O que diz a regra da Fórmula 1 se um piloto bater no outro de propósito

Começa hoje (10) um final de semana há muito esperado na história da Fórmula 1. Dois pilotos chegam à última corrida do ano empatados em pontos no Mundial, algo inédito em 47 anos e que tem tudo para ser a cereja do bolo de uma temporada muito equilibrada. Há, no entanto, uma tensão no ar: Max Verstappen seria capaz de jogar sujo e bater de propósito no carro de Lewis Hamilton para garantir o título? Abaixo o UOL Esporte explica o que diz o regulamento da FIA em casos como esse.

Acidentes "de corrida"

Qualquer acidente durante um GP de F1, causado de forma proposital ou não, é reportado aos comissários para averiguação e "pode implicar em penalidades, incluindo a desqualificação do(s) piloto(s) envolvido(s)", segundo o Código de Conduta da FIA.

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Acontece na grande maioria das corridas, mas as punições mais comuns são brandas, por exemplo um acréscimo de segundos no tempo final da prova daquele piloto (como os 15 segundos que Verstappen tomou na Arábia Saudita).

Acidentes propositais

Se a FIA entender que um acidente foi causado de maneira proposital, o caso pode ser interpretado como "comportamento antidesportivo" ou "tentativa de influenciar o resultado de forma contrária à ética esportiva", como diz o artigo 12.2.1 do Código Desportivo Internacional da entidade máxima do automobilismo.

Nem este artigo específico nem o Código, no geral, determinam exatamente a punição para infrações deste tipo, deixando-as abertas para interpretação. As penas, aliás, vão além da desqualificação do GP referido, pois em outro artigo (12.4.5) a FIA prevê também "suspensão de uma ou mais competições e dedução de pontos no campeonato" para uma infração.

Tais regras foram destacadas ontem (9) por Michael Masi, diretor de corridas da Fórmula 1. É comum que ele divulgue instruções na véspera de cada GP, mas desta vez as notas usuais foram acrescidas de quatro artigos do Código Desportivo Internacional da FIA que deliberam justamente sobre "comportamento antidesportivo" e perda de pontos no Mundial. Soou como um recado à Red Bull.

Em resumo, uma batida proposital em Abu Dhabi certamente renderia punição ao piloto envolvido, mas o grau desta punição dependeria das características do suposto acidente —como em qualquer GP. A depender da interpretação da FIA sobre seu Código Desportivo, um caso deste tipo poderia custar desde uma mera punição de segundos até a perda de pontos no Mundial de Pilotos, e é claro que a situação do campeonato seria levada em consideração.

Regras não são muito específicas

Sendo um esporte de infinitos detalhes, a Fórmula 1 não tem como prever em regulamento cada situação que pode ou não acontecer em uma corrida. As regras são muito específicas em questões técnicas, como por exemplo o espaço entre as chapas da asa traseira de um carro, mas são vagas quanto ao comportamento dos pilotos na pista.

Como definir com certeza se um piloto forçou o outro para fora da pista de forma deliberada ou não, se isso acontece em milésimos de segundo? É por isso, principalmente, que as decisões de comissários de provas por punição ou absolvição de um piloto durante um GP quase nunca são unânimes entre torcedores e comentaristas da F1.

Rivalidade fervendo em Abu Dhabi

As suposições não nascem infundadas. Verstappen e Hamilton já se estranharam na pista várias vezes ao longo desta temporada, sendo as mais impressionantes um toque em Silverstone e uma batida forte em Monza. O toque mais recente foi há apenas cinco dias, na Arábia Saudita, quando o holandês freou na reta e provocou um acidente que poderia ter feito ambos abandonarem a corrida (veja no vídeo abaixo). Em Abu Dhabi, um abandono duplo daria o título a Verstappen.

Nos últimos dias, todo o entorno de Verstappen tem saído em sua defesa e negado a possibilidade de uma batida proposital no domingo. "Não acho que vá acontecer", disse o pai do piloto, Jos Verstappen, quando questionado sobre o assunto. Helmut Marko, o consultor da Red Bull, foi mais claro ao dizer que a equipe "fará de tudo" pelo título em Abu Dhabi, "mas nada desleal". Já o chefe da equipe, Christian Horner, argumentou que o piloto "não é louco".

O próprio Max Verstappen afirmou "não pensar nisso" e se disse até "injustiçado" pelas punições que recebeu na Arábia Saudita. "Para mim, o que aconteceu não merecia punição. Outros dois pilotos fizeram o mesmo e não receberam", argumentou de forma genérica ontem, durante entrevista coletiva já no circuito de Yas Marina.

Seja como for, os dois rivais pelo título estarão na pista já às 6h30 (de Brasília) de hoje para o primeiro treino livre do GP de Abu Dhabi. A classificação é às 10h de amanhã (11), e a corrida começa no mesmo horário no domingo (12). Entre Verstappen e Hamilton, quem pontuar mais será campeão, e um "empate" serve ao holandês pelos critérios de desempate (uma vitória a mais).