Topo

'Gay mais forte do mundo' e autor de livro infantil: quem é Rob Kearney?

Rob Kearney com cabelos e calças coloridas - Arquivo pessoal/Instagram
Rob Kearney com cabelos e calças coloridas Imagem: Arquivo pessoal/Instagram

Do UOL, em São Paulo

18/02/2022 04h00

O norte-americano Rob Kearney, de 30 anos, tem 129 quilos distribuídos em 1,78m. Quatro vezes campeão do World's Strongest Man, principal competição de força do mundo, ele costuma competir com calças justas e coloridas, pouco comuns na modalidade. E, para além dos títulos e das roupas chamativas, ele é o único competidor do esporte a ser abertamente gay. Fugindo dos estereótipos frequentemente associados a um homem homossexual, Kearney —que se autodenomina "o gay mais forte do mundo" em suas redes sociais — se tornou voz contra o preconceito contra a comunidade LGBTQIA+ e contou sua experiência no livro infantil "Strong", que será lançado em maio de 2022.

Kearny revelou ser homossexual em 2014, em uma entrevista ao Huffpost, quando tinha 22 anos. Na ocasião, relatou que o fato de ser "romântico" o fez se assumir publicamente.

"Eu decidi me assumir agora por causa do meu namorado. Ele e eu estamos juntos há dois meses, e eu não queria mais esconder [sou meio romântico]. Se não fosse por ele, eu não teria decidido dar o salto e sair [do armário] e quem sabe onde eu estaria hoje sem ele".

Kearny casou com Joey Aleixo em março de 2019, uma semana depois de vencer o Arnold Astralia Pro Strongman World Series.

Com camisetas de unicórnio, moicano e calças leggings coloridas, Kearney tem se tornado uma voz contra o preconceito entre pessoas LGBTQIA+ desde que se assumiu.

"Agora eu entendo que o strongman não é exatamente um esporte convencional, mas eu sou o único homem abertamente gay competindo no nível profissional do esporte mais hipermasculino do mundo. Homens gays são muitas vezes considerados femininos, suaves, fracos, não atléticos e incapazes de serem fortes, masculinos, poderosos e corajosos. Esses estereótipos colocados em homens gays e outros membros da comunidade LGBTQIA+ são o que tornam a visibilidade no esporte profissional tão importante", escreveu em sua coluna no Barbend, site especializado em esportes de força, como strongman, fisiculturismo e crossfit.

Rob Kearney em desafio no Brasil - Rodrigo Dod / Savaget - Rodrigo Dod / Savaget
Rob Kearney tenta puxar caminhão em desafio no Brasil
Imagem: Rodrigo Dod / Savaget

"Quando os atletas LGBTQIA+ saem do armário e não se escondem mais nas sombras, isso faz mais do que apenas permitir que eles [publicamente] sejam quem sempre foram. Quando as crianças estão crescendo e encontram modelos nos atletas, elas automaticamente pensam 'quero ser como eles quando crescer'. Os jovens LGBTQIA+ não têm esse luxo, porque crescem sem ver ninguém como eles. Isso envolve essas crianças em dúvida e vergonha porque elas sentem que nunca podem se destacar em qualquer arena atlética."

Ele contou que ele mesmo já sofreu [e ainda sofre] preconceito em relação à sua orientação sexual e que recebe e-mails e mensagens de ódio. "Eu li tudo, ouvi tudo e vi tudo, mas isso não me desanima. Isso me motiva a ter ainda mais sucesso, porque, para mim, não há desgraça maior para essas pessoas do que me ver vencendo".

Ao contrário do que imaginava, a publicidade de sua orientação sexual não mudou em nada a relação com outros competidores. "Dizer abertamente 'eu sou gay' me assustou. Eu estava com medo do que meus concorrentes no strongman pensariam. Eu tinha medo das reações que receberia de amigos, familiares e do resto do mundo. Felizmente, o strongman é uma comunidade incrível de atletas que se apoiam na vida, e sair do armário só tornou meu relacionamento com meus concorrentes mais forte do que nunca".

Livro infantil

Capa do lIvro infantil escrito por Rob Kearney - Divulgação - Divulgação
Capa do lIvro infantil escrito por Rob Kearney
Imagem: Divulgação

Dentro deste contexto, Kearney decidiu dar um passo além. Em parceria com o escritor e ativista LGTBQIA+ Eric Rosewood, ele escreveu o livro infantil "Strong", que conta sua trajetória e desafios.

"Rob sonha em se tornar um campeão. Ele quer virar pneus enormes, arrastar pedregulhos e caminhões de transporte —e um dia ser o homem mais forte do mundo! Mas ele sente que não pode se encaixar com suas leggings brilhantes, camisetas de unicórnio e cabelos tingidos de arco-íris. Rob encontrará uma maneira de entrar em seu verdadeiro eu e ser um campeão?", diz a sinopse do livro.

"O Gay Mais Forte do Mundo" explicou em uma publicação no Instagram que a "história é sobre as coisas incríveis que você pode alcançar quando se aceita por quem você realmente é".

Na capa, uma ilustração de Kearney mostrando os bíceps, com o cabelo cortado no estilo moicano, pintado nas cores do arco-íris, um dos símbolos da comunidade LGTBQIA+.

Ruptura no tríceps e câncer testicular

Os últimos dois anos foram desafiadores para Kearney. Em outubro de 2020, ele rompeu o tendão do tríceps esquerdo durante uma competição remota de levantamento de toras de madeira.

A lesão (veja no vídeo acima) aconteceu na quarta tentativa, com uma tora de 220 quilos, com a qual quebraria o próprio recorde do American Log Press. Depois, ele relatou dessa forma o momento: "Senti como se um balão tivesse estourado no meu braço".

A recuperação foi longa e, durante esse período, um novo desafio. Kearney foi diagnosticado com câncer testicular, em junho de 2021.

"Olhando para o lado bom das coisas, é um câncer mais curável. As taxas de sucesso são muito altas. Eles vão remover o testículo inteiro, o que não é o ideal para mim, que tenho 29 anos, mas é isso que precisamos fazer para ter certeza de que estou seguro", escreveu em um post no Instagram, antes da cirurgia na qual o tumor foi retirado.

Desafio no Brasil

Rob Kearney levanta carroça humana   - Rodrigo Dod / Savaget - Rodrigo Dod / Savaget
Rob Kearney levanta carroça humana
Imagem: Rodrigo Dod / Savaget

Recuperado, no final de semana passada, Kearney participou no Brasil do evento Força Bruta, em Cotia, na Grande São Paulo.

A competição de strongman desafiou os quatro homens mais fortes do mundo a realizar tarefas que exigem muito dos músculos, como levantar uma carroça com até nove pessoas dentro, que pesava uma tonelada, arremessar barris de até 26 quilos por cima de uma cerca de 5 metros e puxar um caminhão de 12 toneladas.

Kearney ficou em terceiro lugar, atrás do canadense JF Caron, campeão do evento e do vice-campeão, Rauno Heinla, da Estônia.