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Brasileira do UFC hoje troca acusações com técnico que já a chamou de filha

Priscila "Pedrita" Cachoeira, ao lado de Gilliard Parana, antes de luta no UFC - Buda Mendes/Zuffa LLC via Getty Images
Priscila "Pedrita" Cachoeira, ao lado de Gilliard Parana, antes de luta no UFC Imagem: Buda Mendes/Zuffa LLC via Getty Images

Brunno Carvalho

Do UOL, em São Paulo

13/05/2021 04h00

Priscila Pedrita entra no octógono do UFC neste sábado (15) para sua primeira luta desde que decidiu deixar a equipe PRVT, a mesma da ex-campeã Jéssica Andrade. Sua adversária será Gina Mazany no card preliminar do UFC 262.

No início do ano, Pedrita começou a treinar na Team Figueiredo, de Deiveson Figueiredo, atual dono do cinturão dos moscas da organização. A lutadora carioca apontou o clima ruim em sua antiga casa de treinos como um dos motivos para a mudança. Em contato com a reportagem, Gilliard Parana, dono da PRVT e seu ex-técnico, confirmou o clima pesado, mas afirmou que a situação foi resultado de atitudes da própria lutadora.

"Eu chegava no treino e não sentia mais uns olhares bons para mim. Então senti que era hora de mudar. Tudo que acontece no UFC é reflexo dos treinos. Se seu ambiente de treino não está legal, se não está positivo e você não sente mais alegria em estar ali, é hora de mudar. Foi isso que eu pensei", explicou Pedrita.

Ao UOL, Parana rebateu. "O clima ficou pesado na academia porque a Pedrita dava em cima de namorado dos outros. A Pedrita pegava dinheiro emprestado e não pagava a galera, mentia muito. É por isso que o clima na academia não era bom como ela citou aí, porque ela realmente não conseguia ser amiga de verdade do pessoal. A galera cumprimentava ela na academia porque eu obrigava. A academia não tinha mais clima nenhum para a Pedrita, e isso não é de agora, já vem de algum tempo".

Priscila Pedrita e Gilliard Parana conversam antes de luta contra Valentina Shevchenko no UFC - Buda Mendes/Zuffa LLC via Getty Images - Buda Mendes/Zuffa LLC via Getty Images
Parana e Pedrita se consideravam "pai" e "filha" nas redes sociais
Imagem: Buda Mendes/Zuffa LLC via Getty Images

Pedrita negou as acusações sobre relacionamentos amorosos. Segundo ela, o que houve foi o interesse mútuo entre ela e uma atleta da academia, que namorava outra integrante da PRVT. A lutadora carioca também disse que não deixou a equipe com dívida. "Ele é quem está me devendo US$ 400", afirmou, em segunda conversa com a reportagem.

A relação de Pedrita com a PRVT começou em 2016, depois de ela vencer sua primeira luta profissional contra Cleudilene Costa. Desde então, ela engatou sete vitórias consecutivas em eventos no Brasil e foi contratada pelo UFC. Nas redes sociais, a lutadora chegou a chamar Gilliard Parana de "pai", sentimento que, segundo ele, era recíproco.

"Foi uma menina que conquistou meu coração, ali ficou um amor tremendo. Mas na hora que entrou no UFC, que veio [sic] os amigos temporários, os amigos de ocasião, a coisa começou a descambar. Ela sempre teve muito problema com namoro, sempre levou as namoradas dentro da academia. A Pedrita sempre teve problema na academia por causa de mentira, de querer sempre botar goela abaixo da galera os romances dela, essas coisas, essas mentiras que ela contava", prosseguiu Parana.

Além do clima ruim, Pedrita apontou os treinamentos como motivo para seu descontentamento com a antiga equipe. De acordo com ela, por mais que solicitasse instruções adicionais, não recebia. "Eu simplesmente me calava e com o tempo, passei a enxergar que não estava sendo muito bem assistida. Eu não estava bem, não estava feliz com isso tudo, fiquei muito chateada com as coisas".

Gilliard Parana admitiu que Pedrita pedia mais instruções. Ele, no entanto, afirmou que as constantes faltas da atleta aos treinos impediam seu desenvolvimento. "Para aprender a técnica, tem que ir para o treino. E a Pedrita não vinha treinar. Ela só treinou realmente até chegar ao UFC. Não treinava tudo que era para treinar, mas se existiu uma época em que ela treinou, foi quando não estava no UFC".

"É lógico que a Pedrita não estava preparada para entrar no UFC, mas eu sou um cumpridor das promessas que faço para os atletas. Se o atleta me obedece, faz tudo que eu falo, eu não durmo, mas faço acontecer a coisa. A Pedrita foi um dos maiores milagres que fiz na minha carreira profissional", diz Parana.

