WSL muda regra e cria lei "anti-Medina" após polêmica no Havaí em 2019
"Pode rabear, pode rabear". A polêmica bateria vencida por Gabriel Medina em dezembro de 2019, no Havaí, após uma "sugestão" do padrasto Charles Saldanha para o brasileiro cometer interferência e assim impedir uma eventual virada do compatriota Caio Ibelli, provocou mudanças no atual regulamento da WSL (World Surf League, a Liga Mundial de Surfe).
A alteração passou quase despercebida no mundo do surfe e só começou a valer a partir desta temporada, uma vez que o torneio de 2020 acabou cancelado por causa da pandemia. Caso a mesma bateria fosse disputada hoje, Medina — que vive grande momento na carreira e lidera o campeonato — provavelmente seria eliminado e derrotado por Ibelli.
Para quem não se lembra, Medina causou polêmica nas oitavas de final de Pipeline em 2019 ao entrar propositalmente na frente de Caio Ibelli — que tinha a prioridade na última onda — para evitar que seu adversário tivesse a chance de virar a bateria nos segundos finais (relembre no vídeo abaixo). Na ocasião, Medina disputava o título com Ítalo Ferreira, que acabou campeão.
Pela atitude, o surfista de São Sebastião (SP) foi punido com uma interferência, teve "apenas" a sua segunda melhor onda retirada do somatório e, mesmo assim, avançou para as quartas de final de Pipeline (com 4.23 a 1.13 no placar). Com o novo regulamento da WSL, a história teria sido diferente.
Hoje, o atleta que cometer uma interferência como a de Medina terá a melhor onda retirada do somatório e ainda correrá grande risco de ser eliminado da etapa caso os juízes entendam que a ação de bloqueio tenha sido proposital.
A nova regra diz o seguinte: quando há interferência nos cinco minutos finais da bateria, e esta impede que o adversário surfe uma onda potencial para entrar em sua somatória, o surfista perde a sua melhor onda — e não mais a segunda, como acontecia antes. E tem mais: caso a maioria dos juízes entenda que a interferência tenha sido intencional, o surfista será eliminado da etapa.
No caso da polêmica de 2019 em Pipeline, a ação do bicampeão mundial somada aos gritos de "pode rabear" do padrasto Charles Saldanha provavelmente significariam a eliminação de Gabriel Medina, o que teria tornado o título mundial de Italo Ferreira ainda mais fácil.
Hoje, o surfista que cometer interferência perderá a segunda melhor onda apenas se a bateria estiver antes dos cinco minutos finais. Outra punição prescrita no regulamento da WSL diz respeito a quando houver interferência ainda sem a definição da prioridade na bateria; neste caso, o surfista infrator terá a segunda melhor nota dividida pela metade.
Medina foi criticado por Slater após polêmica
Em entrevista ao canal da Liga Mundial de Surfe logo depois da bateria, Caio Ibelli comentou a manobra polêmica de Medina e chegou a dizer que "ele joga sujo se precisar e faz de tudo para vencer", reforçando a extrema competitividade do surfista de São Sebastião (SP).
Essa não tinha sido a primeira vez que o brasileiro bicampeão mundial havia recebido críticas por causa de uma interferência. Em 2017, o 11 vezes campeão Kelly Slater condenou Gabriel Medina por uma manobra semelhante. A diferença é que, neste caso, o brasileiro tinha a prioridade.
A etapa era a mesma: Pipeline, mas pelo quinto round. Na ocasião, Medina usou a prioridade para pegar uma onda que Kelly já estava surfando.
Após a derrota na bateria, o norte-americano usou as redes sociais para comentar a polêmica e citou trecho de um capítulo do livro de regras da Liga Mundial de Surfe, referente a interferências antidesportivas: "Pode-se dizer que um surfista com prioridade cometeu interferência se na opinião do head judge [juiz] o surfista utiliza sua prioridade de forma antiesportiva ou não competitiva, para bloquear intencionalmente outro surfista com menor ou sem prioridade fora da zona primária do drop".
Slater ainda rebateu os comentários de que ele havia feito o mesmo que Medina em uma bateria contra Joel Parkinson, na final da etapa da Austrália, em 2013, lembrando que ele utilizou a onda para somar pontos, ao contrário de Medina, que só entrou para bloqueá-lo.
"Um surfista com prioridade tem todo o direito de pegar a onda de você, se ele quiser usar essa onda. Quando usa apenas para bloqueá-lo, aí já é outra história. Aos que dizem que fiz a mesma coisa com Joel Parkinson estão corretos, mas eu usei a onda e ganhei pontos por ela. Indiferente se ele estava lá ou não, eu queria essa onda, então, é um cenário diferente", pontuou.
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