Ela enfrentou machismo e hoje é a única mulher engenheira-chefe da Indy 500
A americana Cara Adams é a única mulher engenheira-chefe da Fórmula Indy 500. Diretora de Engenharia e Produção de Pneus para a Bridgestone Américas desde 2019, ela viveu inúmeras situações sexistas e foi desencorajada até pela própria cunhada a seguir carreira na produção automobilística.
Cara é responsável pelo design, desenvolvimento e suporte na pista dos pneus utilizados na Indy. Isso significa que sua equipe está em todos os boxes das corridas. Em entrevista ao UOL Esporte, a engenheira relembra os sonhos de infância e detalha como eles se desenvolveram até que ela se tornasse a única mulher chefe da categoria.
A paixão pelo automobilismo começou na Universidade de Akron, nos Estados Unidos, onde Cara cursava engenharia. Lá, desenvolveu pela primeira vez um protótipo de carro de Fórmula. O feito foi parte da Fórmula SAE, competição estudantil cujo intuito é reunir estudantes para criar um veículo -desde o projeto até a construção.
"Minha mãe era professora de ciências e meu pai, professor de espanhol. Com ela, aprendi muito sobre projetos científicos, e me interessei por eles desde cedo. Quando criança, meu sonho era ser uma cientista-astronauta-bailarina", relembra a engenheira.
Quando começou a trabalhar no carro de corrida na faculdade, ficou claro para Cara que o futuro dela seria no automobilismo. "Então, participei de processos seletivos de empresas com experiência em corridas. Fui contratada pela Bridgestone, onde comecei trabalhando como especialista em ruído, vibração e aspereza. Eu trabalhava resolvendo problemas de pneus de carros novos", conta.
"Só que eu era muito apaixonada por automobilismo. Um dia, encontrei o gerente da equipe de corridas e disse a ele que meu sonho era trabalhar naquele grupo. Perguntei a ele quais habilidades um engenheiro precisava ter para se adequar ao que ele buscava. Então, quando ele me contou, comprei vários livros e estudei muito. Fazia várias anotações, tudo para que conseguisse o tão sonhado espaço na equipe de corridas. Meu objetivo era garantir que eles não teriam escolha senão me contratar. Consegui."
Cara foi desencorajada um monte de vezes a seguir firme no sonho. Até mesmo pela cunhada, que "disse que eu não estaria apta para me tornar engenheira".
"Hoje, sou líder de vários homens engenheiros. Como gerente, até hoje passo por situações machistas. Já vivi de tudo: desde pessoas desacreditando quando eu revelava minha profissão até não ser levada a sério. Mas não me importo. Quero ser um exemplo para as próximas gerações de mulheres engenheiras", diz.
Sim, eu tenho, e mais como gerente de jovens engenheiros. Já tive de tudo, desde pessoas não acreditando que eu era engenheiro, recebendo tapinhas na cabeça e ouvindo todo tipo de coisa. Eu gosto de focar no positivo e tentar ser um exemplo para a próxima geração.
Apesar da posição de destaque, há momentos de dificuldade na carreira de Cara. Para ela, o pior deles é quando pilotos se machucam, já que a equipe acaba criando bastante proximidade com eles. "São como parte da nossa família, então é angustiante. Mas a melhor parte também vem deles: quando confiam em nossos pneus e, sobre eles, alcançam velocidades superiores a 386 quilômetros por hora. É gratificante ver minha equipe ser reconhecida por um trabalho bem feito".
Para Cara, uma líder mulher sabe reconhecer a importância da diversidade. Além de chefiar outras garotas, ela é madrasta de uma menina de 12 anos, filha de seu marido. Líder em casa e no trabalho, a engenheira afirma que a família é sua prioridade, e que por maior que seja o amor ao trabalho, ela não a troca por nada.
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