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Vice na Austrália, Bia Haddad relembra doping: "Dia mais difícil da vida"

Bia Haddad e  - BRANDON MALONE/AFP
Bia Haddad e Imagem: BRANDON MALONE/AFP

Beatriz Cesarini e Talyta Vespa

Do UOL, em São Paulo

06/02/2022 04h00

A tenista Bia Haddad se tornou a terceira brasileira a chegar a uma final de Grand Slam. Com o vice-campeonato na Austrália (ao lado da cazaque Anna Danilina), quebrou um jejum de 54 anos sem mulheres brasileiras em decisões por duplas —Maria Esther Bueno havia sido a última a conquistar o espaço, em 1968.

Aos 25 anos, e carregando o peso de ser a promessa do tênis no Brasil, Bia conta com exclusividade ao UOL Esporte que ter passado por momentos turbulentos na carreira fez com que ela aprendesse a conviver com a pressão.

"Tive muitos motivos para duvidar, pensar em desistir. Tive lesões, fui pega no antidoping e descobri um tumor no dedo. Recomeçar, no tênis, é muito difícil. Perdi ritmo, fiquei fora do ranking. Recuperar esse espaço foi uma conquista", conta.

A tenista brasileira foi flagrada no exame antidoping por uso de anabolizante em 2019. A Federação Internacional do Tênis (ITF) afirmou que a amostra de urina coletada durante sua participação no WTA da Croácia deu positiva para quatro substâncias dopantes, sendo duas delas agentes anabolizantes. Bia foi suspensa em julho daquele ano e, só em fevereiro de 2020, a ITF acatou a alegação de que as substâncias proibidas entraram no organismo da tenista brasileira a partir de um suplemento contaminado. Ela recebeu uma suspensão de 10 meses.

A equipe de Bia negou as acusações à época; afirmou que a atleta "jamais procurou obter vantagem indevida, sempre respeitou o jogo limpo e que trabalharia em sua defesa para provar sua inocência".

"Recebi muitas críticas; as pessoas não estavam mais ao meu lado. Sou uma mulher muito forte, e tive apoio da minha família e da minha equipe. Durante esses períodos, entendi que só poderia contar com essas pessoas; o público só aparece quando a gente está no topo. Quando venço, aparece um monte de foto minha criança com pessoas que nunca mais tinham aparecido; apareceram amigos que nunca mais haviam falado comigo. Isso mostra o quanto as pessoas são 'resultadistas' no Brasil. Ter vivido tudo isso cedo fez com que eu aprendesse a lidar com a pressão".

Bia cresceu em uma família de atletas. A mãe dá aulas de tênis, os avós maternos também praticavam o esporte. O avô paterno jogou basquete pela seleção brasileira —e joga até hoje, em categorias de idosos. São eles, os avós, Bia conta, que vêm à mente dela sempre que passa pelo túnel a caminho de uma quadra.

A infância no clube Sírio, na zona sul de São Paulo, proporcionou a Bia o contato com diversos esportes. Quando criança, fez judô, futebol, ginástica olímpica e tênis. A escolha pelo tênis aconteceu aos 13 anos e, apesar de mãe professora, foi uma decisão somente dela. "Eu me destacava, era muito grande. Criança gosta de ganhar, e eu ganhava no tênis. Foi fácil a escolha", ri.

Aos 15, Bia se qualificou para o juvenil de Roland Garros, e a vida adulta começou a cobrar uma ainda adolescente. Ela mudou de casa, de escola e precisou aprender a viver sem os pais por perto. "Na escola, eu faltava muito, então não consegui criar vínculos. Eu era bastante sozinha nesse aspecto, mas os poucos amigos que eu tinha estão até hoje na minha vida. E minha família, então, nem se fala", conta.

A atleta afirma saber lidar com as expectativas do público, e conta que tenta fugir da pressão para se manter firme. "Eu mesma me pressiono, sei do meu potencial, do que posso ser. Hoje em dia, lido bem com a pressão dos outros. Eu jogo para mim. Enquanto estou competindo, não uso celular, não abro as redes sociais. Isso me mantém focada. Evito ler o que as pessoas dizem".