Djokovic injustiçado? Tenistas brasileiros analisam impactos de polêmicas
Os sorteios das chaves principais do Aberto da Austrália ocorreram na madrugada desta quinta-feira (13), horário de Brasília. Mas o principal assunto do torneio continua sendo a polêmica envolvendo Novak Djokovic, que é o cabeça de chave número um do torneio. O nome do sérvio é o mais comentado no mundo do esporte neste início de 2022 por ele ter pedido isenção para entrar no país sem se vacinar para covid-19.
O tenista número um do mundo alegou ter testado positivo para coronavírus em 16 de dezembro, mas o Estado de Victoria —onde está situada Melbourne, a sede do Grand Slam— determina que só pessoas vacinadas poderiam entrar parar jogar o torneio. Além disso, Djokovic é acusado de ter mentido ao preencher formulário de entrada na Austrália. Em suas redes sociais, o atleta de 34 anos alegou que houve erro humano não deliberado no preenchimento do documento que foi realizado por um membro da sua equipe.
Mas Djokovic está sendo injustiçado? Está sendo teimoso ao não aceitar se vacinar? Será prejudicado em quadra por ter ficado dias em isolamento no hotel sem treinar? O UOL Esporte conversou com os ex-tenistas brasileiros Carlos Kirmayr, Fernando Meligeni e Ricardo Mello sobre toda a polêmica envolvendo o número um da ATP.
Perseguição ou falha de comunicação?
"Não acho que é perseguição, eu acho que existem leis. Pra eu ir à República Dominicana tenho que ter [tomado a vacina] da febre amarela. Se eu não tiver, não entro, ponto. Eu viajei muito na minha vida e era o que o país exigia pra minha própria proteção, pro meu próprio bem-estar. É óbvio que deixa de ser egoísta na hora que você também pode contagiar outros, então, é uma estrada de mão dupla. Mas ele não foi deportado, seguraram ele porque ele nem entrou [na Austrália]. Quando o cara fica naquela salinha lá, não é considerado dentro do país. Agora, ele já estava em território, mas não na Austrália, ele estava num lugar que se dizia Austrália, mas ainda não era Austrália porque não tinha carimbado o passaporte."
Carlos Kirmayr
"O grande ponto que eu tomo cuidado ao comentar, comento com um pouco de cuidado porque eu já estive lá dentro. Acho muito estranho o Djokovic sair da casa dele, do nada, sem falar com ninguém, sem ter tomado vacina e falar: 'eu vou entrar na Austrália'. É óbvio que não foi assim. Só que a gente não sabe quem ligou pra ele, se foi o presidente da Austrália, como foi essa [história] pra ele chegar com visto, aprovado o visto, e falaram pra ele ir. Quando chegou, percebeu que complicou. No raio X está errado, não deveria mesmo ter deixado entrar como aconteceu com a Makarova, como aconteceu com vários tenistas que não se vacinaram e que nem foram."
Fernando Meligeni
"Eu acho uma situação bem difícil pelo seguinte: muitos dizem que uma pessoa que já contraiu o covid-19 tem mais ou menos seis vezes mais de imunidade do que uma pessoa vacinada. Até onde eu sei, ele já pegou duas vezes, uma no primeiro ano e agora [em dezembro de 2021]. Teoricamente, ele tem mais imunidade do que uma pessoa vacinada. É difícil. Por um lado, tem o lado dele de não querer tomar a vacina, é um direito louvável dele de não querer se vacinar. Por outro, a Austrália pede a vacinação, então não viaja pra lá.
Ricardo Mello
Agora tem um fato complicado de estar disputando o recorde de Grand Slams [Djoko está empatado com Roger Federer no topo, com 20 títulos cada]. O trabalho dele, no momento, seria na Austrália porque é o Grand Slam. É obrigado, de certa forma, ir pra lá porque lá é o torneio, lá que é o trabalho dele no momento, tem a questão de ter contraído o covid em dezembro e não poder se vacinar algumas semanas antes de viajar para a Austrália. Já estava em cima da viagem. Na verdade, eu não sei qual foi a falta de comunicação entre governo australiano e embaixada australiana na Sérvia para ter permitido a viagem dele. Chegando lá, passou o que passou. Eu precisava entender essas questões pra formar realmente uma opinião. Djokovic viajou e não tinha que ter ido? Viajou no fato, bobeou e não tinha que ter ido? Forçou uma barra pra entrar no país? Essas questões que eu precisava saber."
