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Viralizou: árbitra da patinação ficou 7 horas respondendo mensagens na rede

Cláudia Feital, comentarista de patinação artística no Sportv, viralizou com comentários afiados - Reprodução/Facebook
Cláudia Feital, comentarista de patinação artística no Sportv, viralizou com comentários afiados Imagem: Reprodução/Facebook

João Victor Miranda

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/02/2022 04h00

Uma das modalidades favoritas dos brasileiros nas Olimpíadas de Inverno, a patinação artística feminina individual começou a ser disputada nos Jogos de Pequim na terça-feira (15). Por todo o país, fãs ou entusiastas de ocasião sintonizaram o Sportv 2 para acompanhar as primeiras atletas. Mas quem brilhou na transmissão, mais do que as atletas, foi a comentarista Cláudia Feital, que viralizou com opiniões sinceronas e análises de impacto.

Em entrevista ao UOL Esporte, a vice-presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG) contou que esta tem sido sua estreia como comentarista. Foi quando saiu do ar, após o primeiro dia de transmissão, que Cláudia Feital teve noção do alcance de suas opiniões. Tanto que passou sete horas no Twitter respondendo cada comentário — elogioso ou não.

"É a primeira vez que eu comento. Eu estou curtindo bastante e estou bem à vontade, como você pode ter notado, pelas coisas que repercutiram, e que eu nunca imaginei que fosse repercutir dessa forma. A internet é imprevisível. É realmente surreal. Eu estou curtindo bastante. Os dois narradores com quem eu trabalhei — Sergio Arenillas e Natália Lara — são muito bons, me deixam muito à vontade", disse Cláudia.

A comentarista afirmou que não soube, de imediato, a repercussão de suas falas. "Eu tinha tanta coisa para pesquisar para o dia seguinte ou dois dias depois, ainda mais com toda essa coisa de doping, julgamento (da russa Kamila Valieva)", conta.

"Um colega me mandou a reportagem e eu falei: 'Meu Deus do céu! O que é isso?'. Foi só então que eu entrei no Twitter, e aí eu vi o que as pessoas estavam falando. Tirei um dia inteiro para responder todo mundo. Agradecer quem estava elogiando, explicar o significado do comentário para quem não estava elogiando. Eu passei seis ou sete horas só respondendo gente de Twitter. Acho que respondi todo mundo".

Cláudia explicou que sua maior preocupação foi tentar usar uma linguagem acessível ao público. Além de traduzir nomes de movimentos, a comentarista se esforçou para não abusar do tecnicismo, o que deixaria a transmissão chata, na opinião dela.

"Foi uma surpresa [a repercussão]. Eu tentei colocar da forma mais acessível possível uma modalidade que não é comum aqui no Brasil. As pessoas conhecem muito pouco. Não é futebol, não é vôlei. Então, as pessoas conhecem muito pouco, não sabem os nomes, que são todos em inglês. A gente fez questão de traduzir quando dava. O que é técnico demais fica muito chato. Tentei tornar a coisa mais leve e dizer o que eu achava, o que eu estava vendo de uma forma que todo mundo entendesse: estava ruim"

Decepção com o nível das Olimpíadas

As duras críticas feitas no programa curto refletiram algo que incomodou Cláudia Feital nas Olimpíadas de Pequim. Na opinião da comentarista, que também é juíza nacional de patinação artística com duas certificações internacionais, nem parecia que as melhores do mundo estavam se apresentando em certos momentos.

A prova da patinação é dividida em duas partes. O programa curto tem menor duração de tempo, e é mais técnico. Já o programa longo, disputado num segundo dia, é mais artístico. A nota final das atletas é a somatória dos dois programas.

"Eu fiquei muito decepcionada com o nível de patinação porque não parecia uma Olimpíada. Mas no segundo dia (realizado na quinta-feira, 17) melhorou bem, o que é incrível, porque normalmente o programa curto vai bem e acaba indo mal no programa longo, que é fisicamente exaustivo. E não foi assim", declarou.

"Não tinha o que falar no segundo dia. Todo mundo escolheu música condizente, todo mundo patinou bem. Não teve muito o que falar durante a apresentação, na verdade. As meninas estavam condizentes. A gente só fez uma brincadeira sobre o 'momento fashion', porque os vestidos estavam lindíssimos. Mas não tinha muito com o que ficar revoltada", explicou.

Paixão pelo esporte como legado de família

O trabalho como juíza tem a ver com a paixão de Cláudia pelo esporte. Quando jovem, ela foi patinadora: competiu no Brasil, que ainda não tinha um campeonato nacional organizado, e nos Estados Unidos.

"Eu pratiquei patinação artística em outro século, literalmente. Tem 30 anos a última vez que eu competi. Mas como eu gosto muito do esporte, é uma paixão, eu sempre quis ficar perto de alguma forma", contou.

"Comecei como juíza de maneira bem amadora. A CBDG, na época, não era filiada à Federação Internacional. Teve um curso no Brasil com uma juíza especialista técnica da ISU (a Federação Internacional de Patinação) e eu confesso que quando ela começou a falar, eu fiquei: 'Meu Deus! O que ela está dizendo?'", lembra. "Fiz a famosa cara de samambaia. Depois, corri para o hotel, eu e outra juíza, e passamos a noite inteira pesquisando para entender o que ela estava falando", disse.

A paixão pelo esporte é herança de família. O pai de Cláudia, Carlos Eduardo Carvalho Lima, foi atleta de tiro e campeão nacional pelo Fluminense. A comentarista contou que ele desistiu de participar dos Jogos Olímpicos de 1968, na Cidade do México, porque o nascimento dela estava próximo.

"Um dia, ele me deu um recorte de jornal e eu quase bati nele: dizia que ele tinha desistido de ir às Olimpíadas de 1968 porque a minha mãe estava grávida e eu ia nascer. Eu disse: 'Como assim, pai? Era Olimpíada'. Ele falou: 'Mas você ia nascer'. Eu respondi: 'Não tem problema. Eu ia nascer na mesma'. Não acredito nisso. Fiquei revoltada", contou.

Ajudinha de Maurren Maggi

Se o pai de Cláudia desistiu dos Jogos Olímpicos, uma medalhista de ouro ajudou a comentarista na nova função. Após aceitar o convite do Sportv, a juíza pediu conselhos para Maurren Maggi, que também atuou na função, mas na Globo.

Cláudia conta, com bom humor, que adaptou as orientações da campeã olímpica para o seu próprio estilo, e que seus comentários "sarcásticos" fazem parte de sua personalidade.

"Na verdade, quando me convidaram, eu aceitei na cara e na coragem. Eu perguntei: 'Maurren, me dá uma ajuda porque me chamaram'. Ela disse para ser leve, dar informações interessantes e que se ficasse técnico demais, o público não ia gostar, ficaria chato. Se alguém me ajudou, foi ela. Os comentários mais sarcásticos são da minha personalidade mesmo. Ela pediu para ser divertida, eu fiz do meu jeito", continuou.

Convidada para a gala

Ainda dá tempo de ver Cláudia Feital em ação como comentarista. Amanhã (20), a partir das 6h (de Brasília), ela comenta a apresentação de gala da patinação artística, com os campeões de cada categoria e alguns convidados.