Gari e medalhista: jovem corredor do São Paulo é promessa do atletismo
Foi com os pés descalços, aos 14 anos, que Fábio Jesus Correia venceu sua primeira prova, de 6.000 metros, realizada entre os povoados de Lagoa das Pedras e Lagoa do Meio, na cidade de Monte Santo (BA). Hoje, aos 22, o baiano acumula títulos e concilia o atletismo com a profissão de coletor de lixo em São Paulo.
Competindo profissionalmente há dois anos pelo projeto social Kiatleta, do São Paulo Futebol Clube, Fábio esteve na liderança do ranking brasileiro sub-23 nos 10.000 metros rasos em 2020, quando conquistou o Campeonato Paulista da categoria, além dos 5.000, e ficou com o vice no Campeonato Brasileiro. Em 2021, o jovem tornou-se líder nas duas provas. Em outubro, nos Jogos Sul-Americanos de Atletismo Sub-23, de Guayaquil, no Equador, venceu os 10.000 metros e ficou com o ouro.
Fábio é uma revelação da Corrida da Paz, promovida pelo seu conterrâneo Ivanildo Dias. O experiente corredor, que também trabalha na coleta de lixo na capital paulista, costuma realizar o evento na Bahia com o dinheiro que arrecada em competições. "O Ivanildo foi a minha primeira base; foi ele quem me deu todo o apoio aqui em São Paulo", revela.
A decisão de deixar sua terra natal, no entanto, não foi fácil. Antes de se destacar nas pistas, Fábio trabalhava em uma fazenda. Adotado na infância, o jovem precisou abandonar os estudos ainda no ensino médio após descobrir que seria pai aos 16 anos. Quando recebeu a oportunidade de ir a São Paulo em 2019, para trabalhar com coleta de lixo, a mãe que o criou estava acamada. "Foi uma escolha dolorida", desabafa o atleta, que vivenciou o luto um ano depois.
Ivanildo foi quem apresentou Fábio ao ex-atleta e treinador Toninho Carlos, coordenador e mentor do Kiatleta. O clube São Paulo historicamente tem tradição no atletismo. As duas estrelas douradas acima do escudo simbolizam as medalhas conquistadas por Adhemar Ferreira da Silva, quando quebrou o recorde mundial do salto triplo, nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952, e no Pan da Cidade do México, em 1955.
A pista olímpica do Estádio do Morumbi é onde o jovem atleta treina três vezes por semana, no período da manhã. À noite, trabalha na coleta, pela empresa Ecourbis. "Para a gente conseguir conciliar, tem que querer alcançar sonhos, [só assim para] manter os dois: o atletismo e a coleta", conta.
O morador de Itaquera, zona leste de São Paulo, ainda não consegue se manter financeiramente como corredor: "Infelizmente, o atletismo é um pouco desvalorizado". Revela, porém, que a empresa de coleta seletiva na qual trabalha incentiva não só ele, como outros profissionais à prática do esporte, isentando-os até de possíveis faltas durante as competições.
Fã do maratonista Daniel Nascimento, Fábio representará o Brasil nos inéditos Jogos Pan-Americanos Sub-23, que ocorrem entre 25 de novembro e 5 de dezembro, em Cali, na Colômbia. A promessa do esporte, porém, já sonha com voos mais altos. "Espero fazer um bom resultado e no futuro ir para as Olimpíadas, em Paris [2024]", finaliza.
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