Ricardo Mello
Contrário à vacina contra a covid-19
"A única coisa que eu sei é que ele é contra a vacina, ou ele não diz que é contra ou não. Ele fala que não precisa dizer se ele vacinou ou não. Ele não tem documentos de ter vacinado. Está criando uma polêmica tremenda, tem muita gente que está se colocando contra ele, tem muita gente que o idolatra por ser um grande jogador. Mas o fato é que a gente desconhece a total realidade. Eu não sei o que aconteceu, a gente sabe o que sai na imprensa. Eu não sei se é a história completa ou como essa história está sendo contada."
Carlos Kirmayr
"Eu acho que ele teria que ser vacinado, mas eu não sou ele. Como dos 97 dos 100 melhores jogadores do mundo se vacinaram, a ATP falou isso, eu acho que deveria. Também tem o lado do Djoko, o que ele fala: 'espera aí, me deixaram ir'. E se realmente deixaram? A gente nunca vai saber. E se chegou o diretor do torneio, o ministro do nem sei o que e falou: 'pode vir que você joga'. Estão dando pedrada no cara. É outra leitura, se deve se vacinar ou não. Isso é uma outra discussão, mas é muito difícil dividir essa discussão. Ele é o exemplo e deveria dar esse exemplo para os jovens. Tem a discussão se ele está fazendo alguma coisa errada pra jogar na Austrália. Ele tem o direito de não se vacinar e pagar pelo preço. É muito difícil a leitura. Eu acho que isso não acabou, pois agora estão encontrando outras coisas."
Fernando Meligeni
"Desde o início da pandemia, ele já declarou que não [iria tomar a vacina contra a covid-19]. Ele já fez aqueles eventos durante a pandemia que um monte de gente se contaminou. Pegou super mal pra ele. Ele já falava que não queria se vacinar, foi bem polêmico nesse assunto. A gente viu declarações da grande maioria a favor de se vacinar. Alguns franceses se vacinaram, a partir daí e começaram a ter mais problemas de saúde. A gente vê algumas opiniões contrárias também à vacina. Na opinião do Djokovic, ele fala que é uma vacina em teste, que não se sente confortável em tomar. Ele está errado? É um direito dele, a gente não sabe o futuro ainda o que pode acontecer."
Ricardo Mello
Isolamento no hotel prejudicou a preparação?
"Com certeza. O tenista gosta de jogar duas vezes por dia, precisa fazer o preparo físico ainda mais antes de um Grand Slam. Mas ele vai ter uma semana pra aquecer o motor, pra ver o que acontece."
Carlos Kirmayr
"Não. Agora entro num ponto onde eu posso falar muito tranquilamente. Ele é um cara extremamente capaz. Ficou três dias parado, mas, com certeza, dentro do quarto, ele não ficou dormindo, ficou fazendo as suas abdominais, ficou fazendo suas movimentações. Ele não segurou a raquete, isso é uma coisa muito natural. Pode chover três dias, e a gente, às vezes, fica três, quatro, cinco dias sem jogar antes de uma semana do campeonato. Nesse quesito, não existe [problemas na preparação]. Acho que existe e que ele já comeu desse pão duro aí. Pô, se ele jogar mesmo, como a torcida vai encarar? Como vocês da imprensa, toda vez que for fazer uma coletiva de imprensa, como vocês vão tratar ele? Como os jogadores vão tratar ele no vestiário? E aí você tem toda essa repercussão que ele pode ser forte pra caramba mentalmente, mas ele também sucumbiu no US Open e sucumbiu também nas Olimpíadas na pressão. O maior problema dele é o entorno e não ter parado de jogar três dias. Isso aí não tem nada a ver."
Fernando Meligeni
"Mesmo assim, ele está tendo uma semana pra treinar. Ele, mesmo dentro do quarto, ali, confinado, com certeza não deve ter ficado sem fazer nada. Alguma coisa, ele fez. Não é o ideal, obviamente, mas com relação ao fuso horário está melhor, já está na preparação dele normal. Eu acho que é muito mais uma questão mental --por ter passado por uma situação muito difícil nos últimos dias lá, em relação a governo [australiano]-- e como ele vai lidar nos próximos dias, principalmente nos jogos. Eu não sei como o público vai lidar, se eles vão vaiar ou se eles vão aplaudir. É uma coisa assim que estou curioso pra ver."
Ricardo Mello
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as vacinas contra covid-19 são seguras, e se vacinar ajudará a protegê-lo contra o desenvolvimento de doença severa e morrer em consequência do vírus. Efeitos colaterais relatados têm sido, em sua maioria, leves a moderados e não duraram mais do que alguns dias.
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