Primeira campeã de boxe desafiou rival no jornal há 300 anos; conheça
Um desafio nos classificados do jornal foi a semente da primeira luta de boxe feminino registrada na história, há 300 anos. Neste Dia da Mulher, o UOL Esporte relembra a história de Elizabeth Wilkinson, considerada a primeira mulher campeã do pugilismo.
"Eu, Elizabeth Wilkinson, de Clerkenwell [bairro de Londres], tendo trocado algumas palavras com Hannah Hyfield e exigindo satisfação, convido-a para me enfrentar no ringue e lutar comigo", publicou o extinto jornal Daily Post em junho de 1722. As duas de fato lutariam dias depois, com vitória de Wilkinson.
Para evitar os arranhões, tão comuns no boxe da época, as duas se enfrentaram segurando uma moeda em cada mão, e quem a deixasse cair primeiro perdia. Contam os jornais que o combate foi surpreendente pelo ineditismo, afinal, era a primeira luta de mulheres na cidade. A luta durou vinte minutos.
Há pouquíssimos detalhes sobre a vida da primeira mulher a vencer uma luta registrada de boxe. Não há informações sobre sua infância ou família, por exemplo, pois Wilkinson só se tornou uma figura pública ao começar a treinar em uma academia de boxe fundada em Londres em 1714. Foi em um torneio interno desta academia que ela se tornou a primeira campeã de uma competição de boxe feminino e ganhou o apelido de "Invencível campeã da cidade".
Historiadores teorizam que o sobrenome Wilkinson tenha sido um "nome artístico" inspirado em um notório criminoso londrino da época, que acabaria executado por seus crimes anos depois. Era uma tentativa de Elizabeth de botar medo nas boxeadoras adversárias, mas seu nome de batismo ainda hoje é um mistério.
Elizabeth Wilkinson provavelmente foi casada com James Stokes, um pugilista e promotor de lutas, o que explicaria algumas referências a seu nome como "Elizabeth Stokes". Os dois foram várias vezes desafiados em dupla, em um evento casado em uma única noite: o desafiante enfrentava Stokes, a mulher lutava com Wilkinson.
Ela lutou durante seis anos, em uma época em que ainda não se usava luvas no boxe, e desapareceu de qualquer registro histórico em 1728. Ninguém sabe o motivo de sua aposentadoria, nem o que ela fez depois de deixar o ringue ou como morreu.
"A vida de Wilkinson, como registrada nos documentos que sobreviveram ao tempo, foi uma breve e gloriosa série de momentos no ringue que vieram do nada e rapidamente retornaram ao desconhecido", escreve o pesquisador e professor norte-americano Christopher Thrasher em um artigo sobre a pugilista, publicado em 2012 (e disponível apenas em inglês).
Nos 300 anos desde o desafio de Wilkinson, o boxe feminino esteve silenciado por quase todo este período. Uma lei de 1880 proibiu as mulheres de lutar por mais de um século e só caiu nos Anos 1990, após a preliminar de uma disputa de cinturão mundial de Mike Tyson chocar o mundo (Christy Martin e Deirdre Gogart eram as pugilistas). A modalidade foi incluída nos Jogos Olímpicos em Londres-2012.
Como era o mundo na época
A Londres de 300 anos atrás era praticamente um outro mundo, naturalmente. O recém-unificado Reino Unido controlava colônias espalhadas pelo mundo, incluindo a Costa Leste dos Estados Unidos. A epidemia da época havia sido de peste bubônica (a Grande Peste de Marselha, na França, de 1720-21), e a guerra em voga era entre Rússia e Pérsia (a Campanha Persa de Pedro, o Grande, de 1722-23). Piano e termômetro de mercúrio eram invenções recentes; o compositor Johann Sebastian Bach e o cientista Isaac Newton eram vivos.
Neste cenário, o boxe era um dos esportes mais difundidos da Europa. A modalidade já havia sido parte das Olimpíadas da Grécia Antiga, adaptada pelos gladiadores no Império Romano e ressurgido no Reino Unido no Século XVII. Aí entra Elizabeth Wilkinson.
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