Giba se baseou em notícia falsa para comentário transfóbico sobre Tifanny
O ex-jogador da seleção brasileira de vôlei Giba usou uma notícia falsa para embasar um comentário sobre a necessidade da criação de um campeonato à parte para atletas transexuais. O ex-atleta afirmou que pessoas trans, a jogadora Tifanny, não devem disputar torneios femininos.
Para justificar o posicionamento, o ex-atleta falou sobre um caso já desmentido, que envolveria duas lutadoras de MMA.
"É um caso bem complicado. Eu sou presidente da Comissão Mundial dos Atletas na Suíça e a gente teve essa discussão. Tinham federações que aceitavam, mas as confederações não. Tivemos essa discussão. [...] Um caso que deu embasamento para que a gente não deixe isso acontecer foi o que aconteceu, se não me engano, em um campeonato de luta. Tipo MMA. Uma menina que fez isso da Bélgica, ela deu uma porrada na cabeça de uma tailandesa e a menina morreu com traumatismo craniano. E aí? Como a gente vai deixar isso acontecer?", disse Giba, em entrevista ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido).
Segundo o Boatos.org, especializado em desvendar fake news, trata-se de uma notícia falsa, já que as lutadoras sequer existem, e por esse motivo, a luta jamais aconteceu.
O site revela que as fotos veiculadas com as notícias em 2018, quando o caso ganhou as redes sociais, eram na realidade de um velório de um diretor de delegacia, tirada em 2015. Em comum, as histórias só tinham a localidade - a Tailândia.
Em contato com a reportagem do UOL Esporte, Giba não quis se pronunciar e disse que entrará em contato direto com Tiffany para uma conversa.
Por que há transfobia
Amanda Gondim, advogada atuante em Direitos das Mulheres, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência, descreveu para Universa a transfobia como o ódio direcionado à identidade de gênero.
"É diferente da homofobia, que é direcionada a orientação sexual. A transfobia envolve a identidade da pessoa, que é repelida para ser inserida em nossa conjuntura social de padrão cis", disse.
Este preconceito pode se manifestar de diferentes formas, começando por 'piadas' e comentários discriminatórios - no caso de Giba, há a ideia de segregação ao sugerir um campeonato específico para pessoas transexuais. Além disso, Giba tratar a jogadora pelo artigo masculino é extremamente desrespeitoso.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) permite que mulheres trans participem de esportes femininos desde que tenham um reconhecimento civil da transição de gênero e mantenham o nível de testosterona dentro do permitido. Tifanny está dentro dessas regras.
Ativista: 'É uma expressão pública de transfobia'
A militar e ativista trans Bruna Benevides criticou a declaração de Giba sobre Tifanny Abreu. Em participação no UOL News, ela classificou a fala do medalhista olímpico como "expressão pública de transfobia".
"Esse debate não é sobre a defesa ou cuidado com as mulheres e também não é sobre ciência. Existe um fator que é fundamental pra gente entender, que é a transfobia. Essa transfobia, no sentidodesumanizante e inferiorizante, que deixa essas pessoas totalmente confortáveis e de forma inconstrangível de estarem dando suas opiniões de forma irresponsável, no sentido de disseminar inverdades sem nenhum tipo de embasamento", disse Bruna.
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