Tricampeã de kitesurfe: 'Evitei trabalhos que só queriam foto de biquíni'
Foi pela janela da sala de aula de sua escola que Bruna Kajiya, ainda criança, apaixonou-se pelo kitesurfe. Ela já se divertia no surfe, esporte que começou a praticar com apenas 10 anos, mas observar as pipas coloridas que se deslocavam de um lado para o outro no mar de Ilhabela (SP), onde estudava, fez com que ela quisesse alçar voos maiores - literalmente.
"Minha história com o kite é uma daquelas coisas que já foram escritas antes mesmo de acontecer. Eu amo o mar desde criança, sempre amei a natureza e gostava muito de surfar também, comecei com 10 anos. Eu lembro que da janela da minha sala na escola eu enxergava as pipas coloridas do kitesurfe indo de um lado para o outro e aquilo me chamou atenção", recorda a tricampeã mundial de kitesurfe em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
"A primeira vez que tive contato com o kite foi quando um amigo foi me ensinar, depois de eu tanto perturbá-lo. Eu adorei e depois disso nunca mais parei de praticar", acrescenta Bruna, paulista de Vinhedo (SP), que ainda menina deixou sua cidade natal para se aventurar no litoral.
Mas para voar longe e se tornar um dos principais nomes do esporte radical no Brasil e no mundo, Bruna Kajiya precisou superar obstáculos e mais obstáculos. E não só dentro d'água. Quando começou com o kitesurfe, aos 15 anos, ela tinha só praticantes homens como inspiração; nenhuma menina. Quase 20 anos se passaram e hoje a história é bem diferente.
"Na época [em que começou a praticar] era bem incomum [ver mulheres no kitesurf], era o começo do esporte e ele era dominado em uns 90% por homens. Eu nunca sofri preconceito de outros kitesurfistas, mas mudei muitas ideias pré-determinadas durante minha carreira que beneficiaram muito as mulheres no nosso esporte", diz a kitesurfista, atualmente aos 34 anos.
Voz ativa contra o machismo nos esportes radicais, Bruna Kajiya teve de passar por situações constrangedoras ao longo da carreira. Tudo que viveu, porém, serviu, de alguma forma, para construir um cenário mais positivo para as meninas que queiram se aventurar como ela.
"Melhorou muito, por isso temos que continuar propondo diálogos e debates acerca desse tema, para melhorar ainda mais. Eu já evitei trabalhos com marcas que queriam fazer apenas fotos minhas posando de biquini, sem mostrar nenhuma manobra ou nem precisar entrar na água pra ilustrar o esporte em si. Não vejo nenhum problema em tirar fotos bonitas de biquíni ou até mesmo se sentir sexy, mas tem que ressaltar o lado atleta nesses casos", pontua.
A luta de todas as mulheres faz com que esse tipo de situação diminua cada vez mais. Acho muito importante usarmos nossa visibilidade para trazer esses questionamentos à sociedade e propor diálogos sobre esses temas"
1º rali de kitesurfe do mundo
Bruna é uma das principais atrações do Sertões Kitesurf, evento inédito no mundo e que acontece entre amanhã (9) e quinta (14) no Nordeste brasileiro, com largada em São Miguel do Gostoso (RN) e chegada na Praia do Preá (CE). Com até 500 km de percurso (dependendo da categoria) e passagens por lugares paradisíacos, será o primeiro rali de kitesurfe do mundo.
"Acho a ideia e a iniciativa muito boas. O kitesurfe é um dos esportes que mais está crescendo no mundo e, nesse evento, a modalidade está proporcionando uma nova perspectiva de prestigiar e conhecer o litoral nordestino, uma das regiões mais belas do Brasil. Fico muito feliz de poder representar o Brasil, o kitesurfe e as mulheres. Vou percorrer cerca de 250km de São Miguel do Gostoso até o Ceará, vai ser uma aventura com um visual maravilhoso", diz.
Fernando Fernandes marcará presença
Além de Bruna, que competirá na categoria Adventure (250 km, com um percurso mais contemplativo), outros grandes nomes da modalidade estarão presentes, como Reno Romeu, primeiro brasileiro a ganhar um campeonato mundial e recordista do Guinness com mais giros 360º consecutivos em um único salto, o ex-BBB Fernando Fernandes, atleta paralímpico e primeiro brasileiro a praticar o kitesurfe adaptado, e Marcela Witt, campeã brasileira de strapless (modalidade do kitesurfe) e apresentadora do canal OFF.
Como funciona a prova
Todos os competidores largam juntos, e a organização irá definir quando o cronômetro será acionado. O tempo de cada competidor é validado pelo GPS individual e, durante o trajeto, os competidores passarão obrigatoriamente pelos "waypoints", onde deverão validar a passagem e confirmação dentro do horário de corte.
O formato de competição é a soma do tempo cronometrado de todos os dias. Os resultados são apresentados diariamente ao final do dia e o vencedor é quem tiver o menor tempo acumulado ao final dos cinco dias de prova.
Ambientalista realiza ações em 500 km do litoral
Liderada pelo ambientalista Caio Queiroz, a Soul Global, uma das equipes que participará do primeiro Rally de KiteSurf do Brasil, realizará um projeto ambicioso no Nordeste brasileiro. Nos 500 km percorridos, serão realizadas ações com o objetivo de estruturar um programa efetivo de coleta correta de resíduos, energias renováveis, neutralização de carbono e tratamento de água para toda esta região. O investimento total pode chegar a R $20 milhões e as ações terão início na abertura da competição.
Para elaboração do projeto, que faz um mapeamento das principais necessidades da população local com colaboração das prefeituras, sindicatos e comunidades locais, foram investidos R$ 200 mil. Para as ações iniciais, já programadas foram investidos R$510 mil. Entre as inserções estão: a instalação de dois sistemas de energia solar para uma escola pública e uma comunidade; um sistema de tratamento de água para comunidade.
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