Há cinco meses treinando com Deiveson Figueiredo, Pedrita afirma ter evoluído em seu estilo de luta, algo que não teria conseguido na PRVT. "Eu ainda estava muito crua. Muitas pessoas até perguntavam como eu estava no UFC. Agora eu digo que mereço, sim, estar no UFC porque evolui muito em todos os quesitos".

Na casa nova, Pedrita afirma ter reencontrado a vontade de lutar. "A Pedrita alegre, que chegava para treinar bem e não faltava em um treino voltou. Agora me olham como uma campeã, me dão positividade, eu tenho energia positiva ao meu redor. Eu consigo ajudar as pessoas também, consigo ser ajudada quando preciso. Essa felicidade que eu tinha no início na PRVT, voltou na Team Figueiredo", explicou Pedrita.

A lutadora carioca tem cartel de três derrotas e uma vitória no UFC. Seu primeiro triunfo na organização aconteceu contra Shana Dobson, em fevereiro do ano passado, e rendeu a Pedrita o prêmio de bônus da noite após nocaute em 40 segundos.

"Eu sei que ela vai ganhar essa luta sábado porque é quase impossível ela perder, a adversária é muito fraca. Mas o texto está preparado na cabeça dela: 'Agora estou mais técnica, agora sim estou treinando em uma equipe boa'. Mas o que a gente não pode esquecer é que ela saiu da equipe vinda de um nocaute em 40 segundos", ressaltou Parana.

Priscila Pedrita: "Não me viam como campeã"

Gilliard Parana observa Priscila Pedrita antes de luta no UFC - Buda Mendes/Zuffa LLC via Getty Images - Buda Mendes/Zuffa LLC via Getty Images
Gilliard Parana observa Priscila Pedrita antes de luta no UFC
Imagem: Buda Mendes/Zuffa LLC via Getty Images

Pedrita afirma ter gratidão pelo tempo em que passou na PRVT e atribui ao período que ficou na equipe o mérito de ter chegado ao UFC. A lutadora, contudo, diz que não era vista dentro da academia como uma futura campeã de MMA. Segundo ela, isso mudou na chegada ao time de Deiveson Figueiredo.

"Essa foi a questão maior também, entende? Quero crescer, quero evoluir, e não estava sentindo o retorno com isso. Não estava sentindo que me olhavam como uma futura campeã. Foi quando eu decidi. Sou muito grata por tudo. Podem falar o que quiserem, porque eu sei que falam. Não me importa, isso não me abala, porque eu sei o quanto eu tenho o coração grato. Mas eu precisava de mais, e eu não estava tendo. Então eu precisei, infelizmente, botar meu coração de lado e ir em busca do futuro para a minha família, meu filho", explicou.

Priscila Pedrita deveria ter lutado em 31 de outubro do ano passado. Durante o processo de perda de peso, no entanto, ela escorregou e bateu a cabeça na banheira do hotel, sendo cortada do card da organização. Os dias seguintes ao ocorrido, segundo a lutadora, pesaram na sua decisão de buscar uma casa nova.

Ela estava em Las Vegas e diz ter sentido que estava "largada" na cidade norte-americana. "Logo que a luta caiu, eu comecei a ver algumas coisas que não estavam me agradando: o retorno que eu tive do coach que eu levei na época... Aquilo me chateou muito, eu me senti largada em Las Vegas. Pediam que eu tivesse paciência e calma. Mas eu queria lutar, queria treinar, aprender. Ficavam pedindo calma, falando que eu tinha tempo para esperar. Eu já tenho 32 anos. É uma carreira curta. Eu só ganho dinheiro se eu luto. Então eu preciso evoluir".

Questionado sobre o ocorrido em Las Vegas, Gilliard Parana afirmou ter dado assistência para Pedrita permanecer na cidade norte-americana enquanto ele voltava ao Brasil para resolver problemas com o visto do filho. A relação dos dois, segundo ele, teria terminado em uma conversa por telefone.

"Ela não saiu da equipe porque não tinha treino ou atenção. Ela saiu porque reatou o namoro e não tinha como a namorada entrar nos Estados Unidos. A gente entrou em uma discussão, e eu falei: ou você escolhe seguir namorando ou você escolhe obedecer e fazer o que vou falar para você fazer. Ela disse que ia ficar com a namorada", explicou.

"Eu fui largada pelo líder. Ele poderia ter me esperado para voltar ao Brasil e não me esperou. Sobre o relacionamento, ele não tem nada a ver. Se eu fico com a minha mulher ou não, não depende dele. Ele falar 'ou a sua mulher ou eu', isso não é atitude de líder. Ele não deveria nem se meter na relação pessoal do atleta", retrucou Pedrita.

Sem contato com a lutadora carioca desde o ocorrido em Las Vegas, Parana se diz magoado com a situação. "O resto da equipe não tem nem mágoa porque ela já não fazia diferença para eles. Mas eu que gostava dela de verdade, chamava ela de filha, eu tenho uma mágoa muito grande das coisas que ela está falando e de como ela vem se comportando", completou.