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Lesão e provação: repórter da Globo e atacante viveram drama antes de gol

Atacante Leandro Kível, do Confiança, e a esposa Tâmara Oliveira, jornalista da Globo em SE  - Arquivo pessoal
Atacante Leandro Kível, do Confiança, e a esposa Tâmara Oliveira, jornalista da Globo em SE Imagem: Arquivo pessoal

Gabriel Vaquer

Colaboração para o UOL, em Aracaju

03/09/2020 00h00

Quando Leandro Kível fez o gol do triunfo do Confiança contra o Vitória na última terça (1), pela 7ª rodada da Série B do Brasileirão, Tâmara Oliveira precisava se manter firme. Repórter e apresentadora do "Globo Esporte" em Sergipe, a jornalista atuava na transmissão do Premiere da partida e ainda teria a missão de concluir aquele trabalho.

Mas admite: lembrou imediatamente de toda a dificuldade que passou com o marido atacante durante um ano e seis meses, de uma lesão raríssima que Kível teve e que o fez ficar fora dos gramados. O casal emocionou o Brasil e a internet após ele dedicar o gol para ela, em entrevista na beira do campo após o fim da partida em Aracaju (SE).

"Foi muito difícil segurar a emoção no momento do gol", confessa Tâmara, em conversa com o UOL Esporte. "No momento do gol, eu só agradeci, fechei os olhos e agradeci a Deus. Porque as promessas de Deus foram cumpridas em nossas vidas. Um ano e seis meses lutando, tentando retornar", conta a jornalista sobre o marido, com quem está junto desde 2014 e é casada desde 2017. Ela não esconde o orgulho que tem do marido.

Leandro Kível é uma lenda recente do Confiança. Chegou em 2014 e foi peça-chave da ascensão do clube nordestino nas divisões nacionais. Fez o gol decisivo do acesso do Dragão do Bairro Industrial da Série D para a Série C. Entre idas e vindas, está no time desde então - nesse período, teve passagens em 2018 no ASA-AL e Botafogo-PB, onde teve bom desempenho. Mas, desde 2019, não jogava por causa de uma lesão pouco comum no futebol.

O atacante teve uma fratura no platô lateral juntamente com lesão do ligamento colateral medial e cruzado posterior. Teve que realizar uma complexa cirurgia, em um caso que pouco teve paralelo no Brasil. O jogador de 36 anos teve que colocar três pinos em seu joelho para que conseguisse recuperar plenamente os movimentos. Médicos diziam que, se fosse uma pessoa normal, e não um atleta, Kível dificilmente poderia correr.

Mas no início do ano, Leandro Kível já poderia ter tido uma recuperação. Ele foi relacionado para um jogo contra o Bahia na Copa do Nordeste, em março, mas não entrou em campo. Veio a pandemia do novo coronavírus, uma nova paralisação e um período de calvário novamente para o atacante e para Tâmara. Kivel, em conversa com o UOL Esporte após a partida, disse que ficava decepcionado por não ver melhora e evolução em seu quadro.

"Algumas vezes, eu era até errado, por que você quer melhorar, e não vê a melhora. Ela é lenta. Foi uma lesão muito grave. Mas por muitas vezes, ela amanheceu do meu lado, me vendo chorar, me vendo fazer movimentos no lençol chorando. Ela viu o quanto eu batalhei para ter a minha volta por cima. Eu pensei sim que não conseguiria voltar. Mas eu batalhei para dar a minha volta por cima. Ela me ajudou a tirar da minha cabeça, junto com papai do céu, que eu não conseguiria", afirmou o atacante.

A repercussão gigante na vida de uma jornalista discreta

Mesmo trabalhando com televisão, Tâmara Oliveira é uma pessoa discreta com a vida pessoal. Mas hoje, teve que atender a inúmeros pedidos da própria Globo para falar sobre o assunto. "Foi muita gente falando comigo, me ligando, fiquei assustada, mas feliz porque ele merece", diz ela. Mas hoje foi um dia de felicidade e agradecimento. Tâmara manda o recado: o que segurou o marido e ela foram a fé de que tudo daria certo.

"Eu sou uma pessoa muito pra cima, e ele também é. Ele sempre acreditou. Mas foram tantos meses, tantos meses sem treinar com bola, que em alguns momentos ele achou que não ia conseguir. E eu não poderia deixar ele acreditar nisso. Quando a gente tem problemas, a gente dobra a nossa fé. E eu não poderia deixar que o meu guerreiro, o meu Kível, desistisse. Não poderia mesmo", conclui Tâmara, bastante emocionada.

O atacante celebra a noite mágica, mas sabe que no futebol é um dia de cada vez. Kível deverá estar no próximo jogo do Confiança na Série B contra o CSA, em Maceió. E espera que o que ocorreu em Aracaju não seja um sonho lindo e inesquecível de uma noite invernal.

"Não me ensinaram a desistir. Não consegui fazer tudo o que eu fiz sem apoio. E eu ainda acho pouco, eu quero fazer muito mais para deixar o meu torcedor alegre, todos que gostam de mim, mais feliz. Esse chute não foi só eu que chutei, todos os outros que me ajudaram chutaram comigo", profetizou o jogador do clube azulino.