Nory admite racismo contra colega após 5 anos: "passou da hora de me expor"
O ginasta Arthur Nory se desculpou hoje, cinco anos depois, por ofensas racistas proferidas contra o então colega de equipe Ângelo Assumpção em 2015. Em um post no Instagram, Nory chamou sua atitude de "imbecilidade", disse que "já passou da hora" de se desculpar e afirmou que se envergonha do que fez.
Em maio de 2015, Nory publicou um vídeo em sua conta no aplicativo Snapchat em que ele e outros membros da seleção brasileira de ginástica artística fizeram piadas racistas com Ângelo Assumpção, o único negro na equipe.
À época, Nory afirmou que o grupo "passou dos limites" e pediu que as pessoas não entendessem "mal". Hoje, cinco anos depois, ele admitiu que passou da hora de se desculpar efetivamente e admitiu o tom preconceituoso do vídeo.
"Às vezes a gente demora pra fazer muita coisa na vida. Tô aqui porque já passou da hora de me expor pelas minhas próprias palavras, que não são as melhores, mas são as que eu to construindo. Ou melhor, desconstruindo", escreveu o medalhista olímpico, dizendo-se envergonhado pelo teor do vídeo de 2015.
Um ato de preconceito só precisa de uma oportunidade para acontecer. Enquanto a gente tiver medo de assumir a ignorância, qualquer um de nós pode estar machucando alguém, mesmo sem perceber.
Arthur Nory
"Hoje entendo que não é uma brincadeira. Olhei e vi 'errei aqui, e isso não pode se repetir'", afirmou ele em vídeo postado hoje.
Nory disse que procurou Ângelo três vezes desde aquele episódio e que aceita que o antigo colega não o perdoe.
As agressões racistas
No vídeo, os integrantes brancos da equipe faziam piadas racistas com Assumpção.
"Seu celular quebrou: a tela quando funciona é branca... quando ele estraga é de que cor? (risos)", pergunta Nory.
"Preto!", dizem outros atletas. E eles seguem: O saquinho do supermercado é branco... e o do lixo? É preto!".
Assumpção ficou visivelmente constrangido com as piadas e depois não aceitou bem os pedidos de desculpas, como mostrou um trecho do vídeo publicado.
No dia seguinte às ofensas, já com o vídeo inicial excluído, Nory publicou um primeiro pedido de desculpas em sua rede social.
Portas fechadas
Durante a pandemia do novo coronavírus, Assumpção foi demitido da equipe do Clube Pinheiros. Em uma entrevista exclusiva ao UOL Esporte, ele conta que foi obrigado a deixar o ginásio pela porta dos fundos.
Não consigo esquecer o dia em que me puseram para fora de lá após a rescisão. Diziam: 'vamos embora... vamos embora...' me tocando como se eu fosse um desconhecido que não passou boa parte da vida lá dentro. Como se eu fosse um marginal.
A família vê racismo na decisão. "Ter opinião própria e orgulho da raça não deveria ser motivo para demissão. Muito pelo contrário, né?", comentou Magali, mãe do ginasta.
Em um e-mail publicado pelo programa "Esporte Espetacular", da rede Globo, o coordenador da ginástica do Pinheiros, Raimundo Blanco, explicou que a decisão havia sido tomada porque Ângelo "tomou a decisão de não respeitar hierarquia e passou por cima do treinador e do supervisor ao levar uma ou várias reclamações para a gerência de esportes".
A mãe lamenta pela exclusão do filho no mercado de trabalho.
Quando um negro está indo bem, ele vai ter sempre um outro que não vai gostar das vitórias dele e vai querer, como dizem, puxar o tapete, né? E qual é a arma que covardemente usam? Principalmente para um jovem? É racismo. Com o jovem negro? É racismo.
Dona Magali
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