'A humilhação eu vivo até hoje', diz mãe de Eliza 11 anos após assassinato
"A dor nunca passa." É assim que Sônia Silva Moraes, mãe de Eliza Samudio, resume o sentimento que vem à tona todo dia 10 de junho. Foi nessa data, em 2010, que a sua filha foi assassinada em um crime pelo qual o goleiro Bruno, ex-jogador do Flamengo, foi condenado a mais de 22 anos de prisão e hoje cumpre pena em regime semiaberto.
11 anos após a morte de Eliza, Sônia ainda sofre diariamente com os traumas de perder a filha e as acusações que recebe, a maioria nas redes sociais. É ela também a responsável pela criação de Bruninho, filho do goleiro com a ex-modelo.
"Aquela época foi muito difícil pra mim, até por conta de acusações que eu sofri. No princípio foi uma revolta muito grande. Até hoje isso respinga sobre mim, mas eu consigo viver um dia após o outro. É assim que uma mãe que perde um filho vive. Eu costumo dizer que um dia após o outro é um dia mais próximo da Eliza, porque é um dia a menos de vida pra mim. Cada dia que eu vivo, é um dia a menos para o reencontro com ela", disse em entrevista ao UOL Esporte.
"Não me deram voz", afirmou, relembrando as críticas e acusações à época do crime. "Não me deram o amplo direito de me defender quando me acusaram. A humilhação eu vivo até hoje. As pessoas pensam que estão no direito de julgar as outras e não conseguem olhar para o próprio umbigo."
Mesmo hoje, mais de uma década após o caso, Sônia conta que ainda é alvo de ofensas nas redes sociais.
"Não é porque passou 11 anos que não vai ter pessoas que apontam o dedo para mim ou para minha filha acusando. As pessoas não têm empatia. É muito doído ouvir coisas a respeito da Eliza, isso machuca. Ela não está aqui para se defender, e mesmo que eu tente [defendê-la], não é a mesma coisa. As pessoas são cruéis, elas não têm a preocupação de como vai ficar, se os comentários vão atingir o psicológico da pessoa que tá vivendo aquela dor", desabafou.
'Não foi só por causa de pensão'
Sônia falou ainda sobre os motivos que levaram à morte da filha em 2010. Ela afirmou que o assassinato não aconteceu "só por causa de pensão". Ontem, em uma entrevista publicada pelo canal "NaReal" no YouTube, ela sugeriu que Eliza foi alvo de "queima de arquivo".
"Eu acredito que foi, sim [queima de arquivo]. Não foi só por causa de pensão", contou ao UOL. "O Bruno sabia que a Eliza era obstinada, uma mulher forte apesar da pouca idade, e não se entregava fácil. Ele [Bruno] sabia que se ele não a calasse, a voz dela, ela ia falar. Ele não tinha a intenção de assumir o filho."
O UOL procurou a advogada de Bruno para comentar as declarações, mas ela não quis se pronunciar.
Além disso, Sônia Silva Moraes disse ainda que a Justiça "pecou" com Eliza Samudio. Meses antes da morte, a ex-modelo chegou a gravar um vídeo sobre os atritos que vinha enfrentando com o goleiro Bruno.
"A Justiça trabalhou de uma forma que contribuiu muito para a morte da Eliza. Lá atrás, não vou citar o nome da juíza, quando a Eliza fez um boletim de ocorrência, pedindo proteção pela Lei Maria da Penha, essa proteção foi negada. A Justiça pecou demais com a Eliza. Ela esteve na mídia, pediu socorro em vida", declarou.
"[A morte] deixa um buraco aberto, uma coisa que não consegue se fechar. Nós, seres humanos, temos o ritual do luto. Eu não tive luto, porque quando soube da minha filha eu tive que ir para luta. Tive que brigar com um cara que era idolatrado por milhões de pessoas, pela maior torcida do Brasil. O meu luto eu passei a viver depois do julgamento, quando as coisas começaram a ficar mais calmas, menos turbulentas. Eu passei a ter isso em mim, esse inconformismo por não ter o corpo da minha filha, que até hoje não tem. Isso é um inconformismo na minha vida", completou.
Bruninho é apoio em meio à dor
Em meio às lembranças de um crime brutal, Sônia tem em Bruninho um pedaço de Eliza. Ela conta que o garoto de 11 anos herdou traços da personalidade da mãe e é uma espécie de "apoiador" para ela.
"Ele é um apoiador meu, uma criança muito carinhosa. Ele é uma criança determinada, forte, igual a ela. Tudo que a Eliza tinha de bom, ele herdou. Muitas vezes ele sorri, eu olho nos olhos dele e vejo a imagem da mãe refletida", contou Sônia.
"Quando ele me vê em sofrimento ou chorando, ele vem e me abraça. Ele fala pra mim: 'o seu sofrimento me faz sofrer também'. Ele sente a dor através de mim. De uns tempos para cá, ele está uma criança mais consciente, tomando ciência de tudo que aconteceu. Até então, ele não tinha noção da gravidade de tudo que aconteceu com ele", acrescentou.
A avó explicou que frequentemente conversa com Bruninho sobre o que aconteceu com Eliza. O garoto conta com apoio de psicólogos para lidar com a situação.
"O crime do Bruno não foi só contra a Eliza, foi contra minha família. E isso as pessoas não conseguem enxergar. Quando um crime é cometido e aquela pessoa morre, ficam seus familiares", finaliza Sônia.
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