MotoGP a partir deste ano.
Assim que a Globo desistiu de renovar o contrato para a transmissão da MotoGP no SporTV, a Rio Motorsports comprou os direitos de transmissão e colocou a competição no Fox Sports, canal esportivo que se interessou em comprar, mas que agora pertence à Disney depois da fusão com a ESPN Brasil ser aprovada no país alguns dias atrás. Esse modelo da MotoGP já se provou rentável para a Rio Motorsports e é um indicativo animador para o futuro da Fórmula 1.
A Liberty Media ainda só não fechou questão porque falta algumas garantias financeiras com a Rio Motorsports. E, principalmente, porque a empresa deseja ouvir a Globo em uma nova rodada de conversas. Procurada oficialmente pela reportagem, a Globo apenas manifestou que as negociações da renovação de contrato estão suspensas por enquanto, em razão da pandemia do Covid-19.
"Estamos conversando com a F1 sobre a temporada 2020 e os impactos da pandemia de coronavírus. As conversas e decisões sobre a temporada 2021 estão em suspenso exatamente por causa da pandemia", indicou a comunicação da emissora carioca.
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