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Como alta do dólar afeta arrecadação do canal Desimpedidos no YouTube

Canais do YouTube recebem em dólar por anúncios do Google - Reprodução/YouTube
Canais do YouTube recebem em dólar por anúncios do Google Imagem: Reprodução/YouTube

Thiago Tassi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

25/05/2020 04h00

A alta do dólar no Brasil, que valorizou 4,69% em abril e fechou a R$ 5,57 na última sexta-feira (22), pode induzir algumas pessoas a pensarem que canais do YouTube que faturam por meio da monetização do AdSense estejam bombando na arrecadação desde março, quando a moeda norte-americana disparou.

Mas a questão de publicidade baseada na quantidade de cliques ou visualizações dos vídeos junto ao Google não é tão simples como parece, costuma ser apenas uma parte da receita dos produtores de conteúdo na internet e é vista com cautela até mesmo pelo Desimpedidos, o maior canal brasileiro sobre esportes na plataforma.

É o que explica Rafael Grostein, 40, CEO da Network Brasil, produtora responsável pela administração do Desimpedidos e de outras marcas de sucesso no YouTube. Ele faz parte da empreitada desde a criação do canal que conta com apresentadores como Fred e Bolívia, há quase sete anos, em 12 de junho de 2013.

"É quase como uma bolsa de valores [o AdSense]. Hoje posso dizer 'agora está bom', porque vários anunciantes de fora entraram para dar lance e a gente teve um pico de monetização, como pode acontecer o contrário, ninguém investir e aí a monetização cai. Ela está flutuando, essa é a verdade. Empresas de fora, que gastam em dólar, têm aumentado esse tipo de oferta, pelas razões óbvias do câmbio. Por outro lado, os anunciantes do Brasil, por mais que a gente receba tudo em dólar, pagam em real e sofrem. Por isso que no modelo do AdSense a gente fica à mercê do mercado, tem menos gestão", contou o administrador de empresas ao UOL Esporte.

Se o formato da monetização por audiência, pago em dólar, é imprevisível, há outros modelos de negócio que os youtubers têm mais controle e podem planejar melhor. A maioria, no entanto, passa por transformações durante a pandemia e exige precaução.

"Agora deu uma parada, diminuiu bastante o volume de projetos novos. A gente se organiza, obviamente, para aumentar nossa capacidade de entrega e pensar no sucesso da companhia. E esse pedaço do nosso trabalho está comprometido no momento. Mas também acho que é bem natural. A gente não perdeu nenhum patrocínio, estão todos com a gente, é só esse processo de adaptação. O momento demanda essa cautela."

Quais são as fontes de receita de um canal?

A monetização por meio da visualização do conteúdo produzido é a fonte de receita mais comum entre os canais no YouTube, só que existem outras formas de ganhar dinheiro. A segunda mais recorrente entre eles é via contratos de patrocínio, em que o influenciador divulga a marca dentro dos vídeos e nas redes sociais.

No caso do Desimpedidos, há essas ações de marketing de influência, descrito no parágrafo anterior, contratos específicos com o próprio Google e branded content, formato em que a marca deixa de aparecer só como anunciante e passa a interagir de alguma forma com o conteúdo do canal. Esse último modelo, como contou Grostein, é o principal prejudicado na pandemia.

"Com relação às negociações que a gente fecha direto com clientes ou agências, que são as ações de marketing de influência e branded content, teve um primeiro momento de congelamento. Tudo que a gente já tinha se programado para fazer está sem data. Eu não tenho data para entregar o que eu vendi. Então tem essa questão que a gente está atacando agora, junto com os clientes, com muita tranquilidade, que é ver o que dá para converter para comunicação neste momento."

Quarentena impõe mudanças 'permanentes' na produtora

A quarentena influencia diretamente na grade dos canais de YouTube, pois gravações e coberturas in loco estão suspensas. Ao passo que obriga os youtubers a explorarem a criatividade para manter o ritmo de publicações, o confinamento deixa lições para o dia a dia da produtora do Desimpedidos.

"Teve uma adaptação, porque a gente tinha essa rotina de se encontrar, fazer reuniões. Já se faz reunião via aplicativos de vídeo, porém agora virou uma necessidade. Virou muito essa chave. Estamos entendendo que em algumas reuniões de equipe não precisamos mais nos encontrar. Certamente isso vai se manter, vamos continuar fazendo assim, independentemente do cenário futuro. É muito mais produtivo, não precisa todo mundo entrar num metrô, pegar o carro. Não faz sentido", comentou o CEO da Network Brasil.

"É um processo que a gente está passando e que vai deixar um legado para outras oportunidades. Agora é um momento de olhar o que funciona, o que a gente pode manter, o que é melhor", acrescentou.

Por falar em oportunidade, Rafael Grostein acredita que o momento pode criar tendências. Ele citou como exemplo o crescimento da rede social "TikTok" e o sucesso da série "Arremesso Final", que retrata a última temporada de Michael Jordan no Chicago Bulls, da NBA.

"Tinha muita gente que nunca tinha experimentado, de fato, comprar online. Aquela rotina de comprar online, consumir conteúdo digital todo dia, em diversas plataformas. É só ver o que está acontecendo com o 'TikTok'. Até pouco tempo atrás era para criança, e agora todo mundo está lá. Virou um lugar que as pessoas estão usando para criar, e estar em casa facilita muito, porque é uma criação que o 'TikTok' abraça. Temos que olhar para essas oportunidades".

Mundo digital pode ser opção a clubes de futebol

O mundo digital, em evidência durante a quarentena, deve mudar também a rotina dos clubes de futebol, de acordo com Rafael Grostein. Para o líder de canais de sucesso no YouTube, pode ser um caminho para que os times inovem com produções originais de bastidores e ampliem ainda mais a receita.

"Acho que a tendência é os clubes estarem mais abertos [depois da quarentena]. Tem um processo que leva tempo, mas com a situação financeira que está se apresentando, com as mudanças de consumo de mídia e com o interesse da audiência, a tendência é a gente ver muito mais projetos com essa cara [da série 'Arremesso Final']. Não preciso nem falar como NBA e Michael Jordan são estruturados e profissionais, já estavam pensando isso [explorar bastidores] em 1998, é muito louco."

O ambiente digital, inclusive, apresenta-se como canal direto para os clubes aproximarem equipe e torcida enquanto aglomerações em estádios de futebol estiverem proibidas.