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Como Stephen Curry treina o melhor arremesso do mundo

Stephen Curry é tricampeão da NBA, sete vezes All-Star e duas vezes eleito o MVP da liga - Thearon W. Henderson/Getty Images
Stephen Curry é tricampeão da NBA, sete vezes All-Star e duas vezes eleito o MVP da liga Imagem: Thearon W. Henderson/Getty Images

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

26/06/2021 04h00

Enquanto os quatro finalistas da NBA se aproximam da definição de um campeão, Stephen Curry trabalha pensando na próxima temporada. O astro do Golden State Warriors voltou aos treinos nesta semana, em um plano traçado por seu técnico pessoal para lapidar o melhor arremesso de basquete do mundo.

Há 12 anos, Curry trabalha com Brandon Payne, o treinador responsável por desafiá-lo nos treinamentos e, assim, moldar seu estilo de jogo. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o técnico contou detalhes de como a resiliência e a competitividade tornaram Curry o melhor arremessador da NBA.

"Quando desenho os exercícios de arremesso, na minha cabeça penso: 'isso é quase impossível, está difícil demais'. Mas durante o treino, ele pode até errar uma vez ou duas, mas insiste até conseguir. Então ele transforma o impossível em algo normal, corriqueiro, praticamente todos os dias", afirmou Payne em evento organizado pela fornecedora Under Armour, que patrocina Curry.

A ideia básica é fazer do treinamento um ambiente similar ao do jogo e desafiar o jogador ao limite. Curry é o único jogador em quadra, mas sua cabeça precisa estar funcionando a mil por hora. É claro que a repetição dos arremessos tem sua importância, mas é preciso ser mais criativo do que isso para empilhar recordes da NBA aos 33 anos.

"Não adianta só fazê-lo arremessar repetidas vezes, porque no jogo ele não vai fazer arremessos em condições controladas, no conforto, com a frequência cardíaca baixa. No treino, nós tentamos recriar o ambiente do jogo de diferentes formas, distraindo-o, desafiando-o", explica Brandon Payne.

Brandon Payne e Stephen Curry durante uma tour no Japão, antes da pandemia - Jun Sato/WireImage - Jun Sato/WireImage
Stephen Curry e Brandon Payne durante tour no Japão, antes da pandemia
Imagem: Jun Sato/WireImage

Um dos exercícios, por exemplo, obriga Curry a bater uma bola de basquete enquanto também controla uma de tênis. É uma tarefa motora, de respiração e também neurocognitiva, porque as duas têm de estar em velocidades diferentes. No jogo, sem as bolinhas de tênis, o controle da bola de basquete fica mais fácil.

"No final do treino, queremos que ele tome as decisões corretas com a mesma velocidade com que tomava no começo do treino. É isso que nos mostra que ele está pronto", diz Payne.

Neste temporada, Stephen Curry se tornou: o maior pontuador da história dos Warriors (21.402); o segundo da história da NBA com mais bolas de três na carreira (2.832, apenas 141 menos do que Ray Allen); o único jogador da história a fazer 200 ou mais cestas de três em oito temporadas seguidas de NBA; e o recordista de bolas de três em um intervalo de três partidas (29).

É provável que o astro dos Warriors não esteja com o time dos EUA nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Se assim for, Curry volta a competir apenas na pré-temporada da NBA, em outubro. Após um mês de férias, ele voltou a treinar com Payne na última quarta-feira (23), em San Francisco.

Veja abaixo mais respostas do técnico pessoal de Curry:

UOL: Qual é o limite de Stephen Curry?
Brandon Payne: "Ainda não vimos o limite dele. Claro que as estatísticas foram ótimas nesta temporada, mas o que mais me impressionou foi como ele mudou seu estilo de liderança para beneficiar os companheiros, um verdadeiro professor. Neste ano, ele precisou liderar pelo exemplo, e a consistência é o resultado disso".

"Nos arremessos, estamos falando de uma habilidade adquirida que é refinada com o tempo. A mecânica de arremesso de Stephen é tão resiliente, à prova de balas, que é muito difícil que outras coisas afetem. O que melhor estamos fazendo é monitorar o cansaço dele nos treinos, para não deixar que isso interfira no arremesso. Estamos ficando mais espertos sobre o trabalho de offseason, atentos para não sobrecarregá-lo, mas ao mesmo tempo tendo a certeza de que a consistência está lá."

O que há de especial em Curry, na comparação com outros jogadores de alto nível?

Stephen Curry e Brandon Payne durante treinamento na offseason da NBA de 2018 - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Stephen Curry e Brandon Payne durante treinamento na offseason da NBA de 2018
Imagem: Reprodução/Instagram

"O que o diferencia dos outros grandes jogadores com quem trabalho é que ele faz as melhores perguntas. Ele quer o máximo possível de informações e toma o tempo para se educar durante o processo. Quando ele tem todas as informações, isso nos força a ser mais detalhistas com os treinamentos. É isso que nos permite trabalhar 12 anos seguidos: nós nos desafiamos mutuamente. Ele me desafia a fazer minha pesquisa, tentar estar sempre um passo à frente dele, o que é muito difícil porque além de um grande atleta ele também é um cara extremamente detalhista."

"Os movimentos, os arremessos, são a impressão digital de cada jogador. Eles não podem e nem devem fazer do mesmo jeito. É preciso adaptar às peculiaridades, à altura, ao peso, às lesões passadas, a tudo."

Há similaridades nos treinos de Curry, Luka Doncic e Trae Young?
"Trabalhei com Luka e Trae um pouco antes de eles começarem na NBA, e com Stephen já são 12 anos. Não há necessariamente muitas similaridades no treino, mas no jogo sim. O jeito que os jogadores treinam e evoluem é como uma impressão digital. Todos têm que desenvolver o próprio sistema de evolução. A base do que fazemos em termos de criação de espaço e arremesso podem ser similares, mas a abordagem pode vir de muitas direções diferentes. Os três trabalham duro e são detalhistas, cada um à sua maneira, e é isso que diferencia profissionais muito bons dos outros: eles entendem este sistema próprio de treino.