Troquei pneu de um F1 em 26s. Algum piloto venceria comigo no time?
Não foi dessa vez que consegui virar mecânica da RedBull Racing. Bem que tentei. Depois de quase perder o mega parafuso que liga os pneus ao carro de Fórmula 1 —enormes e pesados, diga-se de passagem— e chegar perto de decepar a mão com a parafusadeira, finalizei a troca de um pneu em 26 segundos.
A experiência de pitstop de um F1 aconteceu em evento da RedBull em São Paulo na quinta-feira (7). No pavilhão Oca, no Parque do Ibirapuera, na zona sul da capital, havia a parte dianteira do carro da equipe. O espaço comportava, ainda, ferramentas utilizadas no pitstop, com o intuito de simular o box de uma corrida.
Meu primeiro contato com a parafusadeira não foi dos mais agradáveis. Antes mesmo de chegar a minha vez de bancar o Lee Stevenson (chefe dos mecânicos da RedBull e dono do recorde de pitstops), segurei a ferramenta para testar o peso, mas, atrapalhadamente, apertei o botão de parafusar, dei um grito e soltei o aparelho. Aptidão zero para o cargo.
Além do medo de perder um dedo na hora de encaixar o pneu na estrutura do carro, também temi quebrar alguma coisa: um botão, uma ferramenta, o veículo, a mão do amiguinho. Os instrutores que lá estavam tentaram me tranquilizar: "Segura a parafusadeira com as duas mãos porque quando você aperta o botão, ela dá um tranco. Se não segurar bem, você pode virar o braço e até quebrá-lo". Ah, sim, agora estou tranquila.
Na minha vez, não sabia se me preocupava com a segurança de um corpo desastrado como o meu, com a segurança do carro e da ferramenta ou com o tempo —Cacá Bueno e o jornalista Cássio Cortês trocaram o pneu em nove segundos, sabe? Sozinho, o piloto o fez em 14 segundos. Eu sabia que não chegaria a essa marca, só não queria pagar um mico muito grande.
Cacá e Cássio estavam presentes para divulgar o novo podcast dirigido pela RedBull e apresentado pelos dois, o Pod Position. Ainda assim, esfregaram nas nossas meras mortais feições a melhor marca de troca de pneus do evento. Importante relembrar que o recorde da história da Fórmula 1 é da RedBull —1.82 segundos no carro de Max Verstappen em 2019 feitos pelo time chefiado pelo já citado Stevensson.
Chegou a minha vez. Quem é naturalmente atrapalhado começa a dizer que é atrapalhado antes mesmo de cometer alguma trapalhada. É estratégia inconsciente: se der ruim, ninguém se surpreende. Me apresentei alertando a todos ao redor sobre os iminentes riscos da minha pessoa manuseando uma parafusadeira pesadíssima (no caso, quase 3 kg) e segurando um pneu que tem metade do meu tamanho.
Antes de começar, decidi pegar o pneu reserva para sentir o peso — cerca de 10 kg. Quase desisti ali mesmo. A recomendação da instrutora era que a gente o carregasse pelos lados e, não, na vertical —segurar por cima pode fazer com que a gente esmague o dedo na hora de encaixar. Impossível. "Não aguento. É isso, gente, não consigo carregar", ri. A instrutora, então, sugeriu que eu carregasse o pneu por cima e por baixo, mas que, na hora de posicioná-lo, fosse pelas laterais.
Tá, menos pior. Na minha primeira tentativa, deu tudo errado. Apertei o botão que iniciava o marcador de tempo, desrosqueei o parafusão e quase perdi o dedo tentando tirá-lo —ele ainda girava. Tirei o pneu e, com muita dificuldade, o carreguei para um canto. Peguei o outro e demorei um tanto para posicioná-lo no carro. Você tem que levantar um pouquinho para encaixar direito, o pneu é grande, eu sou pequena e vocês sabem como é.
Na pressa, peguei a ferramenta e apontei para o centro da roda —sem lembrar do parafuso, é claro. A lembrança veio quando a instrutora gritou do outro lado "o parafusooo". Aí eu já perdi totalmente o raciocínio e larguei a parafusadeira, peguei o parafuso e tentei encaixar. Não consegui. Tentei apertar sem que ele estivesse no lugar, a ferramenta encostou na lateral e fez um barulhaço de coisa errada. Quase saí correndo.
Já haviam se passado 40 segundos e, ali, eu assumia a posição de pior marca de troca de pneus do evento. Recorde histórico. Apertei o botão que parava o tempo aos 45, esbaforida, como se tivesse corrido numa esteira a 15 quilômetros por hora durante o período. Todos elogiaram —gosto muito do coleguismo, agradeço, mesmo.
Só que uma boa repórter se recusa a dizer em um texto que se conformou com a pior marca entre todos os colegas, então decidi tentar de novo. Ainda desengonçada, arrasei e fiz o pitstop em 26 segundos. Se eu tivesse sido a mecânica a trabalhar no último box de Lewis Hamilton, no GP da Rússia, meu desempenho questionável não teria influenciado na vitória dele, que foi a centésima de sua carreira. Mesmo com a melhora na marca, continuei sendo a pior do evento. Em minha defesa, são três mecânicos por roda nos boxes da F-1. Eu fiz o trampo sozinha. Dá para o gasto, vai?
Agora, se eu vestisse uniforme da RedBull e trabalhasse no box da equipe, Max Verstappen teria perdido o segundo lugar no mesmo circuito. Com sorte, teria chegado em sexto. Comigo no time, Verstappen teria perdido, ainda, o primeiro lugar no GP da Holanda para Hamilton. Se eu fizesse parte do quadro de funcionários, provavelmente, jamais seria consagrada funcionária do mês —e a RedBull, infelizmente, deixaria de compor os nove entre dez pit stops mais rápidos de 2021.
Por isso, UOL, conte comigo sempre.
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