Maratonista vítima de feminicídio era violentada com frequência, diz amiga
A maratonista queniana Agnes Tirop, que foi encontrada morta em casa na terça-feira (12), já havia relatado episódios de violência doméstica por parte do então marido, Emmanuel Rotich —principal suspeito do crime. O UOL Esporte encontrou, por meio de redes sociais, uma amiga próxima da atleta. Ela forneceu à reportagem detalhes das agressões vividas por Agnes antes da morte, mas, por medo, pediu para não ser identificada.
De acordo com a amiga, a atleta vivia um relacionamento abusivo —regado a ciúme e controle. Agnes já havia relatado a ela, mais de uma vez, ter sido agredida por Rotich. Entretanto, foi depois das Olimpíadas de Tóquio que as discussões entre os dois se tornaram mais frequentes.
Ao voltar para Iten, onde morava com o marido, Agnes descobriu que Rotich havia tido relações extraconjugais enquanto ela esteve fora. Ao confrontá-lo, a atleta teria sido, mais uma vez, agredida. Ainda de acordo com a amiga, Agnes saiu de casa depois dessa discussão e passou a morar provisoriamente em um acampamento. Enquanto se preparava para novas competições, a maratonista teria ouvido conselhos de pessoas próximas para que tentasse se reconciliar com o marido.
Na noite de segunda-feira (11), a amiga relembra, Rotich ligou para Agnes e convidou a esposa para assistir com ele, em casa, à maratona de Boston. No dia seguinte, a atleta foi encontrada morta. Vizinhos relataram durante a investigação terem ouvido uma discussão na noite que antecedeu o crime.
Pais confirmam abusos
Os pais de Agnes afirmaram à imprensa local que a relação entre a filha e o marido sempre foi conturbada. Confirmaram, ainda, não ter sido a primeira vez que a atleta foi violentada por ele —Rotich foi descrito pelo pai de Agnes, Vincent Tirop, como "abusivo e controlador".
Vincent disse também que já denunciou o genro uma vez, por ele ter sumido com Agnes cinco anos atrás. O então namorado da atleta a teria convencido a abandonar os estudos e a vender um terreno que o pai havia comprado para ela.
A família especula que o motivo do assassinato foi interesse financeiro, uma vez que, ainda de acordo com os pais, os bens acumulados pela filha estariam no nome de Rotich.
O assassinato
Agnes Tirop foi encontrada morta na casa em que morava com o marido na última terça-feira, depois de o pai da atleta ter registrado seu desaparecimento. O corpo da maratonista estava sobre uma cama, no quarto, com um ferimento à faca no pescoço. O chefe de polícia local, Tom Makori, afirmou, em entrevista coletiva, que havia muito sangue no local.
Rotich ficou foragido por dois dias —ele foi encontrado e preso na quinta-feira (14), na costa do Quênia, enquanto tentava fugir do país. Antes de sumir, o suspeito ligou para os pais da vítima e se desculpou por "um acidente que provocou".
O diretor de investigações criminais do Quênia, George Kinote, afirmou em pronunciamento oficial que o próximo objetivo da polícia local é compreender o que motivou o assassinato da atleta.
Duas vezes medalhista mundial
Aos 25 anos, Agnes Tirop era considerada uma estrela em ascensão do atletismo queniano. Ela havia acabado de quebrar o recorde mundial dos 10 km em uma corrida exclusivamente feminina um mês atrás —com o tempo de 30 minutos e 1 segundo, em Herzogenaurach, na Alemanha.
Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a atleta terminou a prova de 5.000 m em quarto lugar. Em 2017 e em 2019, ela conquistou o bronze mundial nos 10.000 m; em 2015, se tornou campeã mundial de cross country.
"O Quênia perdeu um diamante. Ela era uma das atletas que progrediram mais rapidamente no cenário internacional, graças ao seu excelente desempenho na pista", lamentou a Federação de Atletismo do Quênia em comunicado. "Continuamos trabalhando para elucidar as circunstâncias de sua morte", continuava a nota.
O presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, também homenageou a atleta: "É perturbador, extremamente triste, perder uma atleta tão jovem e promissora que, aos 25 anos, já havia glorificado nosso país por seus sucessos nas pistas. Sua morte é ainda mais difícil de aceitar porque Agnes, uma heroína queniana, foi vítima de um ato criminoso covarde e egoísta", lamentou, em nota.
* Com informações da agência Reuters
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